segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Receita para felicidade

Em mais uma época de fim de ano aqui na minha região, o litoral, fica claro a receita para a felicidade dos paulistanos (não apenas eles claro):

- se endivide com carros caros (quem sabe compense a sua insegurança e finalmente role algum sexo);
- obrigue os outros a ouvirem sons que você gosta (mesmo sendo crime e, em geral, você tendo mau gosto);
- grite e gragalhe alto (como se felicidade não fosse algo pessoal, íntimo e temporário);
- use a grande criatividade culinária de prato único: churrasco;
- vá de sunga/canga para o supermercado obrigando os outros a olharem esse show de horrores;
- beba muito e pratique a inconveniência;
- jogue lixo em todo lugar;
- faça todo tipo de bandalheiras no trânsito;
- vá sempre para os mesmos lugares nas mesmas épocas fazendo com que a locomoção fique insuportável como em sua terra de origem;
- tire fotos ridículas para expôr sua vida patética nas redes sociais, faça marketing de "felicidade" pessoal desesperadamente;
- por fim, volte para o lugar inferno onde vive, lambendo o saco do chefe e sendo o mauricinho reprimido de sempre.



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mais metal

Conheci a Metallica em 1988, a década da explosão do Metal.
Ride the Lightning e Master of Pupets eram muito pauleira até mesmo pra quem era adorador de Iron Maiden e Judas Priest.
Mas o som era cativante, excelente e um marco para o Metal.

Em 8 de dezembro a banda Metallica bateu um recorde ao tocar em 7 continentes em um mesmo ano.
O show foi num pequeno domo para pesquisadores e fãs, sob o patrocínio da Coca-Cola.

De certa maneira remete a um Pink Floyd Live at Pompeii de 1972, esse mais intimista e menos comercial evidentemente.

De qualquer maneira tá aí no YouTube.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Tá na hora do dominó

Com 70 anos você poderia pensar em jogar botcha ou dominó, como atividades mais radicais possíveis, ou ainda, tricotar ou bordar toalhas como criações mais ousadas que se permite na idade.

Ian Anderson (Jethro Tull) uma vez fez um música quando leu de um jornalista (esses tipinhos recém formados que se acham) que eles estariam muito velhos para o rock'n roll.
Fui em 3 ou 4 shows deles e sempre foram estupendos, num deles sairam de cadeira de rodas e macas cantando "Too old to rock'n roll".

Sr Lemmy Kilmeister, com 67 anos, e seus 'comparsas' do Motorhëad lançaram há pouco seu novo trabalho: After Shock.





Ando sem vontade de escrever aqui e o grande Lemmy me motivou a postar algo.

O disco é estupendo, com músicas cruas e diretas no velho estilo Motorhëad das antigas, mas com grandes blues 'esfumaçados, roucos e melancólicos' e hardrock's entusiasmantes que me deram esperança na pobre música atual.

Ainda estou me adaptando com certas impossibilidades que a idade traz. Pode ser comigo ou com todos os que passam por isso.
Esse que vos escreve sabe que ser marombeiro com artrose degenerativa nos dois ombros e protusão em dois discos da coluna não dá mais, e é fácil para os outros dizerem discursos babacas de como a velhice traz coisas boas.

Essa é minha fase ruim. Como largar o meu 'construtor de couraça', meu antidepressivo natural e meu grande meio de contato com o mundo externo?
Tem um tempo pra digerir. Um luto necessário.
Não tenho infelicidade nisso, mas não sou hipócrita nem 'poliana' pra dizer que é bom envelhecer.
E como eu sempre digo, não há opção para isso. Viver é uma ditadura ou você está vivo ou não existe.

O grande Lemmy me fornece alguma luz nesse túnel escuro. Uma luz meio tropega já que ele é um alcoólatra contumaz, mas mais consistente que o brilho ofuscante e passageiro de uma diva pop ou um new sertanejo qualquer.

Existem críticas mais complexas ao referido álbum, é só procurar.
Aqui consta apenas uma sucinta e nada imparcial crítica de um velho headbanger.

Anglicismo e frase feita concordo, mas como diriam outros velhos admiráveis (ACDC), "for those about rock, we salute you".






domingo, 22 de setembro de 2013

Eco-bobagens de novo

Eu já postei sobre as besteiras a cerca da sustentabilidade.
Tem uma lista de bobagens que dariam livros. Etanol como combustível ecologicamente correto, ser vegetariano e várias outras.

Sustentabilidade já virou uma palavra irritante e, acima de tudo, virou mais um apelo ao consumo.
Tudo o que entra nesse patamar perde a racionalidade.

Estava estudando colocar um reservatório de água da chuva em casa. Nada de eco-bláblábla mas sim uma alternativa econômica para redução de custos fixos, minha diretriz básica de vida ou de todos os que querem o sossego de uma vida low profile.

Bom, um reservatório de 5000 litros (5m³) mais barato se encontra na casa de R$ 1300,00 fora tubos, conexões e suporte (a sua base), sem considerar a mão-de-obra que seria minha.
Em casa somo um casal apenas e gastamos cerca de 8 m³ de água por mês (temos jardim grande e quintal idem) o que nos enquadra no valor mínimo, ou seja, pago R$ 16,31 como taxa fixa, valor cobrado até os 10m³.

Portanto, com cisterna ou não pagarei a mesma coisa, ou seja, é uma besteira eu fazer isso, aliás, até lavar a louça ou fazer a barba com a torneira fechada também.
A nossa contribuição ambiental é pífia e ainda por cima nem estímulo econômico temos.
Mais uma vez parece ser a máxima do status e do discurso vazio de como "sou ecológico pois separo as latinhas e compro coisas eco-qualquer coisa".


Mas ok, se você tiver uma família maior, supondo 4 pessoas, é possível um gasto dobrado (aproximadamente 16m³). Mesmo assim, você só conseguiria economizar o excedente, ou seja, R$ 27,36 (6 x R$ 2,28 x 2 pois o esgoto é cobrado junto).

Gastando em torno de R$ 1500,00 em um reservatório de 5m³ (o que é uma estimativa bastante otimista e econômica), demoraria 54 meses para pagar o investimento, ou, arredondando, 5 anos.

É de se pensar se vale mesmo a pena.

Se você acha que não 'penso na natureza' ou qualquer discurso trôpego do gênero, é melhor você avaliar a sua própria vida pois possivelmente você é apenas um hipócrita.

Sendo muito otimista, essas são suas marcas no mundo, em dois episódios:



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Dawkins again

Continuo a gostar do approach de Richard Dawkins.
Não vejo outra forma de nós (os ateus e céticos) defendermos e exigirmos tolerância e respeito, 'marcando território' claramente, afinal, quando se ouve sobre religião sempre fala-se em respeito, mas quando falamos em "não-religião" isso é "radical".


"O cientista britânico Richard Dawkins não se deu por satisfeito em vender mais de 1 milhão de exemplares de um livro contra a crença em seres divinos. Ele agora aponta sua artilharia contra o que considera superstições e pseudociência: da astrologia à mediunidade, da homeopatia ao tarô. O novo ataque do conceituado biólogo da Universidade de Oxford é o documentário 'Os inimigos da razão'.


Parte de um esforço (que muitos acham inútil) de desmontar as crenças e superstições que ele considera totalmente desprovidas de fundamento e provas, mas que convencem o público em vários países. Há duas formas de olhar o mundo – através da fé e superstição ou através do rigor da lógica, observação e evidência, por outras palavras, através da razão. A razão e o respeito pelas evidências são preciosas para a fonte do progresso humano e a nossa salvaguarda contra fundamentalistas e aqueles que lucram pela deturpação da verdade."
 

A raiz de todo o mal - Parte 1: Slaves to superstition (47 min)


A raiz de todo o mal - Parte 2: The irrational health service (48 min)




quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Epicuro e a felicidade.


Epicuro e a felicidade.
O PVL (Projeto Vida Longa) é mais antigo do que se pensa...

Muitos argumentam ou pensam de maneira subliminar em "custo/benefício", "bom negócio", "eu realmente uso", etc. As desculpas pras tolices adquiridas. Se vc for um desses algo vai feder durante a exibição.

Na segunda metade mais o menos, algum dos motivos de eu, assim como Epicuro (por motivos óbvios) não crermos em amizades/amores remotos (aqui parodiando Raul Seixas) e essas ridículas redes (nada) sociais.

Mas claro, isso é a síntese da síntese. É melhor assistir.

Enfatizo também que independente de Deus, espíritos que ascendem, Isis, saci-pererê, ou qualquer coisa semelhante, a racionalidade nos mostra que a única evidência que temos é que essa é a única vida que dispomos. Uma bala na agulha apenas.
Você vai gastá-la com o que?


Apenas 24 minutos muito bem aplicados.

Para ler: A carta a Maneceu (carta sobre a felicidade)https://abdet.com.br/site/wp-content/uploads/2014/11/Carta-Sobre-a-Felicidade.pdf.












sexta-feira, 12 de julho de 2013

Bolhas e os bolhas

Há poucas semanas fiz meu calvário de subir a serra e visitar a insanidade.
Motivos de sobrevivência. O trabalho estava lá e quando ele me requisita assim pouco eu acho tolerável.

No retorno, quando estou tonto com tanta gente infeliz e raivosa, tanto barulho e fumaça e já num estado de desespero para voltar para minha nova cidadezinha, passo pelo corredor ABD para pegar a rodovia dos Imigrantes sentido litoral.

O corredor ABD é uma avenida que interliga Diadema, São Bernardo e Santo André, um lugar que sempre foi horrível e atualmente está horrível e intransitável.
No meio do trajeto, absorto em milhares de pensamentos, me vejo no meio de uma nuvem de bolhas.
A sensação era que eu estava dentro dos meus mais malucos sonhos, dentro de um carro, no caos urbano em meio a bolinhas de sabão.



Nesta viagem alucinante nada como ouvir Obscured by Clouds do Pink Floyd pra coisa ficar mais delirante. Dispensa LSD.
De repente um outdoor imenso surge no meio da nuvem de bolhas: "Flex Imigrantes, sua vida começa aqui".
Definitivamente achei que estava delirando e deixei de lado a garrafa de água mineral achando que ela pudesse ser transgênica (nada mais surreal que água transgênica, mas...).

Bom, as bolinhas vinham de uma vendedora ambulante que as fazia freneticamente num farol, e o outdoor estava a beira do empreendimento no corredor ABD.
Um conjunto habitacional "new COHAB" (versão classe média que há pouco tempo nem subempregados teriam vontade de adquirir), com 'amplos' 54m² (os grandes) e inacreditáveis 3 dormitórios e a tal varanda gourmet nesse espaço 'colossal'.



Sinceramente, nem em 100m² é razoável colocar 3 dormitórios. Talvez pros Umpalompas.
"Sua vida começa aqui" me parecia mais uma ameaça.

Um amigo meu atirou um: "Nós quase nem ficamos em casa, então aqui tá bom."
Isso porque ele era um vizinho num ap de setenta e poucos metros e dois dormitórios, o que pros padrões atuais devemos considerar bom.



Passado esse susto, refleti que quem estava viajando eram esses coitados que "começam a vida aí" e acabam em lugar pior e comum a todos, aqueles fatídicos 2m² a sete palmos do chão.
Passar a vida trabalhando e em locomoção para o trabalho, com deliciosos finais de semana em filas para achar vaga num shopping center e com eventuais "maravilhosas visitas a Disney", virou desculpa para dormir num buraco em lugar abominável.

Não me parece ser uma vida boa por mais que tente se argumentar a respeito da própria escolha.
Tudo isso não me parece valer as bugigangas inúteis que tais indivíduos adquirem para compensar essa maravilha de dia-a-dia, onde a patológica mania do Facebook e demais redes (anti)sociais em todo lugar parecem ser aqueles implantes de memória de filmes de ficção, onde o usuário busca se livrar momentaneamente da opressão do cotidiano.

Minha sogra, no Itaim, não escapa disso. Agora lá existe também o trânsito de helicópteros.
E o medo de abrir mão custa a vida de todos.

Passeatas? Manifestações?
Bacana, mas dêem a esses moleques um 'carguinho na IBM' e um carrinho reluzente que a rebeldia acaba.
E por tão pouco.

Tenho muitos amigos que eram hippies, alternativos, engajados, etc, que ao alcançarem o tal 'sucesso' (essa vida 'boa' descrita a pouco adquirida pelos emergentes do milagre econômico brasileiro), o que restou foram apenas discursos reacionários, conformados e cheios de medos. Sendo claro, de gente bundona e desprezível.

Ninguém quer abrir mão de nada.
Nada muda assim.
E viva os iPads, Tablets, motores x.0, Prozac, TV's finas, GPS's, Rivotril e tudo mais que puder apaziguar um pouco essas almas empedernidas.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A vingaça dos velhos headbangers - Lado B

Meu post anterior me fez pensar mais sobre o fato de termos (os velhos headbangers) virado um clássico.
O rock'n roll surgiu nos anos 50 como evolução (leia-se adaptação/reação a um momento histórico) do blues e foi também o nascimento de uma ruptura, onde "a música dos filhos é uma e a dos pais é outra".

A longevidade e a qualidade do Metal curiosamente trouxe o rock de volta a toda família. Como disse Alice Cooper, um dos precursores do Shock Metal, "agora eu sou um entreteinimento familiar e os avós vem com os netos nos meus shows".

Por que viramos um clássico?
Bom, não tenho a pretensão de fazer um tratado histórico-cultural acadêmico sobre o tema, mas resumir a evolução dessa música e trazer alguns elementos que a fizeram perdurar décadas e a forjar (bom termo pro assunto! rs) seu lugar na história da boa música.

Os principais pais do rock são Chuck Berry, Bo Diddley e Little Richard, tendo os expoentes brancos muito mais papel na sua divulgação/propagação do que propriamente na música (o nascimento em si, não negando contribuições musicais importantes), cito principalmente Elvis Presley, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly e Roy Orbison.

Sua evolução notadamente originada do rhythm and blues (lembrando que o termo R&B norte americano designa algo diferente do R&B britânico) a torna uma música de origem negra (usem a palavra politicamente correta que quiserem), ou seja, uma black music.
Segundo o próprio Little Richard, basicamente adicionou-se o boogie-woogie ao blues
Ray Manzarek (The Doors) diz: "Se não fossem os negros norte-americanos estaríamos fazendo minueto e dançando na ponta dos dedos".

A distorção nas guitarras apareceu com Jeckie Brenston and the Delta Cats, quando o produtor San Philips decidiu usar o som de um alto-falante rachado durante a gravação no amplificador da guitarra, em Memphis, Tennessee, 1951.
Em Londres na década de 60, quando altos volumes (e aí devemos citar Jim Marshall, fundador da Marshall Amplifiers), a distorção e os demais elementos do rock'n roll foram misturados e 'acelerados', assim como influências diretas do blues e do jazz foram integrados criou-se o hard rock, onde destaco The Kinks, The Who e claro, a "Santíssima Trindade do Rock": Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath.

Enquanto isso nos EUA, Jimmy Hendrix levou a guitarra a caminhos nunca trilhados e expandiu o horizonte musical desse instrumento, sendo que o mesmo foi levado a incríveis velocidades através, principalmente, de Dick Dale, da surf music.
O garage rock americano contribui com a expontaniedade e a agressividade bad boy, onde destaco Ted Nuggent, Steppenwolf, MC5 e Blue Cheer. 

Em 70, as tours, que começaram por absoluta falta de dinheiro pra gravar um disco, não aceitação das gravadoras e (in)visibilidade nas rádios, ficaram famosas com o Kiss. Porém, no fim dessa década a (porcaria da) música disco invadiu os EUA e quase arruinou com o rock de lá.

O Big Rock (definição dos próprios) do Van Halen apareceu ainda na década de 70 pra resistir ao disco no EUA.

Voltando ao outro lado do Atlântico, em 70 o R&B e o Hard Rock britânico estavam em alta e sem dúvida, a "Santíssima Trindade do Rock", em especial o Black Sabbath, "pariram" o Heavy Metal.

O Led Zeppelin era a banda de R&B mais "pesada", com a guitarra distorcida de Jimmy Page, o front man estiloso Robert Plant e seus fortes elementos de blues e folk.
O Deep Purple trouxe grande qualidade musical com os riffs lendários de Ritchie Blackmore, a bateria pesada e rápida de Ian Pace e claro, a erudita influência dos teclados de Jon Lord, associados aos grandes letristas Ian Gillan e Roger Glover.

Mas foi o Black Sabbath, com os tons jazzísticos de Geezer Buttler e  Bill Ward, o vocal perturbado de Ozzy Osbourne, as experimentações clássicas da pesada guitarra de Tonny Iommi (a clássica música "Black Sabbath" foi inspirada em Mars, de Gustav Holst), o tom sinistro e o visual sombrio, que foi o pai, ou pelo menos o padrinho do heavy metal.
O ambiente sombrio, opressor e pobre de Birmingham foi o berço e evidentemente a influência do que alguns chamam, indo além da paternidade, de a primeira banda de heavy metal do mundo.

Rainbow, ACDC, Rush, Van Halen e várias outras bandas firmariam o heavy metal como estilo musical, mas foi o Judas Priest que consolidou o que seria o heavy metal moderno, com as roupas de couro preta, o abandono definitivo do blues de 12 compassos e usando 2 guitarristas em perfeita simbiose.

Depois da onda punk no final da década de 70 atrapalhar o metal (o punk sempre foi mais um movimento social do que propriamente um estilo musical, sendo que os próprios punks assumem que os 'metaleiros' é que faziam música), uma nova geração de metaleiros estourou no mundo todo no início dos anos 80, fazendo com que o heavy metal virasse um fenômeno mundial, sendo essa onda conhecida como "New Wave of British Heavy Metal", destacando-se aí o Iron Maiden (acredito eu, a maior banda de heavy metal do mundo. up the irons!*), Saxon, Motorhead e Def Leppard.

Até hoje com alguns pequenos sustos - porcarias mesmo - como o Glam Metal (ainda nos 80) e a maior parte do Nu Metal (talvez Sepultura seja a única coisa a ser mencionada) e do Grunge, o heavy metal e suas vertentes se estabeleceram como uma forma clássica de música e até mesmo, como movimento cultural e social.

Não entendeu ainda?
Vá ouvir com paciência até aprender.

Se você perceber o virtuosismo de Niccolo Paganini em Eddie Van Halen (Van Halen) e Yngie Malmsteen por exemplo, não é mera coincidência.

Se você notar a teatralidade e o alcance vocal do Pavarotti em Rob Halford (Judas Priest), Bruce Dickinson (Iron Maiden) e Geoff Tate (ex-Queensryche) por exemplo, não é mera coincidência.

Se você achar Richard Wagner ou Gustav Holst em Black Sabbath, não é mera coincidência.

Se você viajar para a idade média com Ritchie Blackmore (Rainbow) por exemplo, não é mera coincidência.

Se você sentir Howlin' Wolf em James Hattfield (Metallica) não é mera coincidência.

Se você ouvir Robert Johnson em Led Zeppelin por exemplo, não é mera coincidência.

Se você for atingido por Buddy Rich através de Dave Lombardo (ex-Slayer) por exemplo, não é mera coincidência.

Se você tiver alguma alucinação visual com uma ópera ao ouvir Pink Floyd ou Rush por exemplo, não é mera coincidência.

Esses assuntos mereceriam livros. Muita coisa boa foi omitida.
Quis apenas desenrolar um pouco do porque fomos "acusados" de sermos velhos patéticos ouvindo música clássica.




 *up the irons é uma expressão usada pelos fãs e admiradores do Maiden. Uma espécie de grito de guerra, um trocadilho com a tradução da expressão ao pé da letra, o estilo musical e claro, o nome da banda.

sábado, 2 de março de 2013

A vingaça dos velhos headbangers

Há uns dias atrás junto com um velho amigo, relembrava nossa juventude nos anos 80, quando descobrimos o heavy metal.
Era 1983, 12 para 13 anos, quando ele chega com um EP (é um LP pequeno com menos músicas) desconcertantemente agressivo para a época, o Maden Japan do Iron Maiden.
As coisas chegavam por aqui com um ou dois anos de atraso mas fomos arrebatados pela música, estilo e claro, nessa mistura, o contestador e anárquico conteúdo.

Logo depois ele apareceu com o Piece of Mind, também do Iron Maiden, quando juntamos com o British Steel do Judas Priest de outro amigo, o Gratest Hits do Queen (ok, não é metal, mas como diz a música, "os metaleiros também amam" - e como podemos ver, tem senso de humor - além disso fazem parte da pré-história do metal) e o Crusader de Saxon meus e por fim, mas sendo só o começo, o Metal Health do Quiot Riot de um outro.

Devorávamos o que aparecia e juntávamos todas os parcos trocados para correr atrás de material novo e se possível importado (as prensagens de bolachão de rock no Brasil eram bastante precarias).
Iron Maiden, Judas Priest e Saxon foram os detonadores, e apartir daí Whitesnake, Van Halen, AC DC, Twisted Sister, Kiss e por aí vai.

Posteriormente esse caldo nos remeteu às origens e as variantes do bom rock e daí foram lotes de Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath, Pink Floyd, Rush, Who, Cream, Secos & Molhados, Jethro Tull, Mutantes, Hendrix, Plebe Rude e zilhões de outras coisas. Claro que jazz e blues mais tarde seriam inevitáveis.

Gravávamos algumas coisas em K7 e levávamos para dentro da sala de aula, mas os "anarquistas" que botavam fogo na lanchonete, roubavam pilhas nos mercados e saiam na porrada de vez em quando, no fim, respeitavam bastante os professores, não matavam os pais e nem uns aos outros.

No fim da história, ou melhor, do início pro meio dela, olhando nossos amigos, fomos nós que os professores e diretores mais gostavam e fomos os que, de um jeito ou de outro, criamos algo diferente do padrão pra vida.

O buraco musical dos anos 90 e início dos anos 2000 pareceu enterrar o heavy metal (glam metal e nu metal foram vertentes bastante amaldiçoadas por nós), mas os quarentões não se rendem tão facilmente e influenciando uma nova geração que não sucumbiu as mediocridades das divas e dos astros mauricinhos, resgataram seus heróis e junto com eles uma nova leva de grupos promissores aparecem nos últimos anos.

Como lembra o antropólogo Sam Dunn, a cultura heavy metal continua sendo a cultura dos excluídos.

Outro velho amigo brincou dizendo que somos velhos patéticos ouvindo música clássica.
De fato, nossos ídolos passaram para o "clássico", mas como não deixar de comparar duas ou três gerações que contestavam uma série de coisas para outras cujo máximo da rebeldia é comprar ipod's, usar anel de compromisso e fazer promessas de casamentos puros (sim, virgens!)?!

Fico feliz em ver que nossas escolhas foram boas o bastante para sobreviver à história. Fico feliz em ter sido um adolescente que descobriu isso bem naquela época.
O nascimento do heavy metal nos subúrbios industriais londrinos e sua adoção quase instantânea na região do ABC paulista, na época, um subúrbio metalúrgico de São Paulo.

É divertido ver em que irmandade se tornou o heavy metal e suas vertentes.
É gostoso ver os sessentões ou setentões cuspindo sangue e voando por cima da platéia ainda ou simplesmente vestindo um jeans e uma camiseta, fazerem uma música consistente e de qualidade, enchendo locais com gente de todas as idades.

Por outro, foi deprimente ver o que algumas bandas se tornaram ao entrar pro mundo dos contratos milionários. É difícil ver alguma dessas bandas manter o espírito do rock e principalmente do heavy.
Dee Snider do Twisted Sister reconheceu que é complicado fazer um som agressivo e de protesto quando se mora numa mansão, o que nos remete a Lacan que diz que a angústia é a única fonte de criação.

Seja como for, parodiando o pequeno-grande Ronnie James Dio (aliás o inventor do tal símbolo "manual" do heavy metal), "long live rock'n roll"!

E que meus amigos não fiquem surdos nem com cirrose para podermos celebrar etilicamente, mesmo que em cadeiras de rodas e com fraldões geriátricos, o bom e velho metal.

Up the irons!!








sábado, 23 de fevereiro de 2013

Justiça brasileira é "Noticias Populares"

O julgamento de Gil Rugai foi ridículo, uma sucessão de erros e coisas suspeitas.
Esse país talvez seja o único dentre as chamadas democracias ocidentais onde o sujeito tem que provar que é inocente ao invés do conjunto polícia investigativa e técnica forense fazerem o contrário.

Não afirmo que Gil Rugai seja inocente ou culpado, mas sim que em nenhum tribunal descente ele seria condenado.

Provas circunstanciais, evidencias que somem, delegado que força um depoimento, DHPP que coloca fogo na guarita de uma testemunha, principal testemunha que se contradiz várias vezes, possibilidade do pai do acusado ter sido eliminado por queima de arquivo (a alguns indícios de seu envolvimento com tráfico de drogas e seu conhecimento de desvio da mesma por policiais), etc.

Enfim, para condenarmos alguém basta apelar ao juízo deturpado do público, contar com "jornalistas" do calibre de José Luiz Datena e Marcelo Rezende e levar a juri popular. Pronto, após o linchamento moral é só aguardar a condenação.

Não posso crer que não se anule esse julgamento no supremo. Seria a gota d'água para, de fato, não se confiar minimamente nesta "justiça".

Reze para nenhuma criancinha desmiolada não falar pros pais que você a bolinou, pois mesmo uma acusação falsa dá um ótimo Ibope, mas já não podemos dizer o mesmo quando se absolve alguém. Lembram do caso da Escola Base?

E ainda existe gente que defende a pena de morte.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A ciência hoje

Marcelo Gleiser hoje, para mim, pode ser a síntese da ciência moderna.
Um bom exemplo do que a ciência estuda, de como ela realiza esses estudos, de como ela está relacionada com a vida cotidiana e com as outras áreas do conhecimento humano.

Usa nobremente o seu recém adquirido status de pop star brasileiro (apresentou programas de TV, ministrou palestras, autor de best sellers, professor universitário e cientista respeitado) para divulgar, entre outras coisas, a ciência moderna, a necessidade de investimento público em educação (ele cobra dos colegas cientistas essa postura e já foi ao senado) e a necessidade de se cuidar do planeta.

É acessível, didático e carismático, um verdadeiro discípulo do Carl Sagan.

Nesses vídeos ele apresenta as inovações da ciência moderna, quebra os paradigmas nacionais sobre a educação norte-americana (eu não sabia, mas a universidade americana é mais ou menos o que eu defendia de modelo aqui no Brasil), demonstra a importância da física teórica para o cotidiano e tenta responder aos anseios teístas do lugar de Deus na vida.

Gosto de seu posicionamento a perguntas típicas. Por exemplo, sem meias palavras ele diz: não há necessidade de um criador para o universo e as probabilidades da existência de vida inteligente fora da Terra são quase desprezíveis (importante citar que ele defende que para a vida, a inteligência não é essencial e muito menos de alguma forma é importante).

No programa da Marília Gabriela:




E na Band em 5 partes:




Estou ansioso pelo seu novo livro, que parece tratar de um assunto que me interessa muito, o que é a realidade, como construímos a realidade e como ela pode ser construída por outros seres vivos.

Alguns dizem que a ciência é uma religião.
Sob certo aspecto pode ser, mas não conheço nenhum físico que tenha defendido a fusão a frio tenha feito um atentado a bomba a outro grupo que o desqualificava, nunca ouvi falar de universidades que foram a luta armada por posições divergentes e desconheço alguma religião que assuma a impossibilidade de verdades absolutas e muito menos de conhecimentos acumulativos.

Mas se quiserem assim a definir, sim, até que me demonstrem uma mais adequada esta é a minha "religião".

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Depressão como mal contemporâneo

Segue sugestão de um excelente texto acadêmico (ebook de Leandro Anselmo Todesqui Tavares) que, mais do que sobre depressão, trata do indivíduo na sociedade pós-moderna.
Uma síntese da perversidão que o modelo monetarista-mercantil aliado à 'sociedade espetáculo' trouxeram a individuos 'ajustados' ou não.

"A realização de pequenos e fugazes prazeres (sempre que possíveis) torna-se um ímpeto aos indivíduos, e ao contrário do que se poderia pensar, presenteia-os com sensações eternas de tédio, insatisfação e 'mal estar' típicos de nossa atualidade."

A "facebookização" dos relacionamentos (a "Sociedade Espetáculo" de Guy Debórd) é muito bem sintetizada.

"No início do capitalismo, a dialética subjetiva dos indivíduos consistia em uma degradação do ser para o ter. O sucesso naquele momento específico, bem como as realizações e conquistas satisfatórias para o ego, dependia de quanto poderia acumular-se em bens e dinheiro. Ter posses que representassem sua riqueza capital era o que movia os indivíduos em termos de dinâmicas subjetivas na sociabilidade daquela época, enquanto hoje em dia, ter já não representa muito se isto de fato não servir para a aparição diante do cenário espetacular. Temos então, na atualidade, um deslizamento do ter para o parecer  ou (a)parecer diante do espaço social e, neste sentido, toda realidade individual torna-se social." 

"O desvanecimento das habilidades de sociabilidade é reforçado e acelerado pela tendência, inspirada no estilo de vida consumista dominante, a tratar os outros seres humanos como objetos, pelo volume de prazer que provavelmente oferecem e em termos de seu 'valor monetário'. Nesse processo, os valores intrínsecos dos outros seres humanos singulares (e assim também a preocupação com eles por si mesmos, e por essa singularidade) estão quase desaparecendo de vista. A solidariedade humana é a primeira baixa causada pelo triunfo do mercado consumidor." (Bauman - 2004)

Da medicalização excessiva:

"Os psicofármacos, pelo enorme efeito antidepressivo e tranquilizante, visam a transformar esses miseráveis sofredores em seres efetivos da sociedade espetáculo. Com isso, silenciam-se as cavilações pesadas e as ruminações 'excessivamente' interiorizadas dos deprimidos, e eles são transformados em seres 'legais' do universo espetacular."

Traduz bem porque o Coisa não acredita mais, de maneira geral, em amizade:

"Predominantemente, as relações estabelecidas pela lógica consumista, que evidenciam o individualismo em nossa cultura narcisista, acabam, por fim, tornando o exercício da sociabilidade uma condição propícia para a exploração do outro, em relações vazias de sentido e significados cujos vínculos são, na maioria das vezes, frágeis, supérfluos e meramente ocasionais."

Pincela a violência em nossa época:

"O sujeito contemporâneo personifica de forma caricaturada a verdadeira representação de um 'homem-bomba', em um sentido subjetivo que em sua relação empobrecida com o outro pode, enfim, concretizar variadas práticas de violência no que diz respeito aos seus envolvimentos sociais"

"Os destinos do desejo assumem, pois, uma direção marcadamente exibicionista e autocentrada, na qual o horizonte intersubjetivo se encontra esvaziado e desinvestido das trocas inter-humanas. Esse é o trágico cenário para  aimlosão e a explosão da ciolência que marcam a atualidade" (Birman - 2001)

"É na defesa contra o sofrimento e o desprazer que habita o próprio sofrimento e 'mal-estar' em si." (Freud - 1930)



Ou acesse: http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=106