segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Extravase se sentir necessidade

Dia 31 de dezembro, um dia como outro qualquer transformado em um transbordamento de felicidade histérica.
Fogos, promessas, brindes, gritaria e aquele desespero por ser feliz.

As pessoas no geral tem um ano tão abominável e cheio de frustrações que querem se livrar dele rapidamente e esperar pelo novo ano, como se o novo fosse de fato novo.

Uma eterna repetição de uma vida medíocre de trabalho e compensação (chame de consumo se quiser). Uma rotina de parecer o que não é e corresponder às expectativas dos outros.
O infinito processo da não vida, na esperança de que outro ano ou até mesmo outra vida compense a atual.

Gritem bastante, gargalhem alto, aumentem o som do player, soltem fogos e infernizem a vida dos que desejam apenas a serenidade do dia a dia que vocês não tem, mas por favor retornem logo para banalidade de suas vidas rápido e deixem a minha cidade assim que seus trabalhos desprezíveis o requisitem, já com um belo engarrafamento pra mostrar que nada mudou.



sábado, 1 de dezembro de 2012

Um dia de 48 horas

Antes de mais nada devo avisar que essa é uma história real, sem teatralidades ou exageros, mas sim, é digna de um roteiro do Mr Hullot.

Nesta quinta-feira dia 29/11 fiz minha habitual penitência de subir a serra e ir pra sampa (ABC, mas considero a mesma porcaria).
Sai contrariado e infeliz da minha bela casa, na minha bela e tranquila cidade litorânea para o inferno, com o objetivo de cumprir uma pequena obrigação de trabalho.

Minha 'patroinha' foi junto, pois depois da visita ao meu cliente iríamos visitar sua mãe, ou seja, minha sogra. Os problemas já começariam aí.

Já no ap chique (impossível um ap ser considerado um lar, pois mesmo com 1000m² é sempre um gaveteiro de gente tamanho família) da minha sogra, a 'patroinha' chega trazendo uma amiga. Mais tarde eu saberia que ela faria o favor de levá-la pra casa.
Um pequeno adendo: "ela levaria" significa "eu levaria", uma espécie de favor terceirizado. Outro detalhe é que minha sogra mora no Itaim, o que facilmente - dentro do que se considera fácil em São Paulo - me faria pegar a rodovia dos Imigrantes e voltar alegremente para casa, mas sua amiga mora em Santo André completamente fora do caminho de retorno.

Bem, após momentos tensos entre mãe, filha e irmã - minha esposa desequilibrada e sua família pior ainda  (meu próximo casamento se houver será com um homem) - resolvemos pedir uma pizza, o tradicional cachimbo de paz paulistano.
Sendo minha sogra moradora dos Jardins, Itaim, etc, sabemos das porcarias elitistas, fúteis e meramente de cunho simbólico (status) dos quais esse povo gosta, mas como estávamos na casa dela pagaríamos a conta como gentileza.

Resultado: uma pizza de muzarela e uma de calabresa - sim desses simples mesmo - por módicos CENTO E TRINTA E SEIS REAIS. Não, você não leu errado: R$ 136,00.
O local da extorsão foi a pizzaria Camelô (trocadilho - é Camelo).

Já havia ido lá antes e sei que a pizza é um lixo (digna dos bons classe média paulistanos), pequena e parecendo uma bolacha água e sal com queijo (pouco). Fora a frescura do local.

Já refeito do susto graças a um espumante Brut fornecido pela sogra resolvemos 'vazar'.
Vamos destino à Santo André entregar a mala, digo, a amiga da patroa.
Apesar dos km adicionais rodados essa parte transcorreu até sem problemas já que resolvi não entrar na casa dela.

Na volta, na altura de São Vicente, quando minha esposa discursava que eu deveria trocar de carro (eu odeio trocar de carro, sei que parece estranho para a maioria, mas eu odeio todo o processo envolvido nessa coisa medíocre e por fim, eu não ligo a mínima pra este objeto de fetiche e status da maioria dos mortais), e eu argumentava que isso era besteira porque o carro era confiável, caput, o motor apaga sem avisos maiores.

Uma hora ou mais da manhã da sexta-feira na rodovia Pe Manoel da Nóbrega eu vou ao SOS (o ponto de chamada de resgate da Ecovias) e aciono o botão.
Na placa lê-se: "Aperte o botão e aguarde".
A caixa parece um comunicador, inclusive com uma área vazada como se tivesse um alto falante, daí, o tonto que vos escreve resolve tentar falar com a máquina.

Pare de rir. Descobri depois que todo mundo faz isso.
Nada ocorre e acho que a máquina está quebrada já que ninguém "fala" comigo.
Vou até a passarela uns 500 metros a frente enquanto ligo para minha irmã apenas solicitando o telefone da Ecovias, já que não queria incomodar ninguém.

Do outro lado da pista observamos o guincho da Ecovias ao lado do carro. Saímos correndo de volta percebendo que bastava apenas acionar o botão do SOS e aguardar o resgate e não alguém falar alguma coisa.

O motorista gentilmente vai à frente nos pega e retorna de ré pela rodovia.
Ele nos leva até um posto 24 horas e diz que só pode fazer isso.
No posto havia um hotel (daqueles "dá hora") que podíamos ficar até o dia seguinte quando acionaríamos um mecânico.

Resolvo junto com um 'curioso local' (vulgo mecânico) abrir a bagaça. Nessa minha irmã já havia se colocado em trânsito rumo ao local. Peruíbe para São Vicente.
Conhecendo um pouco a coisa (carros não mudam muito desde a sua invenção, uma lata com uma coisa que explode para gerar energia cinética), descubro que é a parte elétrica o problema, uma pequena peça de R$ 18,00.

Já batia 2 horas da manhã, minha irmã que veio com a outra irmã se perdeu no caminho mas já estava conosco, resolvemos ir embora e deixar la machina lá mesmo.

Às 3:30 chego em Peruíbe, meu lar,  e depois de um banho capoto na cama.
Às 9 horas acordo para voltar a minha jornada de volta ao posto onde me encontraria com o 'curioso local' para trocar a peça.

Muito precavido passo numa auto peça e compro o tal item defeituoso para, evidentemente, levar comigo. Para o destino pego emprestado o carro da minha irmã.

Uns 6 ou 7 km antes, num posto policial, fui parado e o policial me avisa que o documento estava vencido. Minha irmãzinha desmiolada esqueceu de licenciar o carro.
O policial preenche a papelada (enquanto contamos a história que devia parecer completamente uma mentira) e nos oferece uns cartões de taxis da região.

Ao ligarmos para dois taxistas eles nos informam que deveria custar entre R$ 50,00 e R$ 70,00 a corrida. Detalhe: como citei anteriormente, o posto policial onde estávamos era 6 ou 7 quilômetros do posto de gasolina onde o carro estava.

Aviso minha irmã que ela deveria seguir para Santos no único Poupa Tempo da baixada santista para tentar retirar a liberação no mesmo dia, e assim evitar correr o risco de 'coisas desagradáveis' acontecerem com o carro no páteo. Ela vai de ônibus pra lá e eu levaria os papéis da apreensão pra lá (sabe-se lá porque motivo tem que estar de posse da proprietária já que eles nem olham).

Minha esposa (mais mão de vaca que eu) e eu resolvemos não pagar nada e ir a pé. Nessa, um motorista de uma seguradora nos ofereceu uma carona, mas o policial se oferece para nos levar lá.
Fomos de viatura para lá. Até que foi a parte divertida.

Chegamos ao posto de gasolina e o carro ainda estava lá e intacto.
Obviamente o 'curioso local' não estava lá (apesar de termos combinado), abro o capô e tchan! A peça não servia.

Fomos a duas lojas no entorno e nada. Tentamos umas oficinas próximas e nada.
Ligo pro tal 'curioso local' e ele diz que já estaria a caminho (nunca apareceu).
Resolvo pegar um busão e ir pro centro de São Vicente.

Subo no busão, vejo um leitor de cartões e pergunto ao motorista se ele aceita dinheiro. Depois de uns 15 ou 20 anos sem pegar busão achava que estávamos no século XXI. Ele me olha como quem vê um marciano e responde que sim.

Peço a ele para me avisar quando estiver próximo a alguma auto peça no centro e ele gentilmente me diz que parará na frente da maior loja de São Vicente.
Sigo em pé claro.
No caminho sobe um idoso e uma moça gentilmente oferece seu lugar ao senhor. Surpresa, já que na capitaR é um "pega pra capa". Nesta novela toda, a única coisa interessante e surpreendente foi que todas as pessoas envolvidas foram muito gentis e solícitas comigo. 

Vaga um lugar e uma moça me diz, sente você que é "grandão".
Agradeço e arrumo comovido meus 1,90m da melhor maneira possível. No caminho ainda ela vai me contando sobre como é melhor pegar um ônibus para o centro, como e onde é o local, etc.

A loja me surpreende. Realmente é imensa, não lembro de ter entrado em alguma do porte em São Paulo (e olha que 40 dos meus quase 43 anos passei lá).
Muito bem atendido pego a peça e volto.
Num carrinho de doces no ponto de ônibus uma senhora gentilmente me informa que era melhor ir a um determinado lugar para pegar uma lotação mais rápido.

Emfim, quase 3 horas depois, estou de volta ao meu carro, coloco a peça e fim de papo. Ou quase.
Alimentado com um "enrolado de presunto e queijo" de uma lanchonete morfética (o desespero nos faz crer ardentemente em nosso sistema imunológico) saímos de lá rumo a Santos.

Santos é uma São Paulo com mar, ou seja, trânsito insuportável, alta densidade demográfica, motoristas neuróticos, mal cheiro, sujeira e um mar em algum lugar que não avistei.
Olha, essa parte da burocracia kafkaniana brasileira vou pular.

Resumindo, sexta-feira, 18 horas e o "Poupa Tempo" libera o carro da minha irmã. Chama "Poupa Tempo" porque ele (quase) poupa um tempo que a própria buRRocracia brasileira faz você perder.

19:00 da sexta-feira em casa. Tudo resolvido. Em termos, já que o carro da minha irmã só sai do páteo (esperamos inteiro e completo como foi) só na segunda-feira.

Diretores e roteiristas de humor que queiram entrar em contato estejam a vontade.