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sábado, 19 de março de 2016

Semana deprimente

Primeiro foi “A grande aposta” ("The big short")... a ficção verdadeira. Quando Hollywood faz uma crítica ao sistema socioeconômico vigente é porque a coisa realmente tá feia. Verdade, fiquei deprimido... mas já tinha visto "Inside jobs" que é um documentário e que também recomendo.
Depois foi “Trumbo” (não sei se é um fato ou é ficção: “Bem, há muitas pessoas raivosas e ignorantes no mundo. Parecem estar se reproduzindo em número recorde.” - Trumbo) e a cruzada irracional contra os "comunistas".
E por fim, um desconhecido (eu) recebe uma ligação da Dell para participar de um programa de “vantagens e recompensas” para os consultores que recomendam a marca. Minha resposta deixou o cidadão momentaneamente mudo (possivelmente não entendeu nada). Apenas lhe disse que por esse tipo de coisa é que eu tinha largado os negócios... as negociatas, o toma lá da cá, as “recompensas”, as “vantagens”, enfim, fazer com que toda e qualquer atividade que gere lucro justifique qualquer imoralidade (legal ou ilegal).

Não se engane: a moralidade e a decência são as atitudes individuais e comezinhas. Todo o resto é decorrência. Como disse o Leandro Karnal, o primeiro registro de corrupção no Brasil foi a carta de Caminha (com o autor pedindo um emprego pro sobrinho ao imperador).

A separação da economia das ciências humanas e por consequência de sua ligação com a moral destruiu a malha social, fazendo com que todos sejam corruptos em pequena ou grande escala, mas para o outro se dá esse nome, corrupcão, para si mesmo se dá o nome de "comissão", "vantagem", "recompensa", "agilidade no negócio", etc.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Extirpando o lugar comum

Os três últimos livros que li foram excepcionais.
Tem os componentes que eu amo, ou seja, os tornam uma boa ferramenta para o desenvolvimento intelectual e os dão credibilidade: são multidisciplinares, utilizam sólida pesquisa e portanto tem extensa bibliografia e, claro, são muito bem escritos e desprezam qualquer explicação simplória e reducionista.

O primeiro foi o do Marcelo Gleiser, "A Ilha do Conhecimento". Dos três o mais fraco. Apesar de ser a área que adoro, a Física, e talvez também por isso, ou seja, já ter lido bastante e estudado sobre o assunto, é que achei que faltou aprofundamento em alguns tópicos que ele estava a propor.
Extenso demais na "revisão" da astronomia e da base da física quântica, acabou pecando por explorar menos a formação da consciência e do conhecimento que era o alvo da obra.
Mas como a física sempre me manteve atento aos limites do senso comum e está aberta (como toda boa ciência) a novas perspectivas sem perder o ceticismo (já dizia o grande Carl Sagan: a pior falha da humanidade é a fé, a maior virtude é a dúvida) seus grandes autores são sempre bem vindos.

O segundo foi o "Demônio da Meia Noite" de Andrew Solomon, um tratado espetacular sobre a depressão que vai muito além do que se espera. Utilizando-se de conhecimentos e pesquisas tanto da psicologia, psiquiatria e neurobiologia, Solomon debulha a mente humana vasculhando as origens (tanto históricas quanto biológicas) da depressão, as contribuições das condições sociais, econômicas e políticas, os tratamentos convencionais e alternativos, as ramificações e questões dos sem teto, violência, suicídio, etc.
Apesar do tema foco, vale muito a pena para todos que gostam de estudar o comportamento humano e a consciência (essa misteriosa entidade cuja fronteira do físico e do metafísico nunca foi bem desvendada), além de derrubar uma série de mitos a respeito da depressão, ansiedade e suicídio.

O terceiro (sobre o qual já postei) foi o "Capital no Século XXI" de Thomas Piketty, um jovem, premiado e conceituado economista francês.
Economia nunca foi algo que me atraiu, muito pela pobreza dos economistas tecnicistas que esquecem que a economia é uma ciência humana e portanto, tratá-la de modo isolado da sociedade e da história faz com que suas obras percam grande parte do sentido.

Resolvi estudar porque somos continuamente bombardeados por manchetes e informações "recortadas" de termos econômicos que achamos serem bons ou ruins, mas que no fim não compreendemos seu significado, fazendo com que assumamos um discurso que não é nosso e muitas vezes nos é prejudicial.

Estou ainda na fase da economia, onde li Stiglitz (Nobel em 2001 - na verdade achei um pouco tedioso, apesar de muito bom, seu "The Price of Inequality"), Krugman (Nobel em 2008 - apenas alguns artigos) e agora comprei dois do Amartya San (economista indiano e Nobel em 1999).
Como tenho pouca referência em economia (meus amigos mais próximos são filósofos, físicos e engenheiros), fui estudar a lista dos laureados pela academia para buscar livros.
Curiosamente, mas não por acaso, notei que a academia mistura a premiação entre " economistas sociais" (os que não esquecem que a economia é uma ciência humana) e os tecnicistas (os economistas reducionistas que se atém à teoria econômica como se ela fosse algo que devesse privilegiar números e não pessoas).

Para mim nada pode se afastar das pessoas. 
A própria Física é mais emocionante do que se pensa e conecta mais as pessoas e o universo do que qualquer religião, pois longe dos dogmas e crendices, nos conecta a um universo como ele é e não como gostaríamos que fosse, ainda que, como lembra Gleiser, esse "é" é uma aproximação sujeita a melhorias e de acordo com a nossa interpretação.

Dito isso, minhas escolhas para estudo da economia são de autores que contemplem a economia inserida num contexto sócio cultural.

Citei esse "apanhado" de informação para ilustrar a importância de estudarmos TUDO mais profundamente, de modo a não cair (ou ao menos tentar) nas soluções simplistas e "manchetes", muitas vezes colocadas de modo tendencioso ou simplesmente incompetente. Veja, a versão de lê-las nas vitrines das bancas e de ler as "orelhas" de livros foram substituídas pelo Google, Wikipedia e afins

Vamos observar alguns discursos simplórios comuns:

  •  "O dólar subiu" como algo ruim. Por que? O equilíbrio entre os gastos com insumos balizados pelo dólar, a queda dos preços dos produtos nacionais no mercado externo (aumento das exportações) e o aumento de gastos de estrangeiros no país são de uma dinâmica grande para simplesmente se colocar esse fato como ruim. Apenas para pontuar, a China, a economia que mais cresce no mundo nos últimos anos continuamente opera com grande desvalorização de sua moeda.
  • "O PIB só cresceu x%" como algo ruim. Por que? O PIB em valores absolutos (e mesmo seu melhor substituto que é em dólar de paridade de compra) não reflete a condição social. O PIB do Japão esta negativo pelo segundo ano seguido, o da Dinamarca foi negativo também, assim como o dos países baixos que vem capengando desde 2008, e tem muito mais dentro dos países top no ranking do IDH, portanto, cuidado com as "leituras jornalísticas" de índices econômicos e também dos discursos de economistas tecnicistas, pois para um matemático que esquece do mundo humano, um monte de bilhões é bom/eficiente quando acrescido de outros montes independente de para quem ou qual seu objetivo.
  • "A economia cresceu apenas 1%". "Apenas" por que? Com matemática financeira básica descobrimos que esses "módicos 1%" correspondem a mais de 30% em uma geração (em torno de 30 anos) o que é muito! Sem avaliar como o crescimento demográfico e as tecnologias impactam nessas estatísticas o "muito" ou "pouco" passa a ser completamente arbitrário e analisando a médio prazo, nota-se que crescimentos maiores são insustentáveis (Piketty 2014)!
  • "O crescimento econômico leva automaticamente à melhoria da população". Por que? Mágica? Essa é a maior falácia do discurso tecno-economico! Não existe, eu repito, não existe qualquer fonte histórica que demonstre isso! As melhorias na distribuição de renda SEMPRE dependeram de intervenções políticas não apenas na democratização do conhecimento como em políticas fiscais agressivas. Apenas para pontuar: a classe média patrimonial surgiu na metade do século XX graças a várias intervenções políticas do estado, principalmente no modelo tributário progressivo, ou seja, o discurso meritocrático fazia (ainda que pouco) sentido há 50 anos atrás! Os EUA hoje (devido às constantes políticas neoliberais a partir do anos 80 que incluem redução tributária constante) tem a mesma mobilidade social da África subsaariana.
  • "Imposto é ruim". Por que satanizamos os impostos? Nunca assuma esse discurso tão simplório pois ele só interessa a quem detém a maior parte das riquezas. Impostos não são absolutamente bons ou ruins, porém, bem escalonados são a ÚNICA forma de redistribuir riquezas. Todas as séries históricas demonstram isso. EUA e Grã Bretanha chegaram a taxar em até 98% as grandes fortunas. A França em até 70%. E ainda hoje existem os chamados impostos solidariedade inclusive de caráter expropriatório nos principais países capitalistas. A própria tributação de heranças (ainda que alguns digam que tem pouco impacto na arrecadação) é importante a longo prazo e NUNCA desestimulou a aquisição de bens.
  • "Programas de renda mínima acomodam a população". Quem disse? Isso é completamente absurdo entre os estudiosos. A Europa já aprovou um estatuto e agora estuda a operacionalização do mesmo em seus países e os EUA já buscam soluções semelhantes.
  • "Lutar contra o neoliberalismo e o estado mínimo é coisa de comunista!". Essa é a mais patética de todas e se não fosse trágico seria cômico. Os principais economistas (CAPITALISTAS!) da atualidade como Stiglitz, Krugman, Piketty e Sen lutam contra o estado mínimo e defendem (demonstrando brilhantemente) o retorno da moralidade ao capitalismo (como interpreta bem, por exemplo, Yvone Roberts do The Guardian) afirmando ipsis litteris que isso é impossível com o liberalismo a la Friedman.
  • "Se já dirige o vota com 16 tem que ir pra cadeia também!". Pra não ficarmos só na economia temos essa tosquice da atualidade. Vários países do mundo que adotaram essa prática estão revendo suas posições e fora vários outros argumentos, ficarei apenas no básico: sem rapidez e transparência no judiciário, educação e o retorno da meritocracia à economia, não solucionaremos nada com leis, ademais, elas já existem em abundância. Para exemplificar, tomamos o estatuto dos crimes hediondos de 1990 que "iria resolver ou amedrontar" possíveis praticantes. Resultado: a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes mais do que duplicou.

Enfim, o que quis apresentar, e é o que a ciência nos ensina, não é essa ou aquela "verdade", mas sim, que muitas vezes adotamos um discurso de outros com interesses escusos que muitas vezes nos causam mal e, acima de tudo, nos faz  passar por tolos que emitem opiniões sem o menor embasamento.

Toda leitura de qualidade é válida, mas em tempos de turbulência econômica e social, estudar economia é uma boa forma de ficar atento a determinados discursos prontos e manchetes simplórias que na maioria das vezes nos afastam da raiz dos problemas e portanto de soluções efetivas.

Vamos queimar os discursos simplistas!!!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Depressão como mal contemporâneo

Segue sugestão de um excelente texto acadêmico (ebook de Leandro Anselmo Todesqui Tavares) que, mais do que sobre depressão, trata do indivíduo na sociedade pós-moderna.
Uma síntese da perversidão que o modelo monetarista-mercantil aliado à 'sociedade espetáculo' trouxeram a individuos 'ajustados' ou não.

"A realização de pequenos e fugazes prazeres (sempre que possíveis) torna-se um ímpeto aos indivíduos, e ao contrário do que se poderia pensar, presenteia-os com sensações eternas de tédio, insatisfação e 'mal estar' típicos de nossa atualidade."

A "facebookização" dos relacionamentos (a "Sociedade Espetáculo" de Guy Debórd) é muito bem sintetizada.

"No início do capitalismo, a dialética subjetiva dos indivíduos consistia em uma degradação do ser para o ter. O sucesso naquele momento específico, bem como as realizações e conquistas satisfatórias para o ego, dependia de quanto poderia acumular-se em bens e dinheiro. Ter posses que representassem sua riqueza capital era o que movia os indivíduos em termos de dinâmicas subjetivas na sociabilidade daquela época, enquanto hoje em dia, ter já não representa muito se isto de fato não servir para a aparição diante do cenário espetacular. Temos então, na atualidade, um deslizamento do ter para o parecer  ou (a)parecer diante do espaço social e, neste sentido, toda realidade individual torna-se social." 

"O desvanecimento das habilidades de sociabilidade é reforçado e acelerado pela tendência, inspirada no estilo de vida consumista dominante, a tratar os outros seres humanos como objetos, pelo volume de prazer que provavelmente oferecem e em termos de seu 'valor monetário'. Nesse processo, os valores intrínsecos dos outros seres humanos singulares (e assim também a preocupação com eles por si mesmos, e por essa singularidade) estão quase desaparecendo de vista. A solidariedade humana é a primeira baixa causada pelo triunfo do mercado consumidor." (Bauman - 2004)

Da medicalização excessiva:

"Os psicofármacos, pelo enorme efeito antidepressivo e tranquilizante, visam a transformar esses miseráveis sofredores em seres efetivos da sociedade espetáculo. Com isso, silenciam-se as cavilações pesadas e as ruminações 'excessivamente' interiorizadas dos deprimidos, e eles são transformados em seres 'legais' do universo espetacular."

Traduz bem porque o Coisa não acredita mais, de maneira geral, em amizade:

"Predominantemente, as relações estabelecidas pela lógica consumista, que evidenciam o individualismo em nossa cultura narcisista, acabam, por fim, tornando o exercício da sociabilidade uma condição propícia para a exploração do outro, em relações vazias de sentido e significados cujos vínculos são, na maioria das vezes, frágeis, supérfluos e meramente ocasionais."

Pincela a violência em nossa época:

"O sujeito contemporâneo personifica de forma caricaturada a verdadeira representação de um 'homem-bomba', em um sentido subjetivo que em sua relação empobrecida com o outro pode, enfim, concretizar variadas práticas de violência no que diz respeito aos seus envolvimentos sociais"

"Os destinos do desejo assumem, pois, uma direção marcadamente exibicionista e autocentrada, na qual o horizonte intersubjetivo se encontra esvaziado e desinvestido das trocas inter-humanas. Esse é o trágico cenário para  aimlosão e a explosão da ciolência que marcam a atualidade" (Birman - 2001)

"É na defesa contra o sofrimento e o desprazer que habita o próprio sofrimento e 'mal-estar' em si." (Freud - 1930)



Ou acesse: http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=106


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Opa, agora vai!

Como Deus não atendeu minhas preces (pra variar), tive que me preparar para o carnaval.
Pela primeira vez na vida achei um samba enredo que preste...




terça-feira, 4 de maio de 2010

Se eles são o futuro...

Assisti novamente Madadayo.
Kurosawa nunca é demais.

Com tanto respeito e reverências ao sensei, pensei (vishi, cacofonia nipo-brasileira!) em uma das reivindicações dos professores brasileiros: a de não querer mais apanhar.
Esses meninos "puros e ingênuos" são nosso futuro...

O filme é muito lindo! Um requiem.
Kurosawa faleceu 5 anos depois, em 1998.

O sofrimento excruciante do sensei com a perda de Nora é perfeitamente compreensível...

Temos muito a aprender com esse povo, mas nada é perfeito.
O número de suícidios no Japão é alto (o próprio Kurosawa tentou o suicídio uma vez), assim como o alcoolismo e a violência doméstica, que até há poucos anos era tratado como "assunto privado".

Uma em cada 3 mulheres japosesas sofrem ou sofreram agressões e a cada 3 dias uma vítima de violência doméstica morre.
Provavelmente graças à influência ocidental, a violência entre os jovens vem aumentando na mesma proporção do aumento do vandalismo.

Voltando à ficção...
Não entendeu nada porque não viu o filme?
Azar o seu.


sábado, 1 de maio de 2010

Prozac pode, Hemogenin não

Depressão é a doença do século. Isso é bem aceito entre os especialistas.
Mas canso (bago cheio mesmo!) de ouvir pessoas que se dizem "depressivas".
Antes de mais nada vale dizer que uma pessoa pode estar/ser deprimida ou estar em um estado depressivo.

Na nossa sociedade, tristeza é, se ele existisse, o oitavo pecado capital.
Paradoxalmente, mas não por acaso, vivemos na época mais angustiante e triste da curta história da nossa civilização.

Tristeza não é depressão. Angústia também não.
Tristeza, assim como felicidade, é um estado de humor temporário.
Tristeza não é "uma coisa ruim" assim como felicidade "não é uma coisa boa". São apenas emoções humanas. Ambas colorem nossos espíritos.

Depresão é uma patologia. Um nada. Void. Zero absoluto.
Um não existir ou querer deixar de existir. Um não sentir muito mais do que um sentir tristeza.
Mais do que infeliz (o que nem sempre ocorre), a depressão te deixa sem ação, inapto para a vida.

Assim como não somos educados para não fazer nada (De Masi/Russell), atualmente não somos educados para enfrentar as infelicidades e frustrações inerentes à vida.
E como ninguém sabe lidar mais com isso, o Prozac e outros antidepressivos viraram remédio para os fracos.

Atente para o fato de que o portador da patologia denominada depressão está doente e necessita de auxílio, já o sujeito triste, angustiado ou frustrado, que não deveria se apoiar em um fármaco, é um ignorante emocional, um fraco que não sabe enfrentar as "tijoladas" da vida.

Hemogenin é um remédio para anemia que é utilizado por alguns indivíduos para o aumento de massa muscular, uma das famosas "bombas".
Apesar de estarmos cercados de imagens de "heróis" com 150 cm de peitoral e 60 cm de bíceps, a reação a esses produtos é visceral.

Prozac é um remédio para depressão que é utilizado por alguns indivíduos para a melhora no suporte às dores da alma e às frustrações, uma das, ainda não tão famosas, "bombas do espírito". Apesar de estarmos cercados de motivos para a tristeza e a angústia, a reação a esses produtos é o estímulo ao uso indiscriminado.


"A angústia é a única fonte de criação" - Jacques Lacan