quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Depressão como mal contemporâneo

Segue sugestão de um excelente texto acadêmico (ebook de Leandro Anselmo Todesqui Tavares) que, mais do que sobre depressão, trata do indivíduo na sociedade pós-moderna.
Uma síntese da perversidão que o modelo monetarista-mercantil aliado à 'sociedade espetáculo' trouxeram a individuos 'ajustados' ou não.

"A realização de pequenos e fugazes prazeres (sempre que possíveis) torna-se um ímpeto aos indivíduos, e ao contrário do que se poderia pensar, presenteia-os com sensações eternas de tédio, insatisfação e 'mal estar' típicos de nossa atualidade."

A "facebookização" dos relacionamentos (a "Sociedade Espetáculo" de Guy Debórd) é muito bem sintetizada.

"No início do capitalismo, a dialética subjetiva dos indivíduos consistia em uma degradação do ser para o ter. O sucesso naquele momento específico, bem como as realizações e conquistas satisfatórias para o ego, dependia de quanto poderia acumular-se em bens e dinheiro. Ter posses que representassem sua riqueza capital era o que movia os indivíduos em termos de dinâmicas subjetivas na sociabilidade daquela época, enquanto hoje em dia, ter já não representa muito se isto de fato não servir para a aparição diante do cenário espetacular. Temos então, na atualidade, um deslizamento do ter para o parecer  ou (a)parecer diante do espaço social e, neste sentido, toda realidade individual torna-se social." 

"O desvanecimento das habilidades de sociabilidade é reforçado e acelerado pela tendência, inspirada no estilo de vida consumista dominante, a tratar os outros seres humanos como objetos, pelo volume de prazer que provavelmente oferecem e em termos de seu 'valor monetário'. Nesse processo, os valores intrínsecos dos outros seres humanos singulares (e assim também a preocupação com eles por si mesmos, e por essa singularidade) estão quase desaparecendo de vista. A solidariedade humana é a primeira baixa causada pelo triunfo do mercado consumidor." (Bauman - 2004)

Da medicalização excessiva:

"Os psicofármacos, pelo enorme efeito antidepressivo e tranquilizante, visam a transformar esses miseráveis sofredores em seres efetivos da sociedade espetáculo. Com isso, silenciam-se as cavilações pesadas e as ruminações 'excessivamente' interiorizadas dos deprimidos, e eles são transformados em seres 'legais' do universo espetacular."

Traduz bem porque o Coisa não acredita mais, de maneira geral, em amizade:

"Predominantemente, as relações estabelecidas pela lógica consumista, que evidenciam o individualismo em nossa cultura narcisista, acabam, por fim, tornando o exercício da sociabilidade uma condição propícia para a exploração do outro, em relações vazias de sentido e significados cujos vínculos são, na maioria das vezes, frágeis, supérfluos e meramente ocasionais."

Pincela a violência em nossa época:

"O sujeito contemporâneo personifica de forma caricaturada a verdadeira representação de um 'homem-bomba', em um sentido subjetivo que em sua relação empobrecida com o outro pode, enfim, concretizar variadas práticas de violência no que diz respeito aos seus envolvimentos sociais"

"Os destinos do desejo assumem, pois, uma direção marcadamente exibicionista e autocentrada, na qual o horizonte intersubjetivo se encontra esvaziado e desinvestido das trocas inter-humanas. Esse é o trágico cenário para  aimlosão e a explosão da ciolência que marcam a atualidade" (Birman - 2001)

"É na defesa contra o sofrimento e o desprazer que habita o próprio sofrimento e 'mal-estar' em si." (Freud - 1930)



Ou acesse: http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=106


2 comentários:

  1. O autor do texto oferece algum tipo de "solução" para o problema, ou é só crítica mesmo?

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  2. Olha, "solução" é algo commplexo. Acho interessante saber porque (ou pelo menos os fatores que contribuiem) e como 'a coisa' floresce e se ramifica, e que o paliativo fármaco é apenas um quebra galho.
    No fim, se não conseguirmos trabalhar nossas angústias e frustrações (o que não é nenhuma vergonha ou derrota), terapia é o caminho.
    Se será psicanálise lacaniana, freudiana, cognitiva, etc, vai depender do que cada um se sente mais confortável.

    Mas uma coisa eu acho imprescindível: a ausência (dentro do que um profissional humano consegue claro) de julgamento moral.

    Imagina um terapeuta homofóbico, espirita ou evangélico por exemplo?!
    Sem chance!

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