quinta-feira, 9 de julho de 2015

Ecovilas e pluralidade

Estou no meio de uma tormenta pessoal acerca da descoberta e dos estudos relacionados a ecovilas e comunidades sustentáveis.
Esse assunto veio de encontro a mim durante meu processo de mudança de estilo de vida (admito que já dura anos dada a força da ideologia vigente e meus próprios medos), que começou com questões a cerca da simplicidade, ética, respeito ao meio ambiente e convívio social com um grupo semelhante. Tem mais coisas mas não vem ao caso por hora.

Lendo, tudo me parece interessante. Visitando (ao menos a única que posso dizer mais perto do conceito de ecovila) também.

Os pilares e conceitos das ecovilas e da permacultura estão na net pra quem quiser pesquisar, mas ao criar um grupo no facebook me deparei com umas (muitas, infelizmente boa parte) pessoas que sinceramente estariam longe do que eu desejaria ter no convívio cotidiano.

A pluralidade é um desses pilares e o respeito às diferenças também, mas como conciliar e aceitar certas coisas que são incompatíveis com isso sem parecer antidemocrático?

Vamos analisar alguns casos exemplos:

  1. Um testemunha de Jeová deseja participar do grupo. Seguem dogmaticamente a bíblia (e sinto muito mas, por si só, isso já é uma calamidade intelectual - não desdobrarei aqui o porque dessa opinião) e, também como exemplo, se dizem contrários a homossexualidade (com aqueles argumentos toscos tradicionais). Como é possível conviver numa suposta comunidade onde devemos conviver e respeitar as diferenças? Por que eu toleraria alguém desse tipo?
  2. Um evangélico deseja participar do grupo. Como quase todas as religiões, suas verdades são mais verdades que a dos outros e como muitas dissidências do catolicismo, por exemplo, pregam que o acúmulo material é um sinal de bênção. Como é possível conviver numa suposta comunidade onde a simplicidade do necessário (apesar de tema subjetivo) é uma das virtudes? Por que eu toleraria alguém desse tipo (admito que me surpreendeu um grupo progressista de evangélicos com alguns questionamentos aos demais)?
  3. Veganos vem aos montes. A maioria deles (veja, não estou generalizando) tem uma posição bastante religiosa do assunto, onde sempre discursam como os detentores da moralidade e da verdadeira ecologia (mas eles ainda matam os vegetais para sobreviver), tão cheios de certezas quanto o Estado Islâmico. Como é possível conviver numa ecovila onde por princípio (mesmo no que se refere aos ideais da permacultura de Bill Mollison) não existe essa intransigência?
  4. Uma figura com sua página pessoal repleta de ódio aos menores de idade (a discussão da maioridade penal, mais precisamente a eficiência de uma medida dessas e que tipo de "solução" é essa passa ao largo dessas pessoas devido a sua impermeabilidade cultural) e toda a argumentação rasa como um pires sobre isso solicita sua entrada no grupo. Porque eu devo permitir? É antidemocrático talvez mas qual é o limite da minha tolerância com pessoas tão inflexíveis e de certo com deficiências de formação cultural que a impedem de dialogar com um grupo?
  5. Outra diz querer fugir dos "petralhas" em uma vila?! Sem entrar no mérito da questão mas já entrando, a polarização irracional nunca trouxe nada a nenhuma civilização e a falta de visão histórico-social de uma pessoa dessas compromete sua própria capacidade de diálogo sadio num grupo. Num mundo (isso não é nosso privilégio) onde a financeirização compromete as relações, se apodera do estado, acaba com a representatividade e nos subtrai o senso de valor e justiça, como achar que vive-se numa democracia e este ou aquele grupo são mais apropriados que outro, ainda mais quando os fatos atuais (vide os financiadores de campanhas iguais a ambos os lados) e a história derrubam essa defesa? Não consigo ser democrático com esse grupo do ódio também.
Apenas alguns exemplos que ilustram minha preocupação com a formação do grupo, o que tanto para os artigos escritos pelos idealizadores quanto para as pessoas que conversei dessas comunidades é o mais importante numa ecovila.

No geral, por razões óbvias, a própria natureza do movimento das ecovilas afasta os mais reacionários, e não cheguei a encontrar nelas pessoas desse tipo, mas no mundo virtual elas proliferam até para onde elas mesmo não desejariam.

Por princípio adotei uma norma, ainda que passível de discussão como tudo e pareça paradoxal, de não ser democrático (tentando remeter a igualdade em sua melhor forma) com o não democrático.

Claro, estou aberto a diálogo.
Expus minhas preocupações e métodos rudimentares que criei de tentar contorná-las.
Procuro me guiar pela ética (diferente de moral) ainda que ela também seja passível de discussão. 
As escolhas pessoais, ora, são pessoais! 
Elas são sadias quando não se sobrepõe a liberdade do outro e nem a tolhem de nenhuma maneira.
Para mim, entre erros, acertos e tendo noção que corro o risco de ser injusto, há alguns tipos de pessoas que realmente não me interessa conviver.

É um exercício permanente da autocrítica e aprendizado, mas até hoje, com 45 anos e tendo convivido com uma razoável amostragem de pessoas desse meu país, os cristalizados e dogmáticos em geral estão na lista dos que eu quero distância.

Se eu não me expor (ao menos o que considero tolerável) a um grupo que pretendo conviver que tipo de hipócrita eu serei?