terça-feira, 20 de março de 2012

Carta aos jovens amigos

Após divagações sobre música e vida com alguns jovens amigos, disparei meu último email a eles:
 
 
 
Tentando esclarecer algumas “brigas” diversas e possíveis interpretações errôneas sobre minhas posições controversas, e, aproveitando nossas divagações sobre música, gostaria de deixar claro que a obra (especialmente de um Roger Waters por exemplo) de um artista deva ser compreendida muito mais do que simplesmente ‘consumida’.

Como vcs são mais jovens do que eu, e porque terão filhos, deveria ser mais importante ainda, enfatizo a a importância de refletir sobre consumo, trabalho e dinheiro. Indo bem mais fundo do que simplesmente achar que se compra algo porque “gosta” e se “pondera bem sobre o custo/benefício”, que são verdadeiras falácias e desculpas furadas para se integrar a esse modelo sócio-econômico.

 Gostaria que vcs lessem toda a minha mensagem.

Para pensar muito e sem preconceitos e amarras, além de Zeitgeist, sugiro “Da servidão humanatexto e/ou vídeo de Jean-François Brient (gratuito) ou no site.

Posso gerar os DVD’s se quiserem e tiverem coragem e capacidade para refletir.

São a boa síntese do PVL*.

Faz anos que debato isso.
Faz anos que me libertei (quase totalmente) e prefiro ficar à margem (daí vem o termo marginal) desse sistema.
Faz anos que perco amigos para corporações e fictícios modelos de vida.

Não posso fazer nada além de tentar advertir os mais jovens sobre o ‘personagem’ que estão assumindo e a vida única que estarão jogando fora.
Fantasias de paraísos de mil virgens e espíritos não resolverão o amargor de uma não vida, um devaneio dessa ‘matrix’ criado pelo capital.

Corro o risco de parecer pretencioso. Não tem problema, vale a pena por algumas pessoas.

Não existe um “a pessoa é feliz assim”.
O corpo cobrará (hipertensão, tumores, gastrite, obsesidade, síndromes metabólicas, etc).
A mente cobrará (ansiedade, depressão, síndrome do pânico, etc – as pandemias modernas).
E essa casca do que você imagina ser você não suportará.

Na face dessas pessoas, num momento de relaxamento e “baixa de guarda”, se estampa essa amargura, a despeito de todo o marketing do “eu sou feliz”.

Alguns são escravos a vida toda, dissolvidos nessa ‘pasta social’, com suas ‘fotinhos de família feliz na Disney’ e trabalhadores ‘bem sucedidos’.
Outros poucos acordarão quando já é tarde, ao fim de uma vida que é curtíssima.
Menos ainda serão os que conseguirão observar o rídiculo e patético teatro que não são obrigados a participar.

Vocês são jovens, recém chegados ao mercado de consumo, emergentes.
É compreensível que sintam ‘orgulhosos’ e encantados por esse novo ‘poder’ que o capital parece conceder.
Mas a grande questão será SE e QUANDO descobrirão que esse suposto poder é na verdade escravidão.

Alguns perceberam que não quero mais conviver com as pessoas.
É fato.

Prefiro a amizade eterna na lembrança de alguém por quem eu nutria afeto e respeito do que a decepção e o desagrado de conviver com ‘bonecos de arlequim’ que nada mais sabem sobre si mesmos.

Minha dureza com alguns é o desespero de quem sabe que pode perder mais amigos, pois não se é duro com quem ignoramos ou somos indiferentes.
Essas perdas são verdadeiras mortes. Vivo um luto cada vez que isso ocorre.
Aquela pessoa interessante deixou de existir.

Agora existe apenas uma “coisa” travestida daquele ser humano que você conhecia.

Parafraseando Jean-François Brient, que sintetizou algumas sensações minhas:

“Meu otimismo está baseado na certeza que esta civilização vai desmoronar.
Meu pessimismo em tudo aquilo que ela faz para arrastar-nos em sua queda.”



*Nota: PVL = Projeto Vida Longa, grupo antigo mas dinâmico de amigos.

domingo, 11 de março de 2012

Divulgando "Da servidão moderna"

AVI com legendas: http://uploaded.to/file/7jr09nyd
PDF do texto: http://www.delaservitudemoderne.org/Documents/daservidaomoderna.pdf

Direto do site: www.delaservitudemoderne.org



“Toda verdade passa por três estágios.
No primeiro, ela é ridicularizada.
No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria.”

Schopenhauer






A servidão moderna é um livro e um documentário de 52 minutos produzidos de maneira completamente independente; o livro (e o DVD contido) é distribuído gratuitamente em certos lugares alternativos na França e na América latina. O texto foi escrito na Jamaica em outubro de 2007 e o documentário foi finalizado na Colômbia em maio de 2009. Ele existe nas versões francesa, inglesa e espanhola. O filme foi elaborado a partir de imagens desviadas, essencialmente oriundas de filmes de ficção e de documentários.

O objetivo principal deste filme é de por em dia a condição do escravo moderno dentro do sistema totalitário mercante e de evidenciar as formas de mistificação que ocultam esta condição subserviente. Ele foi feito com o único objetivo de atacar de frente a organização dominante do mundo.

No imenso campo de batalha da guerra civil mundial, a linguagem constitui uma de nossas armas. Trata-se de chamar as coisas por seus nomes e revelar a essência escondida destas realidades por meio da maneira como são chamadas. A democracia liberal, por exemplo, é um mito já que a organização dominante do mundo não tem nada de democrático nem de liberal. Então, é urgente substituir o mito de democracia liberal por sua realidade concreta de sistema totalitário mercante e de expandir esta nova expressão como uma linha de pólvora pronta para incendiar as mentes revelando a natureza profunda da dominação presente.

Alguns esperarão encontrar aqui soluções ou respostas feitas, tipo um pequeno manual de “como fazer uma revolução?” Esse não é o propósito deste filme. Melhor dizendo, trata-se mais exatamente de uma crítica da sociedade que devemos combater. Este filme é antes de tudo um instrumento militante cujo objetivo é fazer com que um número grande de pessoas se questionem e difundam a crítica por todos os lados e sobretudo onde ela não tem acesso. Devemos construir juntos e por em prática as soluções e os elementos do programa. Não precisamos de um guru que venha explicar à nós como devemos agir: a liberdade de ação deve ser nossa característica principal. Aqueles que desejam permanecer escravos estão esperando o messias ou a obra que bastando seguir-la ao pé da letra, libertam-se. Já vimos muitas destas obras ou destes homens em toda a história do século XX que se propuseram constituir a vanguarda revolucionária e conduzir o proletariado rumo a liberação de sua condição. Os resultados deste pesadelo falam por si mesmos.

Por outro lado, condenamos toda espécie de religião já que as mesmas são geradoras de ilusões e nos permite aceitar nossa sórdida condição de dominados e porque mentem ou perdem a razão sobre muitas coisas. Todavia, também condenamos todo astigmatismo de qualquer religião em particular. Os adeptos do complot sionista ou do perigo islamita são pobres mentes mistificadas que confundem a crítica radical com a raiva e o desdém. Apenas são capazes de produzir lama. Se alguns dentre eles se dizem revolucionários é mais com referência às “revoluções nacionais” dos anos 1930-1940 que à verdadeira revolução liberadora a qual aspiramos. A busca de um bode expiatório em função de sua pertencia religiosa ou étnica é tão antiga quanto a civilização e não é mais que o produto das frustrações daqueles que procuram respostas rápidas e simples frente ao mal que nos esmaga. Não deve haver ambigüidade com respeito a natureza de nossa luta. Estamos de acordo com a emancipação da humanidade inteira, fora de toda discriminação. Todos por todos é a essência do programa revolucionário ao qual aderimos.

As referências que inspiraram esta obra e mais propriamente dita, minha vida, estão explicitas neste filme: Diógenes de Sinope, Etienne de La Boétie, Karl Marx e Guy Debord. Não as escondo e nem pretendo haver descoberto a pólvora. A mim, reconhecerão apenas o mérito de haver sabido utilizar estas referências para meu próprio esclarecimento. Quanto àqueles que dirão que esta obra não é suficientemente revolucionária, mas bastante radical ou melhor pessimista, lhes convido a propor sua própria visão do mundo no qual vivemos. Quanto mais numerosos em divulgar estas idéias, mais rapidamente surgirá a possibilidade de uma mudança radical.

A crise econômica, social e política revelou o fracasso patente do sistema totalitário mercante. Uma brecha surgiu. Trata-se agora de penetrar mas de maneira estratégica. Porém, temos que agir rápido pois o poder, perfeitamente informado sobre o estado de radicalização das contestações, prepara um ataque preventivo sem precedentes. A urgência dos tempos nos impõe a unidade em vez da divisão pois o quê nos une é mais profundo do quê o que nos separa. É muito fácil criticar o quê fazem as organizações, as pessoas ou os diferentes grupos, todos nós reclamamos uma revolução social. Mas na realidade, estas críticas são provenientes do imobilismo que tenta convencer-nos de que nada é possível.

Não devemos deixar que o inimigo nos vença, as antigas discussões de capela no campo revolucionário devem, com toda nossa ajuda, deixar lugar à unidade de ação. Deve-se duvidar de tudo, até mesmo da dúvida.

O texto e o filme são isentos de direitos autorais, podem ser recuperados, divulgados, e projetados sem nenhuma restrição. Inclusive são totalmente gratuitos, ou seja, não devem de nenhuma maneira ser comercializados. Pois seria incoerente propor uma crítica sobre a onipresença das mercadorias com outra mercadoria. A luta contra a propriedade privada, intelectual ou outra, é nosso golpe fatal contra a dominação presente.

Este filme é difundido fora de todo circuito legal ou comercial, ele depende da boa vontade daqueles que asseguram sua difusão da maneira mais ampla possível. Ele não é nossa propriedade, ele pertence àqueles que queiram apropriar-se para que seja jogado na fogueira de nossa luta.

Jean-François Brient e Victor León Fuentes