quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Mea culpa, debates e a praga zen

Este fim de ano fiz uma reflexão a cerca de minhas posturas perante os amigos incentivado por críticas (não tenho nada contra boas análises, pois 'crítica' é análise) obtidas indiretamente, vulgo “me disseram que”.
Coincidentemente li há pouco um texto do Alex Castro sobre “As prisões” (no caso “A prisão do conhecimento”).

Suas colocações a cerca do pensamento narcísico,  repressões e ideologias educacionais são muito pertinentes e amplamente “aceitas” e “debatidas”.

Mas a visão buNdista da troca de saberes é bastante suspeita.
O budismo, apesar de lindos ideais (toda religião – ainda que muitas não se definam como religião por questões semânticas - tem a sua parte boa), não escapa de sua origem de doutrina pacificatória e de controle de massas. Basta estudar a história, de preferência por autores não budistas, claro.

Não opinar, não debater, etc, também é uma posição política e evidentemente moral. O moralismo pode se manifestar na não manifestação também.

Aliás, a mesma educação conteudista que reprime o livre pensar é, obviamente, a que não educa para o debate, já que, como lembram meus amigos filósofos da educação, os professores educados nesse sistema tendem a usar a autoridade e não a retórica para um diálogo com seus alunos.

De qualquer modo, admito que não sei exatamente (e provavelmente nunca saberei) como manifestar certas posições sem parecer arrogante ou impositivo. Claro, tento manter isso em mente e tentar me refinar ao longo da vida.

Toda filosofia nasceu da retórica.
Não criamos nada e nossa opinião é meramente um aglomerado de “outras pessoas”, portanto, como crescer (no sentido intelectual e de vida) sem trocar ideias?
“Mas quer ser livre, como outros desejam uma coleção de selos. A liberdade é seu jardim secreto. Sua pequena conivência para consigo mesmo. Um sujeito preguiçoso e frio, algo quimérico, razoável no fundo, que malandramente construiu para si próprio uma felicidade medíocre e sólida, feita de inércia, e que ele justifica de quando em vez mediante reflexões elevadas. Não é isso que sou?” – Jean-Paul Sartre, A idade da razão.

É evidente que sabendo disso, a premissa de “não ter certeza” está (ou deveria estar) sempre presente.
Só sei que nada sei, e o fato de saber isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.” – Sócrates

Por outro lado, como questionar sem ofender, ser violento ou parecer arrogante?
Ninguém sabe a resposta, até porque, a interpretação do outro não está sob nosso controle.

O debate, não impositivo, não competitivo e não moralista é a base humana da formação de conhecimento. Se algum antropólogo achar uma “tribo de um só” que nasceu sozinho e viveu isolado com alguma espécie de “conhecimento mínimo” por favor me avisem.
Sem o exercício do diálogo (ou debate, ou discussão, como queiram) só sobram as polarizações raivosas e um mar de malas zen budistas.

O fato é que realmente me empolgo com determinados assuntos e determinadas descobertas e saio como uma criança que ganhou uma bola nova de encontro a meus amigos para partilhar.
A partilha invariavelmente será julgada de várias maneiras alheias ao nosso objetivo.
Alias, julgar é uma condição humana ancestral que nos permitiu sobreviver. Imaginem uma neandertal andando numa mata fechada quando de repente ouve um ruído desconhecido? Bem, os que não prejulgaram em sua maioria, eufemisticamente falando, não propagaram seus genes.

O problema não está no julgar, mas na postura cristalizada de não refazer esse julgamento com base em novas perspectivas, portanto, o julgamento, como qualquer outra posição, é uma não certeza.

Partilhar as ideias será quase sempre um debater.
Não quero ter razão, até porque, quem tem razão (no sentido de ter certeza) é justamente o cristalizado que desejo evitar.
O fato de muitos se sentirem intimidados e “acharem que” sem mais argumentos, foge o meu controle, apesar de, como eu disse, continuamente tentar achar meios de expor alguns achados sem parecer impositivo.

Sempre quis partilhar pequenas descobertas e pequenas conquistas de serenidade com meus amigos não no intuito de “apresentar a receita”, mas sim no sentido de demonstrar que sempre podem haver alternativas e muitas vezes elas estão longe do “natural e óbvio” (entenda como ideologia).

Mas sim, preciso tentar ser mais delicado, pois mesmo uma 'não posição' de ”será que?” para um ouvido cristalizado e despreparado para uma troca civilizada de ideias gerará reações desproporcionais.
De qualquer modo tenho que analisar o excesso de discurso/debate e me esforçar para fugir das tendências narcisistas comuns no mundo atual, afinal, como eu escaparia ileso disso?

Somos humanos, vamos evitar essa praga das “não-posições zen” que estão na moda (anteviu bem André Comte-Sponville). Não precisamos ser violentos, maniqueístas e cheios de certezas, mas é imperativo para a sociedade que aja debate e, devemos admitir, sermos confrontados/questionados gera desconforto e reações emocionais.

É gafanhoto, não quer alterações no seu “equilíbrio energético” tome sempre seu Rivotril e/ou converse apenas com o ascensorista ou seu pet, ainda assim...


domingo, 11 de dezembro de 2016

Afinal, como foi o downsizing de vida?

Sempre morei em grandes cidade.
Nasci em Porto Alegre, fui para São Bernardo do Campo e de lá para São Paulo.
Já tive ilusões acerca das metrópoles. Normal. Jovem, pouca experiência, fatalmente pouca leitura/conhecimento e com uma imagem (não criamos nada, no máximo assimilamos com um toque pessoal... que também não é nosso! rs, e viva Sartre!) fantasiosa a cerca delas.
Com o mínimo de manutenção do senso crítico e boa dose de racionalidade, a ilusão começa a ruir com o tempo.

 Blade Runner
 
Beijing

São Paulo

Tirando os que são fanáticos por quase diariamente ir a “baladas”, centros culturais variados e às mecas das comunidades estéticas (os shopping centers e similares), o único motivo para alguém continuar nelas é a zona de conforto. Ah, sim, esqueci os crentes na "medicina da vida eterna".
Lembrando que zona de conforto é estar e querer permanecer no conhecido, ter resistência à mudança, etc. É o conforto do conhecido, o esperado, não necessariamente o “bom”.
Escrevi “quase diariamente” pois na “frequência normal” posso ir tranquilamente para a crazy sampa.

Há também os que necessitam passar desapercebido, coisa mais complicada em cidades pequenas dada a jequice das mesmas, onde o moralismo é maior. Por exemplo os homossexuais que são mais discriminados... se bem que talvez menos frequentemente espancados e assassinados... bem, essa é outra discussão...



Nunca havia morado em cidades pequenas, só estudei e avaliei teoricamente a cerca disso.
Minha primeira análise lógica foi: menos pessoas menos incômodos.
As demais vantagens estariam numa zona um pouco “menos experimentada”: mais humanidade, mais natureza, e outras suspeitas a serem confirmadas.
A expressão “menos experimentada” foi utilizada pois morar é bem diferente de ser um turista.

Apenas pelo argumento lógico eu já havia aceitado que necessitava tornar prática a ideia.
Mudando, foi tiro e queda: silêncio, ar mais limpo, água mais pura, facilidade de locomoção e mais espaço.
Importante frisar que nunca busquei o paraíso perdido, a perfeição platônica ou até mesmo a fuga de meus próprios problemas internos. Acredito tanto nessas coisas quanto em Papai Noel.
Bucolismo Star Wars by Thomas Kinkade

A parte suspeita foi se confirmando com o dia a dia e, claro, com a minha mudança de ritmo.
A primeira coisa é o desarme, ou seja, a redução ou eliminação da violência latente, aquela que só percebemos quando ficamos “desintoxicados” das metrópoles.
Agora quase ninguém ao redor está com uma faca na mão e outra entre os dentes.
As pessoas cedem passagem com sorriso, deixam você entrar de carro numa rua, puxam papo tranquilamente, etc.

Aliás, esse último quesito é muito interessante.
Eu mesmo não gostava dessas coisas. Prezava pela tal “privacidade” ou “indiferença”.
Estar desarmado e menos violento faz com que gostemos desse preocupar, pois no fim, um papo furado é um olhar para outro ser humano e até mesmo um se preocupar com o outro.
Facilmente por aqui  entro numa adeguinha pedindo uma aguardente (cachaça mesmo) específica e um senhor de 80 e tralalá puxa um papo sobre as boas cachaças e me indica um local e uma marca para experimentar.

Uma coisa de aparente insignificância que transforma uma simples compra, numa experiência social acolhedora, de troca de saberes e ilumina seu dia. Para os metroneuróticos uma “invasão de privacidade”.

Meus amigos me perguntam, mas e o custo de vida como pode ser mais barato? Uma geladeira por exemplo não tem o mesmo preço aqui ou aí?
Realmente os bens duráveis (no moderno capitalismo e sua obsolescência programada, não existe nada mais durável) são praticamente iguais, fora que em tempos de internet...

Mas em outras coisas acontece algo que eu apenas teorizava.
Viver em cidades mais humanas e com mais contato com a natureza (na bruta, não um gramado vitoriano) nos torna menos ansiosos, menos apressados e, associado ao interessante fato de que a pressão sobre sua imagem diminui drasticamente, você naturalmente tem menos impulso ao consumo.

Não é um dado científico, mas todos os que eu conheço que fizeram essa transição tiveram essa mudança em graus variados.
O outro dado crucial é a limitação do poder econômico.
Numa grande rede de supermercado, em que se cobra até pela posição na gôndola e ele é que estabelece o prazo de pagamento, como um pequeno produtor entra?

Exato, nunca.

Não existe livre iniciativa no capitalismo exceto para quem tem a chancela de livre, ou seja, para quem já está entre as minorias (os angstron-negócios estão na categoria dos desprezíveis - por experiência própria - vivem dos restos dos grandes e portanto, tem um “teto bem baixo para voar”).
Então você chega num mercado menor e encontra, por exemplo, o mesmo pão pela metade do preço. Claro que seus preconceitos (cuidadosamente incutidos por grandes corporações) devem ser jogados pela janela para que você experimente uma marca desconhecida de um pequeno produtor local ou não.

Também é muito comum encontrar vegetais de produtores locais, inclusive em variedades que nunca havia visto, por preços muito menores e às vezes orgânicos pelos simples fato de serem caipiras e não simplesmente porque são dotados da chancela do marketing.

Apesar de não ser nativa (foi trazida pelos portugueses do Caribe), essa banana foi muito bem por aqui e é uma delícia! Claro, como não é tão "lucrativa"...

Às vezes até o escambo aparece!


Quando visito sampa (desacostumei total - isso é rápido) sinto aquele ar pesado, aquele cheiro horrível, aqueles milhares de decibéis de inúmeras fontes diferentes, aquelas pessoas violentas (só morando fora pra entender, pois afinal, eu era uma delas), aquela agressividade latente em tudo, aquelas pessoas que se medem de alto a baixo, aquela pressa injustificada para morrer, aquele aperto... nem sei mais... só sinto vontade de fugir de lá.

Claro que muitos amigos falam de suas preferências por essa ou aquela cidade, mas na maioria das vezes é uma preferência feita por causa de um valor adicionado por intermédio de uma memória afetiva, ou seja, muitas vezes é uma ficção.

Não tenho apego a essa ou aquela cidade, tenho apego às boas pessoas que me cercam, por isso nada mais natural do que ficar chuchando meus amigos para virem para cá, partilhar da comunidade, ainda que nos moldes tradicionais do lote, propriedade privada, etc.

Além da família próxima, minha madrinha já comprou casa aqui e uma amiga da patroa e sua mãe já estão no processo. 👊😁
Fora que estou "negociando" com uns amigos do ABC. 😇
Porém não tenho grandes expectativas com ninguém. Entre crer que nascemos morais (Rousseau) ou imorais (Hobbes), o mais plausível e de fácil demonstração é que nascemos amorais, portanto, também "ruins" sob o ponto de vista de uma vida social justa (Hobbes vence por aproximação) e quando associada a ignorância monstruosa da maioria esmagadora, a realidade e a perspectiva são péssimas...


Visitei várias cidades antes de vazar (adoro essa expressão!) de sampa, a maioria muito interessante para os objetivos que eu almejava, mas acabei escolhendo uma em que eu já tinha algum suporte.

O suporte de alguém torna a mudança menos crítica e menos insegura, nem que seja apenas do ponto de vista emocional, o que por si só já é muito importante, mas em geral esse suporte torna aquela ambientação muito mais rápida, coisas como a indicação do arquiteto com bom custo benefício, do pedreiro caprichoso, do mecânico de confiança, da quitanda com bons preços e ótima qualidade e por aí vai.

Uma coleção de pequenas coisas que é muito mais importante do que pensamos e, no fim, operacionalizando aquela coisa crucial das compras coletivas, da carona solidária, da troca constante de saberes, lazer em grupo, etc.

Por que se pulverizar quando há meios pragmáticos de se agrupar?

Por que ainda sempre nos sentimos tentados a dividir e a “resolver as coisas do nosso modo”?

Claro, cada um tem as suas perguntas e as suas respostas, mas existem muitas terrivelmente influenciadas por uma ideologia massacrante e portanto, de difícil identificação da influência (por isso chama-se ideologia), e isso tornas as coisas mais tristes.

Cada um cria seu inferno é verdade, mas ele não precisa ser tão corrosivo. O meu deve ter poucas e boas pessoas razoavelmente espaçadas apesar de cooperativas, pois mesmo boas pessoas quando amontoadas deixam vazar seu veneno por tudo o que é lado. Ops, Freud?! Essa é outra história.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

A complexidade das humanidades

A dificuldade da formação de grupos coesos mas realmente pluralista. O que fuçamos por aí...

Considerações pessoais meio sem pé nem cabeça (como a associação dos surfistas de Pernambuco)*

Experiências sociais são sempre coisas cheias de sinuosidades, ramificações e incertezas, para quem é nativo da área de exatas (como eu) em especial é um aprendizado mais doloroso e difícil.

Um físico amigo meu (físicos que, como ele, se especializam em materiais e acabam como um engenheiro disfarçado são ‘naturalmente’ tecnicistas, em especial quando o pai é um Col Nordestino, advogado, com discurso self made man) disse que é um porre essas incertezas, nuances e aparentes idiossincrasias das humanidades.

Os “nativos das humanidades” teriam uma “natural” facilidade em lidar com isso. Se fossem originários de Marte...

Infelizmente o status quo social atinge a todos. Mas vamos Imaginar que para estes seria mais fácil.

Fora estes, há os “sem formação definida” e que ainda por cima, por causa da nossa pobreza educacional não tem muita “bagagem” (não querendo generalizar mas correndo o risco de parecer preconceituoso), ou seja, educação geral falha, pouca leitura, etc, a coisa não melhora muito também, afinal, estão sob a ideologia da comunidade estética (vide Baumman e Debord), onde parecer é mais importante que ser; compromissos com a ética são vistos como perda de liberdades individuais e o “coletivo” ou “comum” são palavras que denotam inferioridade, perda, incapacidade, etc.

Os achados

Dito de maneira confusa isso, como é difícil agrupar pessoas numa experiência social.
Chamo de experiência pois não temos mais as certezas das respostas ou as receitas prontas para serem consultadas, “criar” a alternativa é algo que supomos ser uma resposta ou opção. Encarar essa não resposta e essa não certeza será a eternidade de um grupo pluralista de verdade.

Das pessoas que conheci nessa jornada (ainda no começo admito – nunca estarei totalmente preparado nem terei totalmente “o conhecimento”, caso contrário seria completamente paradoxal ao que se deseja criar) poucas pessoas tem uma aproximação melhor e mais realista da coisa toda e de fato estão prontas para o encontro com opiniões discordantes (uma coisa essencial para quem quer uma comunidade pluralista e integradora pois, de outra forma, cria-se uma seita).

Os “jovens engajados” geralmente são cheios de boas intenções e idealismos, porém, por causa da falta de conhecimento acabam querendo se “juntar aos semelhantes”, como se isso fosse um sinônimo de bom grupo social. Ao contrário, criam uma seita de pessoas que, como todas, reforçam entre si suas crenças, se cristalizam e os conflitos aparecem de qualquer jeito e/ou, no caso dos mais adeptos das filosofias orientais, são engolidos de qualquer jeito.

Entre eles se concentram mais os radicais xiitas de alguma vertente, desde os religiosos até os “alimentares” ou que desfilam alguma bobagem qualquer acerca de um suposto “conceito monoteísta” de sofrimento e violência.

Nos mais “maduros”, digamos acima dos 35 anos, apesar da avalanche de desculpas esfarrapadas do tipo “tenho filhos”**, “minha companheira(o) não aceita”, “não tenho dinheiro”, “tenho que levar minha vó na musculação” e por aí vai, foi onde encontrei as melhores mentes.

Existe um equilíbrio entre o “mudar de vida”, as “questões ambientais” e as “questões sociais” (não se resumindo a problemas sociais externos, mas os inevitáveis internos também).

Entre essas pessoas, tendo alguma história mais ou menos longa no paradigma atual (exploração, moralismo, pasteurização mental, acúmulo, propriedade, etc) este processo novo é uma mudança aparentemente maior, daí o receio com a subsistência e outras resistências são mais aparentes, parte por motivos “óbvios” e outra por motivos não tão óbvios assim. Os “óbvios” são tranquilos de descrever:
  • todos precisamos sobreviver, ou seja, a que se preparar para isso porém nem tanto a ponto de querer uma segurança inatingível;
  • um grupo por segurança jurídica deve ter uma formalização (CNPJ, geralmente num formato de associação) e isso requer investimento, ainda que pequeno;
  • uma terra em nossa sociedade tem sempre um proprietário portanto, é necessário ter a verba para adquiri-la (os casos de invasão, posse, etc, devem ser avaliados, mas a princípio, como ninguém quer ser um revolucionário ou mártir, vale a máxima: a Cesar o que é de Cesar);
  • estando a terra adquirida, é necessário mantê-la (impostos, taxas, etc);
  • depois é necessário fazê-la produzir (no caso de grupos que queiram alguma segurança alimentar por necessidade ou opção).
Os não tão óbvios tem certa complexidade e pairam como uma nuvem em todos, alguns tem mais clareza disso e outros menos. A grosso modo eu citaria:
  • é necessário manter a coesão e o saudável e pacífico gerenciamento de conflitos***. Muitos não tem essa capacidade e são cristalizados, porém não tem essa clareza sobre si próprio, o discurso é diferente da ação;
  • muitos não sabem realmente qual o seu grau de desapego, e nesse caso os medos ficam maiores, afinal, se eu nem sequer sei até aonde posso ir como encarar um desafio “desconhecido”;
  • muitos se preocupam excessivamente com a questão geográfica até mesmo por motivos emocionais, esquecendo que um grupo que se importa e se cuida deveria ser mais importante, afinal, em qualquer lugar essa “nova vida” será viável – ou não;
  • muitos apesar do ótimo caráter, ainda guardam o viés competitivo da sociedade onde vivem e “monetizam” tudo e exercem “disputas de poder” desnecessariamente, tipo, se eu aceitar tal lugar o proponente “ganha” e/ou “tem mais poder” (sempre me perguntei: porque não se juntar a quem já "migrou"? Os suportes e vantagens são variados e nada é necessariamente para sempre).
As que resistem e as que resistiram

Dentre as comunidades existentes e as que nem sequer existem mais, o problema mais comum não são/foram os conflitos (como poderia se supor inicialmente) ou o local geográfico do projeto, mas sim a completa falta de condição de se manter aquele e/ou naquele local.

Muitos abandonos de jovens idealistas que viram os novos exploradores (dos que eu conheci a maioria) e os demais que se deparam com suas próprias necessidades (às vezes maiores do que o discurso de simplicidade de outrora) e não conseguem as suprir somente com um monte de terra.

A fé ou o “pensamento positivo”**** (ou mágico como queira) não resolve nada.

Nesse momento, a coisa começa a ruir, pois a limitação material é total ou muito grande; alguém sofre um acidente e descobre que seria bom ter ao menos um UPA por perto e por aí vai.

Nessa preparação e para a saída da zona de conforto, admito que é entre os mais velhos a maior concentração dos cagões, ops, foi mal, chamaremos eufemisticamente de “cuidadosos”, afinal, eu admito que em parte estive entre eles.
Demorei pra dar um bico, mas uma hora a coisa tem que ir. CNTP não existem na vida.

Ó Senhor, os mortais médios tem salvação?

Eu diria que uma forma muito boa pra quem não tem uma fonte de renda mínima fora da cidade*****, ou fora do sistema (ao menos parcialmente) como dizem, é fazer com que esse grupo seja uma força de trabalho ao estilo cooperativa antes mesmo da terra em si. 

Isso gera mais segurança entre as pessoas, aumenta o sentido de cooperação e é um bom teste para saber como esse grupo vai se dar perante os problemas.

Vencido está etapa, a “transição” já foi efetuada de uma maneira menos traumática e os problemas da futura terra passam a ser apenas um item de um sistema colaborativo já implantado, ou ao menos parcialmente implantado.

Enfim, ao invés de conseguir reunir os 200 ou 250 mil****** e depois sair na pauleira pra conseguir manter a propriedade e a si mesmo (existem claro os que já tem alguma renda mais ou menos garantida por exemplo se tiver algum trabalho remoto ou coisa parecida), o grupo se prepara antecipadamente.

Operacionalmente imagino que locando uma propriedade que comporte as pessoas iniciais com privacidade entre si, segurança e possibilidade de se fazer algo que gere renda é, como dizem, cair pra dentro!

Claro que existem alguns ‘mas’ no ‘locando’, porém são de operacionalização mais rápida e prática do que toda uma aquisição e preparo de grandes áreas.

Enfim, vamos que vamos, sonhar com coisas é fácil: rápido de conseguir e mesmo frustrando, coloca-se outras coisas na fila de novo, mas sonhos sociais são bastante complexos. 😥


Notas exóticas de quem vos escreve
*Piada politicamente incorreta sobre o ataque de tubarões em Pernambuco.

**”Você não tem filhos e você não entende” é uma carteirada comum. Se ambos estivessem vivos e eu tivesse que perguntar algo sobre a Lua, o faria com certeza a  Carl Sagan e nunca a Neil Armstrong (captou?😉)
 
*** Novamente vou de Richard Sennet: “Nesses debates, vimos que adotar um caminho alternativo e solidário pode ser muito mais difícil e conflituoso do que seguir a maneira habitual de ação. Solidário e conflituoso não sendo, portanto, conceitos opostos, pois saber lidar com o conflito de forma respeitosa e acolhedora é o que faz um caminho solidário – e não a supressão do conflito.”

****Infelizmente (ou felizmente) nem a fé nem o “pensamento positivo” tem qualquer impacto na natureza (coloque a semente na terra e fique ali rezando e pensando que ela vai te dar frutos e vc verá que a que está do lado nas mesmas condições e sem esses “procedimentos” se comportará a grosso modo da mesma maneira). Sorry, Papai Noel não existe. 😢✌

*****Vida boa em cidades com mais de 100 mil habitantes é praticamente uma incongruência: falta de espaço, preços altos, violência latente (muito pior do que a violência clássica – se é que isso existe – é a violência latente nas pessoas todas), ar podre, falta de horizontes naturais... só isso dá outro texto...

******É uma coisa típica desse mundo: seja no Acre ou RS, se vc tem que chegar a uma terra de jegue, helicóptero ou teletransporte da Enterprise a terra é barata; se for perto de algum centro comercial, UPA, acesso a internet, etc, é mais caro. Pasmem, até as quantias são mais ou menos semelhantes! Parece como a origem do percentual dos alugueis que vem de um percentual médio que os aristocratas calcularam sobre suas terras, isto é, o quanto eu devo cobrar para que eu possa viver minha vida de ostentação e ócio não criativo, daí os tais +/-5% do valor da propriedade ao ano.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Tomei a pílula azul

Faz tempo que não trabalho diariamente. Escolha minha. 
Como eu sempre disse quero o timão* da minha vida, pois o meu (nosso) tempo é único e meus interesses são muitos.
(*para os corinthianos vou explicar: a roda do leme, não o aumentativo de time)

Não que eu tenha dinheiro ou qualquer outra facilidade, apenas acho que é mais lógico viver com simplicidade para ter o máximo de tempo para mim, portanto, mais tempo para ler um bom livro, ouvir boa música, assistir um bom filme, coçar o saco na rede da sacada, refletir sobre o mundo, entrar na minha oficina e fazer umas pecinhas ou, pura e simplesmente, contemplar o mar.

O fato foi que passei um trabalho (desenvolvimento de um site institucional) a um amigo que estava precisando de grana e ele simplesmente me enrolou semanas até que pulou fora.
Compreendo, em parte, suas explicações, mas o fato é que se eu não tivesse a total confiança do contratante e algum tempo reserva eu poderia ter ficado em maus lençois.

Desenvolvo software**  há muitos anos e fazer uma página da internet do estilo exigido poderia ser moleza para mim, mesmo estando meio "enferrujado" no assunto e, ainda por cima, faturar um troco extra. Preferi ajudar o dito cujo e, bem, o caldo entornou...
(**software no meu caso são desde programas que rodam em embarcados -  ex: a BIOS do seu computador, o sistema do seu celular, o programa para o controlador de uma câmera IP, o firmware do alarme da sua casa, etc - até os tradicionais aplicativos para PC/ruWindows)


Mas o que importa é que resolvi encarar de fazer o trabalho. Tomei a pílula azul.
Respirei fundo, tapei o nariz e vamos que vamos.
Uns dias de estudo e outros de execução.

A metáfora do filme dos irmãos (ou irmãs) Wachowski está meio gasta mas ainda é boa. O psicanalista lacaniano Jorge Forbes gosto muito também... 

Nesses dias nada me passava pela cabeça.
É acordar, ter aquelas providencias comuns e partir pro trabalho. 
Mesmo não precisando sair de casa (o que pioraria tudo), a noite era só cansaço e certo anestesiamento mental (Confortably Numb total).

Até certo ponto é compreensível o discurso comum do "gostar" de trabalhar e "amar" o que faz. O trabalho é um psicotrópico numa forma socialmente aceita e incentivada, com ele nada mais importa no mundo, muito menos o se deparar consigo mesmo.

É acordar, cumprir "coisas comezinhas", partir para o trabalho, voltar, "cumprir outras coisas comezinhas" e dormir. Depois de uns dias ir a um local onde os viciados se encontram (a cracolândia ou, como preferir a metáfora, o templo) - o shoping center - para trocar aqueles papeis ou valores virtuais conseguidos por algumas quinquilharias que amenizam essa completa ausência de sentido, ou ainda fazer reuniões sociais onde se fala (tchan!) de trabalho.

A sensação é a mesma que um Rivotril, um monte de pinga ou coisa semelhante. Um anestesiamento mental, um agradável torpor. Nada "desagradável" (nem de "agradável") passa pela cabeça pois trabalho é só trabalho, sem adjetivos morais (não é a toa que essa palavra não existe em inúmeras outras culturas). 
Nenhum questionamento. Nada. 
Trabalhando somos um nada que produz riqueza para alguns eleitos e porcarias para nos iludir.

(Não existe ficção desconectada da realidade. Lembremos que a arte imita ou interpreta a vida)

O efeito colateral é inevitável: nada criativo se faz; nada que amplie os horizontes se faz; nem sequer um tempo em silêncio contemplativo resta.

Talvez seja estranho para quem vive assim e assume essa ideologia (do trabalho/consumo) sem pestanejar, mas o incrível é que é idêntico.
Admito, é tentador.
Como qualquer droga que te afaste de você mesmo e do seu entorno, o trabalho é tentador.

Mas costumo deixar a pílula vermelha sempre na minha frente para quando eu começo a perder o controle...




quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Somos todos perdedores

Levante a mão quem está de saco cheio de histórias edificantes.

Com o final dos jogos olímpicos resta um fio de esperança de uma redução desses discursos.

"Quem sonha sempre alcança...",  "todos podem vencer...", "basta querer e focar...", blablabla.

O esporte, como não poderia deixar de ser, reflete o panorama social, e assim, sua ideologia.
Perdeu-se o esporte como atividade de socialização e confronto simulado saudável, para se ter um vencedor e um séquito de vencidos.
Criou-se o esporte de "alto nível" ou "profissional" onde, mais uma vez, criam-se canais para o escoamento de riquezas no tradicional sistema de convergência de capital.

Um mar de cidadãos gerando lucros exorbitantes para meia dúzia de indivíduos, em especial cartolas e patrocinadores, sem praticamente (ou totalmente) nenhum retorno a não ser uma histeria temporária que alivia frustrações e cria uma suposta identificação grupal.

Panem et circenses do ultraliberalismo. Um circo pago e um pão caríssimo e de má qualidade.



E a falácia da meritocracia desfila soberana, colocando a culpa sempre no "perdedor", como se os demais competidores "quisessem menos" ou "sonharam com menos intensidade".

É como o milagre religioso.
Claro que ele acontece, se não acontecer para você é porque você não teve fé o suficiente ou não foi abençoado.

Estranho é que nunca vi ou ouvi relatos confiáveis de um braço ou perna que crescem novamente num amputado.
Talvez nenhum deles tenha fé o suficiente...

Numa entrevista recente, Zygmunt Bauman se diz um pessimista a curto prazo e otimista a longo prazo. O caso incide em se o 'curto prazo' irá viabilizar algum 'longo prazo', ainda que ambos sejam conjecturas.
Supondo um 'curto prazo' entre quatro ou cinco gerações (que em termos históricos é um pulo) posso garantir que o otimismo passa a habitar a grande zona da ignorância e fatalmente da inexistência.

"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

Eu seria muito hipócrita (para não dizer filho da puta mesmo) se eu falasse para meu filho (se ele existisse) que basta ele sonhar e trabalhar arduamente para atingir seus objetivos.
O mundo atual foi feito para que esses burricos que correm atrás da cenoura carreguem os 1% nas costas, e a nossa "cenoura" são esses discursos edificantes e meritocráticos.


Não nego os méritos das pequenas conquistas nem a existência de uma ínfima amostragem de indivíduos que romperam o sistema de castas sociais, mas afirmar isso como realidade social e sistema justo e igualitário é uma insanidade.

Se até o desejar e o sonhar são aprendidos (vamos com Sartre), nada mais interessante que perpetuar uma ilusão do "pensar positivo", da "fé inabalável" e atualmente, das "energias positivas".



No fim todos falhamos. Somos todos perdedores.
Os maiores tiranos também foram depostos e/ou degolados pelos seus oprimidos e explorados, mas até lá muita desgraça é feita.
Ao menos gostaria de ouvir menos balelas e não ser obrigado a votar em quem me é oferecido na outra falácia: a de que vivemos numa democracia.







sábado, 17 de setembro de 2016

Sendo pragmático, como definir uma comunidade intencional?

Até minha 'patroa', que foi comigo nas duas primeiras visitas à comunidades, ainda tem resistência ao assunto.
André Comte-Sponville já escreveu sobre o grande trabalho do atual modelo socioeconômico em criar rejeição a qualquer coisa que cite coisas como 'comunitário', 'comunidade' ou termos adjacentes.

Mesmo entre os mais informados ainda há uma estranha rejeição e preconceito a algo que nossos pais ou avós já viveram. A minha maior estranheza está em demonstrar que nada nesse assunto (a não ser os termos e designações diferentes) é novo ou alternativo, e ainda assim provoca todo o tipo de 'xilique' (ainda que discreto e internalizado) nas pessoas.

Já dei um tapa por essas bandas nesse assunto aqui na parte 1, parte 2, parte 3 e neste alinhavamento tosco.

Mas tentando ser mais pragmático ou mais claro e, digamos, visual, sem usar termos que provoquem calafrios nas pessoas?

Ah os amigos...

Suponha que você tenha alguns amigos e familiares (às vezes acontece de termos parentes/amigos... é raro, mas acontece) que além do afeto questionam certas imbecilidades da vida moderna e, apesar das diferenças, estão abertos a discutir suas posições para viabilizar uma convivência mais próxima, racional e com mais qualidade de vida.
Suponhamos agora que todas essas pessoas resolvam morar no mesmo bairro, em casas separadas mas perto o suficiente para se verem quando for conveniente e útil a todos. 

Cada um tem seu espaço, nenhuma liberdade individual é afrontada e sua intimidade é respeitada, mas pode-se compartilhar recursos (telefone, internet, carona solidária, etc), trabalhar em grupo por projetos individuais e coletivos para as pessoas desse "bairro" ou do seu entorno, criar grupos de estudo em áreas diversas, otimizar as compras e uma série de outras coisas que um grupo tem mais força que um indivíduo.

Isso é péssimo para os negócios não é?
Como continuar o fluxo de convergência de capital com "essa gente"?
Como os manterei frustrados, ansiosos e angustiados para que consumam mais?
Como manter a sensação de segurança e suposta independência de viver "sozinho" e com as "suas coisas"?
Gente ociosa pensa. Gente que trabalha em comunhão também. Gente que pensa junto cresce e dissemina ideias...

Fácil perceber como esse assunto não é "conveniente" atualmente.

Na prática...

Bom, a Tibá começou assim.
Já fui 3 vezes lá e nas duas últimas dormi e ajudei nuns trampos.
Se não rolar a minha comunidade talvez me juntar a uma existente seja um caminho. Convite, para minha honra, eu já tive.

A Tibá começou numa república da UFSCAR, onde amigos estavam se lamentando que a vida os separaria de vez e imaginaram como seria legal se isso não acontecesse. Do imaginar passou-se ao 'por que não fazer'?

Resumindo, um grupo comprou uma propriedade grande (o fato de ser quase rural, é por uma evidente questão financeira, mas a qualidade de vida também pesa como critério de escolha) e esse grupo foi se moldando ao longo dos anos, como um organismo vivo, ajustes, gente que sai, gente que entra, conflitos pacificamente resolvidos, etc.

E o perfil das pessoas?

Nos meus primeiros contatos com as pessoas envolvidas com isso, a grande e grata surpresa foi o nível das pessoas.
Em geral gente extremamente amável (não hipócrita), inteligente e culta, ou no mínimo, aberta à discussões variadas. Nada de malucos preconceituosos (tirando a maioria - não todos - dos veganos que são malas pacas), coxinhas cheios de discursos de self made man, pregadores religiosos, reacionários higienistas e por aí vai.

Casais com filhos, casais sem filhos, rapazes e moças jovens, idosos, mas na maioria, dos mais "equilibradamente dispostos", pessoas da minha faixa etária (entre os 40 ou 50 anos).

Tem quem coma carne tem quem não coma. Tem quem reza tem quem sequer acredita em deus ou deuses.

Tem bastante 'gringo' também! Que moram ou que se hospedam já que há muitos intercâmbios entre as comunidades pelo mundo.

Nas profissões a coisa é diversificada também. Na Tibá tem gente com carreira (por exemplo, o grande Jayson e a Gleise são funcionários da UFSCAR na área de TI), gente autônoma como o Rogério e gente que largou tudo para viver somente pela e para a comunidade como o Fernandão (publicitário) e a Cacau (pedagoga).

Sim eles tem tarefas coletivas.
Tudo é dividido conforme as possibilidades de cada um, seja por limitação de tempo ou seja por limitação física.

A horta comunitária, no sistema de agroflorestal, teve um grande aumento quando o Fernandão resolveu se dedicar a isso integralmente. Hoje tem mais gente nesse GT (grupo de trabalho) e a comunidade já é auto suficiente em verduras, ficando o excedente para o Fernando negociar para si mesmo.

Tem gente que trabalha com as finanças internas, outros que contribuem com a comunicação ao público e por aí vai.

A César o que é de César...

Claro que existe uma formatação jurídica.
Como não existe nada específico para esse tema, usa-se uma associação de moradores, com CNPJ, conta PJ, contabilidade, etc.
Cada "sócio" necessita quitar um título (fração do imóvel) para ter usufruto de sua fração e das áreas comuns. Nenhuma novidade.
A grande "novidade" (no nosso contexto) está em fugir do conceito de propriedade e herança, coisas arcaicas e imorais que além de serem contrárias ao mérito são fator contribuinte à desigualdade social.

Os modos de quitação são variados e dependem de acordos individuais nas assembleias. Muitas aceitam escambo e trabalho como parte de pagamento ou até mesmo integralmente, pois, obviamente, exploração e lucro estão fora de uma comunidade intencional.

As despesas mensais e gastos extras são como um condomínio normal, mas muitas vezes existem as chamadas moedas solidárias que podem fazer com que não se necessite de dinheiro para a contribuição, evidentemente que o montante total de um jeito ou de outro precisa aparecer já que IPTU, energia elétrica, telefone, etc demandam dindin.

Mas o interessante nessa área é que sendo geralmente imóveis rurais (os cohousing em geral são urbanos e são outra categoria de comunidade intencional, comuns nos EUA por exemplo), naturalmente se fica fora do alvo das corporações e, no geral, de órgãos públicos, com isso, a microgeração de energia (sem os empecilhos habituais impostos pelas concessionárias) é mais viável, a água de captação alternativa e o próprio tratamento de esgoto são mais fáceis e menos passíveis de taxas, "alugadores" de CREA para as construções e uma série de outras coisas bacanas.

E as casas e o cotidiano?

Tem quem fez casa de alvenaria tradicional, tem quem fez de eucalipto tratado, tem contêiner transformado, casa de pau-a-pique e por aí vai. A única exigência é que todas tratem seu próprio esgoto, tenha coleta de água pluvial e umas outras medidas de conservação energética. Nada radical nem de difícil realização.

Na Tibá, a casa mais próxima uma da outra é separada por uns 50 metros.
Pra se ter uma ideia, aqui no meu bairro o padrão são lotes de 15x20 metros (em sampa 5x25 metros), portanto, muita casa por aqui é muro com muro.

Eles optaram por tomar café da manhã e almoçarem na casa mãe (local com escritório, biblioteca, cozinha e lavanderia coletiva pra quem não faz questão de ter a sua) juntos, no horário das crianças por facilidade, mas ninguém é obrigado a nada.

A beleza da coisa está no formato de uma colaboração espontânea, que surge de divisões e propostas dialogadas. Não que se negue ou se evite o conflito, pois o conflito, resolvido com diálogo respeitoso é a base da dinâmica social sadia.

“Nesses debates, vimos que adotar um caminho alternativo e solidário pode ser muito mais difícil e conflituoso do que seguir a maneira habitual de ação. Solidário e conflituoso não sendo, portanto, conceitos opostos, pois saber lidar com o conflito de forma respeitosa e acolhedora é o que faz um caminho solidário – e não a supressão do conflito.” (Richard Sennett)

Quem trabalha fora em tempo integral propõe suas formas de colaboração, ainda que às vezes financeira, tentando evitar a monetização e a exploração, mas não negando o dinheiro como um simples papel de troca, que no fim, é o que ele é.

Aparecem grupos de estudos, que muitas vezes se ligam a universidades para aprimorar e difundir conhecimentos, por vezes apoiando as comunidades no entorno como grupos de sem terra ou comunidades carentes. Uma forma realista de mudar o mundo, de maneira pequena e pontual, porém com um poder transformador imenso. Não é à toa que as comunidades estão pipocando pelo mundo todo.

A educação alias é um ponto forte e comum em quase todas. Escolas experimentais internas e para o entorno, educação plena e libertária, difusão de conhecimento para melhoria de vida de populações ribeirinhas e carentes e por aí vai. Muito lindo. Também não é à toa que há um grande número de educadores e professores universitários envolvidos com o tema.

Ah, sim, ninguém fica atazanando o vizinho o tempo todo não! Existem até algumas comunidades que se coloca uma bandeira na porta do tipo "disponível" ou "indisponível", afinal, colaboração e convívio não impedem os sadios momentos de individualidade.

Minha mãe disse: mas isso é o que sempre fazíamos antigamente!?

Apesar de muitos chamarem essas comunidades de "alternativas", "hippies", etc, elas nada mais são do que o retorno à decência (não no sentido moralista da coisa, mesmo porque o moralismo não é moral), ou seja, um viver com cooperação, troca, aprendizado e respeito, sem negar a importância da individualidade sadia e muito menos as diferenças, afinal, são elas que nos fazem crescer.

Não se vira às costas à tecnologia e as conquistas modernas, mas as coloca na sua posição de servidoras e não de escravizadoras e dotadas de um fetiche insano e destrutivo.
É um retorno ao mutirão, ao vizinho amigo, a partilha justa, a racionalidade no consumo, a um uso responsável dos recursos naturais, a responsabilidade com as futuras gerações, a troca de saberes, a valorização do conhecimento ancestral e tudo que nos foi surrupiado.

Para esse pós-capitalismo  funcionar ele depende da ignorância (ainda que muito bem formada tecnicamente e cheia de títulos acadêmicos), ou seja, o ignorar o outro e os conhecimentos antigos, enfim, é o olhar de curto alcance e de espectro reduzido, o explorar tudo e a todos sem nenhuma moral.

Evidentemente existem comunidade religiosas (como os veganos por exemplo! rsrs) e dogmáticas, mas elas não se enquadram nos conceitos internacionalmente propostos pelos grupos que difundem os ideais das comunidades intencionais.

Como eu disse no meu surto/post anterior, não sei se o meu (não no sentido de posse mas no sentido de participação) grupo decola ou não, se desmantela ou não e se meu tempo bate com o de todos lá, mas me recuso a abrir mão desses ideais em que eu já simpatizava antes de saber que existia um nome e um movimento com tais propósitos.

Prefiro morrer frustrado (uma a mais uma a menos não faz muita diferença) a achar que não existe outra alternativa, ou pior ainda, responsabilizar minha impossibilidade de ser flexível a condições externas ou pessoas.

Mas quem sou eu para definir o certo... mas o errado é de demonstração bastante simples.






sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Indo... pra onde?

Talvez meu último bom sonho tenha se desmilinguido...


Para mim sonhos não tem absolutamente nada a ver com posses, aquisições, acúmulos e todas as “vitórias” e “virtudes” modernas das quais o senso comum atual alardeia.


Meu último sonho, ou o que se parece ser o último, foi uma comunidade intencional.


No fim, para simplificar, seria a aquela coisa básica e supostamente lógica de um grupo de pessoas que se gostam (ou que se toleram como queira) que juntam forças para viver melhor, em alguma harmonia (dentro do que se pode esperar de boa convivência coletiva... vide Freud e a origem das neuroses...) e seguindo uma trilha oposta ao que o status quo determina.


Ao ingressar no meio virtual para essa busca dos desgarrados, eu sabia que havia um risco enorme de que a representação estatística não se alteraria em nenhuma mídia.


Dito e feito.

Assim como a TV (aberta ou fechada) representa uma maioria, as mídias sociais virtuais também.

Se por um lado a minha racionalidade me dizia o inevitável, por outro, a da esperança (admito que, parafraseando Nelson Rodrigues, a esperança é a última ferramenta dos medíocres) me dizia que em algum lugar eu encontraria os desgarrados que como eu gostariam de se juntar.


Apesar de uma pequena amostragem positiva, o “medo” do novo, da mudança e da possibilidade de se “abrir mão” (coisas cuidadosamente implantadas pela educação da sociedade atual) minam qualquer resistência. Os grupos se desfaçelam como um gás na atmosfera...


Não tenho mágoas com ninguém especificamente, talvez comigo mesmo por ter tido uma vã esperança de que haveria alguma opção.


Não tenho necessidade material (acho fácil obter “sucesso” no mundo atual), mas acho imensamente triste e desalentador ter como muleta “esse mundo” e “essa solução”.


Muitos amigos já perdi para “esse mundo”.

Apesar do discurso deles, eles também se perderam e se dissolveram nessa sociedade supostamente meritocrática, de recompensas que te escravizam e de uma vida doentiamente faraônica. Os pobres coitados se esqueceram de estudar a moral e a história...


Então, o que resta para mim?

Viver como um zumbi acumulando todas as “doenças da civilização” ou continuar minha caminhada pelo que suponho ser o justo e a alternativa (importante ter em mente que não busco o “certo”, mas sim a alternativa de algo que com certeza está errado)?


Minha experiência com a mudança, o inesperado e o abrir mão foi positiva até agora. Não tenho porque abandoná-la.

Mas não nego minha tristeza e frustração de que não tenha companhia para uma tentativa (ainda que pífia) de um mundo mais justo, igualitário e melhor.


Como qualquer diário, esse meu registro solitário me ancorará – ainda que num terreno arenoso como qualquer ‘verdade’ – em algo que eu venha a pensar no futuro.


Possivelmente esse texto não fará o menor sentido para ninguém a não ser eu mesmo... os diários tem essa característica... qualquer um que não ligue para “audiência”, “seguidores”, “likes” e todo esse mundo pavoroso talvez pense em algo... talvez...

quarta-feira, 13 de julho de 2016

No dia do rock

Foi o radialista Alan Freed que cunhou o nome Rock 'n' Roll ao ouvir Chuck Berry e outros.

O blues de 12 compassos, com toques de jazz, country e soul, nos presenteou com algo eterno.

Long live Rock 'n' Roll!

Neste dia de comemoração, um capítulo que vale a pena nesta época de escassez musical, onde a mediocridade acachapante impera.



quarta-feira, 25 de maio de 2016

A quem interessa a satanização dos impostos e o mito da austeridade

Se não aprendemos com a história antiga, talvez com a recente... a falácia da satanização dos impostos e o mito da austeridade...

Nem os liberais toleram os ultraliberais... se voe não entende deveria reler Adam Smith e claro incluir seus ensaios sobre a moralidade humana...
 

Em busca dos booms perdidos –Paul Krugman

23/5/2016 – Da Folha (antes que proíbam de acessar...)
 
Se Hillary Clinton vencer em novembro, Bill Clinton ocupará um papel duplo único na história política dos Estados Unidos, tornando-se não só o primeiro Primeiro Marido, mas também o primeiro Primeiro Cônjuge que um dia foi presidente. É evidente que ele não passará seu tempo fazendo bolos. O que ele fará, então? 
 
Na semana passada, Hillary Clinton causou muitos comentários ao sugerir que Bill Clinton teria como tarefa "revitalizar a economia". Pode-se entender por que ela desejaria fazer uma afirmação como essa, já que as pessoas ainda se lembram de como as coisas eram boas quando seu marido era presidente. No entanto, a forma pela qual esse papel seria definido na prática, hoje, é muito menos clara. 

Mas pouco importa. O que quero fazer aqui é falar sobre as lições que o boom de Clinton 1º pode oferecer para a administração da segunda Clinton. 

Para começar, foi realmente um boom impressionante, e de certa maneira é estranho que os democratas não falem mais sobre ele. Afinal, os republicanos evocam constantemente os milagres de São Reagan para justificar sua fé na teoria econômica do supply-side. Mas a expansão da era de Clinton ultrapassou a economia da era Reagan em todas as dimensões. Bill Clinton não presidiu só sobre uma criação de empregos maior ou a um crescimento mais rápido; seus dois mandatos também foram caracterizados por algo que esteve notoriamente ausente na era Reagan: um aumento significativo nos salários reais dos trabalhadores comuns. 

Mas por que a economia era tão boa na era Clinton? Não foi porque o presidente tivesse um toque mágico, ainda que ele tenha feito um bom trabalho na resposta a crises. O principal é que ele teve a sorte de estar no poder quando coisas boas estavam acontecendo por motivos que não se relacionam à política. 

Especificamente, os anos 90 foram a década em que as empresas norte-americanas enfim compreenderam o que fazer com computadores —a década na qual os escritórios se interconectaram em redes, na qual grupos de varejo como a Wal-Mart aprenderam a usar a tecnologia da informação para administrar estoques e coordenar atividades com os fornecedores. Isso levou a uma grande disparada na produtividade, que havia crescido apenas lentamente nas duas décadas precedentes. 

A decolagem da tecnologia também ajudou a alimentar uma disparada nos investimentos em negócios, que por sua vez produziu criação de empregos em ritmo que, pelo final dos anos 90, havia resultado em verdadeiro pleno emprego para os Estados Unidos. E o pleno emprego foi a força que causou a alta dos salários nos anos 90. 

Oh, e, sim, houve uma bolha da tecnologia no final da década, mas ela representou parte bem pequena da história e, porque não aconteceu grande alta no endividamento privado, o dano causado quando a bolha da tecnologia estourou foi muito menor do que a calamidade deixada pela bolha da habitação nos anos Bush. 

Mas de volta ao boom: qual foi o papel de Bill Clinton? Na verdade, foi bastante limitado, porque não foi ele que causou a decolagem da tecnologia. Por outro lado, suas políticas obviamente não se puseram no caminho da prosperidade. 

E vale lembrar que, em 1993, quando Clinton aumentou os impostos dos ricos, os republicanos uniformemente previram um desastre. O aumento "matará a recuperação e nos colocará de novo em recessão", previu Newt Gingrich. A economia será colocada "na sarjeta", previu John Kasich. Nada disso aconteceu, o que não impediu as mesmas pessoas de fazerem as mesmas predições quando o presidente Obama aumentou os impostos em 2013— decisão seguida pelo maior crescimento no emprego desde os anos 90.
 
Uma grande lição do boom dos anos Clinton, portanto, é de que a conclusão que os conservadores desejam que você extraia de sua constante idolatria a Reagan —a de que cortar os impostos dos ricos é a chave para a prosperidade, e que qualquer alta na alíquota paga pelas pessoas de alta renda atrairá represálias da mão invisível— é complemente falsa. 

Hillary Clinton está propondo cerca de US$ 1 trilhão a mais em impostos sobre o 1% mais rico dos norte-americanos, para pagar por novos programas. Se ela vencer e tentar implementar essa política, os habituais suspeitos farão os usuais alertas funestos, mas não existe qualquer razão para acreditar que a agenda dela prejudicaria a economia. 

A outra grande lição do boom dos anos de Bill Clinton é que embora haja muitas coisas que as autoridades econômicas possam e devam fazer para elevar os salários, a ajuda mais importante que podem dar aos trabalhadores é buscar o pleno emprego.
Infelizmente, não poderemos contar com nova disparada espontânea no investimento privado, movida pela tecnologia, para propelir a criação de empregos. Mas algumas formas de investimento privado poderiam crescer rapidamente se tomarmos medidas já muito postergadas de combate à mudança do clima. 

E, de qualquer forma, nem todo investimento produtivo é privado. Precisamos desesperadamente reparar e melhorar nossa infraestrutura; enquanto isso, o governo federal pode capturar recursos a custo incrivelmente baixo. Assim, existem argumentos esmagadores em favor de uma alta no investimento público, e um benefício colateral de uma alta como essa seria o pleno emprego, que pode produzir uma nova era de alta de salários.
Assim, Bill Clinton desempenhará papel importante caso Hillary Clinton vença? Não faço ideia, e nem me importa muito. Mas será importante lembrar o que deu certo, e por quê, no governo de Bill. 


Um pouco mais sobre o mito da “austeridade” e sobre quem vai pagar a conta novamente: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/06/opinion/1446812749_342441.html

Pois já interpreta bem qualquer Smithiano, que ser contra o ultraliberalismo não é ser contra o liberalismo: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/01/15/economia/1452864526_260183.html

domingo, 3 de abril de 2016

Feira da cannabis em Denver

Enquanto "aqui fora" reina a hipocrisia, "lá dentro" no primeiro mundo alguns passos são dados...

Algumas fotos de feira da cannabis em Denver!


"Sabores"

Mudas, tipos e indicações.

Receitas alternativas.

Utensílios e acessórios.

Estufa. Negócio profiça! :)

sábado, 19 de março de 2016

Semana deprimente

Primeiro foi “A grande aposta” ("The big short")... a ficção verdadeira. Quando Hollywood faz uma crítica ao sistema socioeconômico vigente é porque a coisa realmente tá feia. Verdade, fiquei deprimido... mas já tinha visto "Inside jobs" que é um documentário e que também recomendo.
Depois foi “Trumbo” (não sei se é um fato ou é ficção: “Bem, há muitas pessoas raivosas e ignorantes no mundo. Parecem estar se reproduzindo em número recorde.” - Trumbo) e a cruzada irracional contra os "comunistas".
E por fim, um desconhecido (eu) recebe uma ligação da Dell para participar de um programa de “vantagens e recompensas” para os consultores que recomendam a marca. Minha resposta deixou o cidadão momentaneamente mudo (possivelmente não entendeu nada). Apenas lhe disse que por esse tipo de coisa é que eu tinha largado os negócios... as negociatas, o toma lá da cá, as “recompensas”, as “vantagens”, enfim, fazer com que toda e qualquer atividade que gere lucro justifique qualquer imoralidade (legal ou ilegal).

Não se engane: a moralidade e a decência são as atitudes individuais e comezinhas. Todo o resto é decorrência. Como disse o Leandro Karnal, o primeiro registro de corrupção no Brasil foi a carta de Caminha (com o autor pedindo um emprego pro sobrinho ao imperador).

A separação da economia das ciências humanas e por consequência de sua ligação com a moral destruiu a malha social, fazendo com que todos sejam corruptos em pequena ou grande escala, mas para o outro se dá esse nome, corrupcão, para si mesmo se dá o nome de "comissão", "vantagem", "recompensa", "agilidade no negócio", etc.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Mais auto-testes

Fiz um pequeno exame de sangue há poucos dias.
Os outros exames, para fins do que desejo defender, não vem ao caso.
 
Primeiramente deve-se considerar que sou um ser humano “normal” praticamente igual a todos os meus pares de espécie. Nada muito diferente existe entre nós, exceto em alguns POUCOS (percentualmente) casos de doenças hereditárias, má formações genéticas, etc.
 
Há muitos tempo sou contrário a pirâmide nutricional convencional (pouca gordura, médios carbos, muitos vegetais) e aos dogmas alimentares sustentados em boa parte pela indústria alimentícia, pesquisas financiadas pelas mesmas e um mar de médicos inaptos ao exercício da profissão
 
Sempre fui um praticante contumaz de atividades físicas e consumidor ávido de proteínas e gorduras com pouco ou em algumas épocas nenhum carboidrato. Nunca tive nenhuma alteração considerada “anormal” em minhas taxas de triglicérides, colesterol, etc.
 
Há dois anos parei completamente TODA atividade física. Uma sequência de lesões culminando com diagnósticos bastante péssimos com diferentes especialistas me deu a perspectiva de que só poderia fazer atividades leves.
 
Como não sou muito a feito a coisas “leves” optei pelo ‘foda-se’ e aproveitei para fazer outros testes comigo mesmo, para comprovar que Darwin realmente estava certo.
Imaginei que, sendo uma pessoa não submetida ao stress da sociedade competitiva (vivo de maneira simples como escolhi por isso me dou ao luxo - isso sim é luxo - de trabalhar muito pouco e ter muito tempo livre), nada que eu comesse (desde que bem pouco) me faria mal, ainda que completamente sedentário.
 
Evoluímos para sobreviver e passar privações, porém nos últimos 100 anos em especial fomos educados a termos todos os desejos realizados e a não sermos submetidos a frustrações sem compensação.
A nossa biofísica indica que evoluímos para comer qualquer coisa que nos forneça energia para sobreviver e quase nada nos faz mal (evidentemente que estamos falando de coisas que os animais comem e livres de venenos ou substâncias notadamente tóxicas), porém, em quantidades bem pequenas, pois era o que conseguimos obter na competição direta com outros animais.
 
Como eu disse, nos últimos dois anos a atividade física foi ZERO. Nem sequer atravessar a rua eu fiz.
A dieta foi a do tipo tosca, com muita pizza, cachorro quente cheio de maionese, miojo, pururuca, frango frito, omelete e por aí vai. Fora a ausência completa de horários e regras. A única regra foi a que, seja lá o que comesse, que fosse pouco.
 
Alguns dias chegava a fazer apenas uma refeição no dia.
 
Resultado (primeiro o obtido depois o desejado):
 
  • DOSAGEM DE ÁCIDO ÚRICO:  5.2 mg/dL - MASCULINO: 2.5 a 7.0 mg/dL
  • HDL - COLESTEROL: 69 mg/dL - Superior a 40 mg/dL
  • LDL - COLESTEROL: 90 mg/dL - Ótimo: Inferior a 100 mg/dL
  • DOSAGEM DE COLESTEROL: 182 mg/dL  - Desejável: Inferior a 200 mg/dL
  • DOSAGEM DE GLICOSE: 101 mg/dL - 70 a 99 mg/dL
  • TRIGLICÉRIDES : 116 mg/dL – Ótimo: Inferior a 150 mg/dL
  • HORM. TIREOESTIMULANTE (TSH) : 0.847 uUI/mL - 0.270 a 4.50 uUI/mL
 
Os resultados, até para o que eu esperava, foram surpreendentemente bons. A dosagem de glicose foi ligeiramente acima do máximo. Além de poder ser uma oscilação normal devemos acrescer às tolerâncias das medições.
 
Evidentemente que isso não é uma pesquisa válida e nem sequer uma sugestão de vida, porém, associados ao que se temos notícias dos grandes longevos do mundo, a uma forte indicação que não é a comida nem o sedentarismo nosso grande vilão, mas sim, a maldita sociedade competitiva e individualista em que estamos (estão, eu tô com um pé fora) submetidos.
 
A longo prazo o que aconteceria (ou o que vai acontecer)?
Ninguém pode afirmar, nem ao menos as péssimas pesquisas dirigidas que temos.
Apenas como exemplo, quando ler uma pesquisa verifique quem fez, qual o instituto e qual o patrocinador direto e indireto. Soma-se a isso a péssima (intencional ou não)  amostragem, que é sempre muito homogênea: populações urbanas culturalmente semelhantes e submetidos à mesma insalubridade.
Por que não pegar 1000 inuítes, 1000 paulistanos, 1000 guaranis, 1000 aborígenes, 1000 etíopes, etc?
 
Agora, se você for no tal médico reducionista, se for início de diabetes te darão metformina, se for colesterol alto te darão alguma estatina, se o T3 tiver baixo te darão alguma tiroxina, e por aí vai.
 
O comum em toda a recomendação vai ser o chavão: "dieta e exercícios".

A vida das pessoas ficou péssima. Gente sujeita a stress diário, relacionamentos ruins, intolerância à frustração, falta de significância no trabalho, falta de atividades criativas e intelectuais e uma completa incompreensão da diferença de trabalho e labor.

E a culpa, veja só, é do toucinho...