sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Narcisocracias e a elite paulistana

Há uns meses houve um buchicho sobre uma ação no Ministério Público sobre a exigência de uniformes brancos para a entrada de babás nos clubes de elite paulistanos.
Se quiser dar uma expiada clique aqui.

A questão dizia (ou diz já que parece ter havido reabertura) respeito ao julgamento de preconceito, ou mais precisamente prática discriminatória.

Recentemente fui convidado a ir num desses clubes do qual eu nunca entraria sem ser convidado, primeiro porque eu me recusaria a participar dum covil de elitistas nojentos e depois porque não tenho o menor cacife financeiro para tal.

O convite partiu do tio da patroa, que é um ex-ministro e que é sócio remido do tal clube, que ocupa um quarteirão inteiro numa das áreas mais caras da capital paulista.
Detalhe: este clube não paga nenhum imposto por que é de "utilidade pública".

Minha patroa faz parte da "parte pobre" da família e eu, um adendo, mais pobre ainda. Não é nenhum choramingo ou lamento. Quando larguei tudo em sampa pra viver numa cidade pequena fiz uma escolha consciente de que minha prioridade é ter tempo e não dinheiro, além do mais, não pactuo com certa ética tortuosa que explora pessoas e meio ambiente com objetivo único de acúmulo sem sentido.

A parte "bem sucedida" da família é composta por diplomatas, ex-ministros, procuradores, etc. Não citarei nomes. Não é conveniente nem vem ao caso.

Quando cheguei com minha "antiguidade" no estacionamento o segurança já veio a minha porta perguntando se eu estava indo no jantar do Dr Fulano (o tio da patroa).

Nota: se eu fosse negro, mulato ou "com má aparência" ele provavelmente teria chegado na janela e dito que a entrada de serviço era outra.

Parei numa vaga em meio a veículos que eu nem sei o nome (admito que não tenho interesse nenhum nesse assunto). Tudo lindamente automatizado, limpo e cheio de "serviçais" rondando para lá e para cá.

Ao chegar na recepção novamente outro gentil segurança me solicita o nome para providenciar a liberação. "Obviamente" que um branco, alto, magro e com "boa aparência" só poderia estar indo no jantar do Dr Fulano.

A moça que libera a catraca me pergunta se eu já havia vindo ao clube. Retruquei dizendo que só teria vindo antes se fosse para sequestrar alguém.
Ela riu e liberou a catraca.
Alguns sócios chiques ficaram me olhando de alto a baixo.

O local é muito bonito mesmo, com piscinas enormes de tudo o que é tipo, quadras perfeitas aos montes, prédios (sim prédios) sociais com restaurantes variados e tudo o que pessoas "de bem" tem direito.

A elite paulistana (como qualquer outra generalizando) é aquela nojeira.
Há uma nítida atmosfera de esnobismo e segregação descarada. Os "serviçais", como em qualquer feudo, são tratados descaradamente como gente de segunda classe, quase que como 'leprosos'.

No hall do prédio onde seria a recepção do titio Dr Fulano, Chandon para todos, canapés e gente de nariz empinado se medindo.
Não posso reclamar especificamente da "família". Sempre me trataram bem, afinal eu sou um "sujeito excêntrico que gosta de uma vida simples".

Mais uma nota: a "família" tem outro caso semelhante ao meu, mas como o cara é "chicano" ele é "um pobre coitado sem eira nem beira", ou, no linguajar "deles" um "tocador de banjo". Admito que uso minha prerrogativa "branca alta com bom vocabulário", mas por uma boa causa.

O jantar teve direito a ex-governadores atirando confetes e diretoria do clube puxando o saco em discursos 'engraçadinhos'. Não se enganem todos tem diversas filiações políticas e todos defendem a mesma elite, ainda que troquem farpas na grande mídia.

Comi duas coisas que nunca havia comido antes.
Montes de foie gras (achei que isso havia sido proibido - se bem que a lei não é para todos) e trufa negra.
Os coitados dos gansos são torturados a toa, já que fígado de galinha com bastante manteiga tem o mesmo gosto e consistência.
E a tal trufa negra incorpora certo gosto de queimado/defumado na comida. É como quando minha mãe faz aquele molho em que a carne da uma queimadinha no fundo. Prefiro a comida da minha mãe.

Parece algo simplista e generalizante afirmar que a elite de fato é nojenta (no sentido amplo da palavra: elitista, preconceituosa, egoísta, narcisista, imoral e desprezível) mas a despeito de detalhes a cerca da nossa formação socioeconômica, é possível se reduzir a isso.

Não fosse pelo mau que causam a maioria eu teria pena e desprezo por eles, mas sabendo que há tempos nenhuma riqueza e poder vem pelo mérito exclusivamente e sem fatalmente explorar uma maioria e o meio ambiente direta ou indiretamente, não ficaria triste se num domingo ensolarado o EI resolvesse explodir o local.

Dada nossa total falta de representatividade e para evitar ilegalidades acho que o melhor é retirar o poder dessa gente virando as costas a esse modelo socioeconômico. 1 tonelada de ouro não vale nada em Júpiter...

Enquanto Paul Krugman sugere que as democracias estão virando uma "narcisocracia" comandadas por elites doentes - em suas palavras “egomaníacos mimados” e “monstruosamente autocentrados”, se ele conhecesse o Brasil acharia que nossa democracia é uma "feudocracia".



segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

E lá se foi mais um dos grandes...

Minha homenagem ao grande David Bowie.
Admito que eu não curtia tudo dele, mas respeitava demais sua arte.
Seu viés "empreendedorístico" na produção e nos agenciamentos também me incomodava bastante.
 
Sua voz era inconfundível e a primeira vez que eu o ouvi foi em Under Pressure com o Queen.
Depois fui fuçar em mais coisas suas e adorei "Tonight" e essa sua fase .






Dizem as lendas que o grande Ian Fraiser (Lemmy) Kilmister, que começou como roadie do Jimi Hendrix, montou sua primeira banda com equipamentos roubados de Bowie... ligação é ligação ué!?

domingo, 3 de janeiro de 2016

Viajar é...

Enfim acabei cedendo à amolação da conjugue e acabei viajando no fim de ano.


Para definir sinteticamente o que é viajar vamos avaliar algumas questões lógicas e categorizar algumas coisas.

Supondo que seu lar não seja apenas um dormitório, ou seja, aqueles locais onde as pessoas que trabalham o dia inteiro passam a noite para no dia seguinte voltar a trabalhar e no fim de semana tentar se recompor para voltar a trabalhar na semana seguinte, supõe-se que o lar seja um lugar onde estão todas as coisas que você gosta, preza e de fato você curte cotidianamente. É aquela área do felino que eles urinam em cada canto pra demarcar seu espaço.

Independente de sua condição sócio-econômica, o lar (como eu disse no início, se não for o “cubículo-dormitório”) é aquele canto mágico onde estão todos os seus símbolos pessoais de aconchego e segurança. Ancestralmente, nenhum lugar pode ser melhor que este.

Então por que diabos me atormentam para sair dele???

Desculpas bizarras sobre conhecer outros locais, pessoas e culturas é uma balela. A maioria (creio que todas) das pessoas “viajadas” que conheço são as mais ignorantes, e pior, arrogantes da “turma”.

Em geral são os bossais que tiram foto “segurando” a Torre de Pisa (e demais poses e selfies a la facebook) e compram quinquilharias (que tem na 25 de março) de lembrança para amigos e parentes.

“Cultura”?! Só de passagem sem fazer outras consultas e forçar a memória, Kant nunca saiu de seu vilarejo e mesmo assim se tornou um dos grandes filósofos da modernidade.

Ninguém adquiri cultura fora se não tiver cultura antes de sair.
Paradoxalmente depois de construir (um caminho infinito) certa bagagem cultural percebe-se que “não é preciso ir a Lua para conhece-la razoavelmente bem”.

Enfim, depois do trânsito (ainda que pouco, admito, já que fui há um local rural isolado), sorrisos hipócritas a desconhecidos e papo de elevador com companheiros de cela, ops, de pousada, pude sintetizar minha definição de viagem:

Viajar é deixar tudo o que você gosta para trás e ainda por cima pagar por isso.