sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Preciso de um pagé II - A revanche


Um grande amigo meu, de 40 anos, foi diagnosticado com pênfigo vulgar. Causa desconhecida.
Curiosamente as crises começaram praticamente junto ao anúncio de sua paternidade, que veio somar-se às suas preocupações com a saúde dos pais. O trabalho (TODOS) como atividade insalubre eu nem me darei ao trabalho de citar.
Apenas pra constar, o remédio número 1 foi uma cortisona. Se alguém leu meu post da "parte 1"...

Em dezembro, a esposa de um amigo teve uma parada cardíaca e morreu. Jovem (41 anos), "saudável", magra, não sedentária, com relacionamento estável e 2 filhos. A causa, claro, desconhecida.

Também no ano passado, um amigo jovem (31 anos), "saudável", magro, não sedentário e que ainda por cima ia ao médico pra qualquer unha encravada foi internado numa sexta-feira para tratar um início de leucemia. Oito dias depois faleceu deixando filho e esposa. A causa para a doença (apesar da explicação simplória sobre os glóbulos brancos) e a rapidez do óbito foi desconhecida.

Um jovem estagiário meu (que depois virou meu amigo —devo ser um péssimo chefe!) foi para o médico com suspeita de pneumonia. Acharam um coração duas vezes maior que o normal. Descartada a Doença de Chagas, a causa é desconhecida. O fato dele ter virado funcionário público, cumprir horários, ter resolvido abrir um negócio "nas horas vagas" e estar no início de casamento (não que eu seja contra o casamento, até porque sou casado há 11 anos - mas tem aquele período de tensão inicial, principalmente pra quem sempre morou com a família) nem sequer foi mencionado.

Um jovem amigo de academia, com 28 anos, teve as famosas Síndrome Metabólica e Doença Celíaca. Por coincidência, justamente quando assumiu a empresa familiar e estava pra se casar.

Outro amigo, esse uns 49 anos, depois de alguns problemas e de idas e vindas a 'especialistas', foi diagnosticado com, claro, Síndrome Metabólica (ok, a Gota veio de brinde). As origens, bem,  são desconhecidas.

Todas essas pessoas me conhecem ou conheciam, um vagabundo assumido.
Não, não dependo de ninguém, nem nasci rico.
Apenas trabalho o mínimo pra me manter vivo e disponibilizo o máximo de tempo pra mim e para as pessoas que gosto, ainda que ultimamente em reclusão.
Em nossa sociedade doente eu sou um vagabundo e mal sucedido. Quase um marginal.
Não que eu não tenha meus conflitos e angústias, O Coisa, por definição, é duro por fora e mole por dentro, mas essa infelicidade crônica que transparece em muitos, e acima de tudo, essa ilusão do trabalho, do status e da seriedade da vida eu já joguei fora faz tempo.

Um cliente ficou estarrecido quando respondi à sua pergunta: "mas você não quer crescer?" (no sentido empreendedor) com um lacônico "não". E quase infartou quando respondi à próxima: "mas você não deseja comprar nada?" (hesitei um pouco para ter certeza) com outro "não".
Só faltou jogar sal grosso e água benta em mim.

Não vou entrar em discussões teóricas sobre sociedade de consumo, fetiches e status.
Quero ser mais prosaico. Isso é quase um desabafo. Acho que é apenas um desabafo.

Todos, razoavelmente cultos e instruídos, concordavam comigo sobre a idiotice que é esse ritmo absurdo de trabalho, essa desnecessária necessidade de consumo e essa falta de sentido na vida (o Monty Pyton é mais cômico com isso, mas não menos provocador).
Alguns diziam invejar o meu modo de vida e riam quando eu contava minha fábula do demônio pós-moderno.
   
Eu falo a eles que o nosso demônio, vulgo sociedade, é mais sádico e cruel que o das fábulas.
O das fábulas te fornece prazeres infindáveis durante a vida e cobra "apenas" a sua alma.
O nosso não te dá nada, fica com a sua vida e promete uma velhice supostamente mais segura.

Contudo, psicoticamente todos continuaram sua insanidade temporária. Ela costuma durar uns 75 anos apenas.
É possível que alguns atribuam a maus espíritos, mau olhado, Deus ou qualquer outra bobagem do gênero. Acho que essa educação desgraçada que temos emburrece mesmo os mais instruídos para alguns assuntos e,  principalmente, para a sua autoestima, que requisita suas comprinhas tolas, a frustração generalizada que requer certos mimos compensatórios e algumas distorções entre o que se quer e o que se deseja.

Sobre os diagnósticos e a medicina, lembrei do Raul Seixas e "Dr. Pacheco". Singelo. Simples mesmo. Maravilhoso.

Novamente, não quero entrar em discussões filosóficas sobre a morbidez dessa vida. Parece algo paradoxal, mas não há necessidade de ser um gênio para perceber a obviedade e a clareza disso.

É um desabafo puro e simples.
Um luto pelos que já se foram de fato e pelos que já não vivem mais.


"A moral do 'bem-estar consumista' nem nos trouxe alento nem consolação. Antes, vivíamos para a felicidade que, raramente, chegávamos a ter; hoje, matamos para continuar tendo a infelicidade que já temos." - Jurandir Freire Costa

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ateu, graças a Deus!

Sempre fui ateu. Hoje tenho mais certeza do que nunca.
Em casa fomos educados para ter razoável opção de escolha. Quando havia aula de religião, que não era obrigatória, minha mãe dizia às diretoras: "Se ele não quiser ir ele não vai.".

Como diz o biólogo Richard Dawkins, "não existe criança judia, criança católica, criança heterossexual e outros, apenas criança". Aliás ele prega uma ausência de educação religiosa, pois alega que você deve escolher a sua religião quando tiver ferramentas intelectuais para tanto.
Mas como deixariam de massacrar as crianças?
Se esperarem as pobres coitadas terem discernimento para escolher, elas nunca escolheriam crer em Deus e muito menos ter religião.

Sempre "respeitei" as religiões, mas há alguns anos declarei guerra (a minha jihad - segundo o profeta Muhhamad, jihad é uma luta do indivíduo consigo mesmo, pelo domínio da alma) a elas.

Primeiro porque elas nunca me respeitaram. Constantemente fui obrigado a engolir calado as "reencarnações", "vai com Deus", "se Deus quiser", "ore muito" e por aí vai. Claro que muitas vezes são apenas expressões linguísticas, que aliás, são propositalmente mal interpretadas pelos teístas (ou jornalistas de quinta) quando um cientista as utiliza, ou a algum conceito qualquer quando se referem a Deus.

Segundo porque respeitar não significa engolir calado e não questionar.

Por fim, ser ateu é pior do que ser um tuberculoso (pelo menos a eles cabia algum charme durante o Romantismo), leproso ou junkie.
Temos a delegacia da mulher, estatuto da criança, estatuto do idoso, cotas raciais e por aí vai. Também quero o estatuto do ateu.
Nesse país, a discriminação e a segregação é institucionalizada por supostas leis de proteção.

Mr. Dawkins me estimulou a não engolir mais essas bobagens.
Seu livro "Deus, um delírio" é uma delícia de ler. Chega a ser cômico. Eu desafio qualquer teísta a lê-lo.
   
Menos agressivo mas tão bom quanto posso citar "Um mundo assolado pelos demônios" de Carl Sagan (um ateu convicto, apesar de sempre evitar atritos) e dele também "Variedades da Experiência Científica".
Ah! Apenas pra constar, ele e sua esposa Ann Druyan, escreveram vários manifestos em prol da não criminalização do aborto, mas isso fica pra outro dia.

A maior parte das pessoas teístas que conheço não me parecem de fato crédulas. Parece que sofrem de algum tipo de esquizofrenia religiosa, onde "Deus" é o grande big brother e eles dizem que crêem "por via das dúvidas".

No início do século XX, Freud "curava" cegos e fazia paraplégicos andarem em conferências médicas.
Não, ele não invocava milagres divinos. Ele apenas "eliminava" alguma neurose complexa (os gregos usavam a palavra histeria), ou seja, alterações na psique que se manifestam em alterações físicas.
A Igreja Universal faz igual, apenas troca uma psicose qualquer por uma outra chamada "Deus".

Quanto à religião, abomino todas.
Atualmente a que mais abomino é o espiritismo.
Os espíritas são uma espécie de "loucos mansos" que tentam "cientificar" essa abóbora colossal (provavelmente o Sr. Hippolyte Léon Denizard Rivail usou o pseudônimo de Alan Kardec quando quis escrever comédias).
Das pessoas de várias religiões que conheço são possivelmente os mais antiéticos e asquerosos.
Não vou entrar em discussões sobre a ética de Aristóteles pois não tenho cacife pra isso, mas vou ser mais popular: Gandhi e Krishnamurti diziam basicamente a mesma coisa: "Quem tem mais do que precisa é no fundo um ladrão".
Por favor, "o quanto" é "quanto se precisa"? Não sejamos idiotas. Não vou discutir sobre consumismo, signos etc. Quem sabe outro dia.

Voltando a Deus, alguns amigos mais esclarecidos às vezes dizem que não se pode provar que Deus não existe, ou então, que não acreditar em Deus é um ato de fé da mesma maneira.

Não sei aonde querem chegar.
Até a pouco tempo atrás não se podia provar que a Lua não era feita de queijo. Mas evidências e as possibilidades não apontavam isso, e hoje sabemos que elas estavam corretas. Já falei sobre evidências em outro post.
   
O fato do não se provar algo, não abre caminho para a parte contrária.
O ônus da prova cabe a quem afirma a sua existência e as evidências e a lógica apontam claramente para o contrário.

Bobagens filosóficas à parte, acho que a estatística e a lógica são menos condescendentes.
   
Perdoem-me amigos crédulos, vocês já sabem a minha opinião, crer em Deus é apenas uma dificuldade intelectual ou problema psiquiátrico.
Se eu estivesse ouvindo vozes, falando sozinho e vendo coisas, me dariam altas doses de Haldol e uma camisa de força.

Deus esteve sempre onde nossa ignorância permitiu.
A Terra já foi plana porque Deus criou assim. Foi redonda e o centro do universo porque Deus criou assim. Não era tão redonda assim e não era o centro do sistema solar, mas o sistema solar era o centro do universo, mas ops, Deus criou assim. Não era mais tão redonda, nosso sistema planetário estava na periferia da galáxia, mas nos enganamos das outras vezes, de fato, Deus criou assim.
Estamos num sistema planetário medíocre, rodeando uma estrela medíocre, nos confins de uma galáxia mais medíocre ainda e ultimamente, talvez o nosso universo seja um em muitos no multiverso.

Não precisamos de Deus e religiões para termos ética e moral adequada para uma vida decente em uma possível sociedade justa e cooperativa.
Mas talvez alguns precisem de Deus para ser seu cúmplice em ações, que apesar de legalmente aceitas, são eticamente questionáveis e moralmente decreptas, e assim, terem a quem os perdôe quando doam aquela ridícula cesta básica a sei lá quem.

Seja sincero, não é engraçado:

  • "No tempo dos ancestrais, um homem nasceu de uma mãe virgem, sem nenhum pai biológico envolvido.
  • O mesmo homem sem pai clamou a um amigo chamado Lázaro, que estava morto havia tempo bastante para cheirar mal, e Lázaro imediatamente voltou à vida.
  • O próprio homem sem pai voltou à vida depois de morto e enterrado.
  • Quarenta dias depois, o homem sem pai subiu ao topo de uma montanha e depois desapareceu no céu.
  • Se você murmurar coisas dentro de sua cabeça, o homem sem pai, e seu "pai" (que também é ele mesmo), ouvirá seus pensamentos e pode tomar providências em relação a elas. Ele é capaz de ouvir simultaneamente os pensamentos de todas as pessoas do mundo.
  • Se você faz alguma coisa ruim, ou alguma coisa boa, o mesmo homem sem pai tudo vê, mesmo que ninguém mais veja. Você pode ser recompensado ou punido, inclusive depois de sua morte.
  • A mãe virgem do homem sem pai nunca morreu, mas "foi transportada" corporeamente para o céu.
  • Pão e vinho, se abençoados por um padre (que precisa ter testículos), "transformam-se" no corpo e no sangue do homem sem pai." - Richard Dawkins - Biólogo Evolucionista
Por que o Curupira, a Fada dos Dentes e o Saci-Pererê são menos verdade que o seu Deus (seja lá qual dos trezentos mil existentes)?

Não rio mais disso. Me entristece e me deprime. Nunca criaria um filho num mundo onde a grande maioria se apoia nessa estupidez.

   
   

    "Se descobrirmos que Deus existe, não acho que ele seja mau. Mas a pior coisa que se pode dizer dele é que, basicamente, ele é um desperdício de potencial." - Woody Allen

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quentes como os últimos dias

"Por volta de 1h30 da madrugada desta segunda-feira (22), Luciana Gimenez se viu em um grande apuro durante o voo 951, da American Airlines, que vinha de Nova York para São Paulo.
Acompanhada da família, a apresentadora levou um susto ao ser informada de que a aeronave estava pegando fogo. Felizmente, a agilidade do piloto, que retornou rapidamente ao aeroporto JFK, evitou consequências drásticas aos passageiros."- Terra - 22/02/2010 | 07:50

- Se estivesse no mesmo avião ela, Galisteu, Angélica, Eliana, Xuxa e, pra fechar com chave de ouro, a Sandra Annenberg (com aquele sorriso ridículo de jornal hoje) e o avião caísse, aceitaria perder a copa do mundo na boa.

"A cidade de São Paulo registrou recorde de trânsito na parte da manhã em 2010 às 9h30 desta segunda-feira, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), com 118 km de congestionamento. Às 11h, havia 77 km de lentidão em toda a cidade." - Terra - 22/02/2010 | 11:45
- Como disse o Carlos Nascimento um dia, mesmo que o transporte coletivo fosse perfeito, pra quem os paulistanos desfilariam os carrinhos novos?
- A tempo, uma leitura bacana: "Não verás país nenhum" - Ignácio de Loyola Brandão

Um desabafo: finalmente acabou aquela mer$# de horário de verão!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Preciso de um pagé!

Fui no ortopedista semana passada.
Contra a minha vontade, mas como todo bom véio marombeiro estou na idade do condor. Com dor em tudo o que é lugar.

Há uns anos fiz uma aposta com minha companheira. Eu sempre pedia os exames, dava o diagnóstico e receitava o remédio pra confrontar com a resposta dos incapacitados dos médicos tecnicistas.
Nham, nham, nham... nunca errei.

Por favor eu não sou tão pretensioso assim. Não sou bom ou sábio demais, são eles é que são uma catástrofe!
Tudo bem que esse país virou uma fábrica de diplomas, mas pelo que me consta, eles não são um atestado de sabedoria suprema.


"Por mais que estudes não saberás nada se não atuas.

Um asno carregado de livros não é um intelectual nem um homem sábio.
Vazio de essência, que conhecimento tem, leve sobre si livros ou lenha." - Saad Shafi (não consegui confirmar a autoria)


Professor Serrano, seu alquimista maluco, nunca me esqueci disso.
Aposto que uns amigos de escola provavelmente, e assim espero, nunca tenham esquecido também.

Opa, pra variar dei uma viajada...

Como ser um "engenheiro de corpo", ou mais conhecido atualmente como médico:

1) Atenda rispidamente, com superioridade, afinal você é Deus;
2) No máximo dê a mão. Mas evite olhar para o "conjunto de órgãos" conhecido por alguns como "pessoa";
3) Vá perguntando qualquer coisa pra fazer de conta que está interessado, mas não olhe na cara do "conjunto de órgãos", afinal ele é apenas um um conjunto de tecidos vivos em desarranjo;
4) Não esquecer de ir riscando um papel qualquer. Pode ser desenhando um calunguinha num rascunho.
5) Por fim, como um ilusionista, faça a encenação e dê o veredito previamente decorado conforme as especialidades:

- ortopedista: raio X (em alguns casos, para dar um tom mais científico, ultrassom ou ressonância), seguido invariavelmente de antinflamatório e fisioterapia. Cortisona também é um clássico. No meu caso o sujeito ainda teve o disparate de dizer que era preciso fortalecer a parte em questão... são como os meninos de Olinda, o discurso é tão preparado que, apesar do tamanho do "conjunto de órgãos" em questão (eu) o discurso foi mantido.

- gastro: endoscopia e algum inibidor de produção de ácido estomacal. Algumas vezes mandam um antibiótico se a origem for bacteriana.

- psiquiatra: antidepressivo, ansiolítico ou ambos. Eles ainda não se livraram dos conceitos biomédicos do século XIX.

- oftalmologista: teste de "vista" e pressão ocular, seguido da clássica cortisona em alguns casos.

- dermatologista: raspa umas pintas, manda usar filtro solar e,  qualquer mancha esquisita (surpresa!), dá-lhe cortisona.

A "maravilhosa" medicina iluminista é linda!

Conseguimos combater com eficiência as doenças infecto-contagiosas do século XIX e algumas emergências (devo concordar que os ortopedistas engessam muito bem uma perna), mas as trocamos pelas "doenças da civilização" (Fritjof Capra), como cardiopatias, câncer, diabetes, depressão, ansiedade generalizada e sociopatias, que fundamentalmente tem origem no stress, dieta, vida sedentária, poluição ambiental e demais características da vida moderna. Resignados por não conseguir combater esses males, os ditos profissionais da saúde (que saúde?) os chamam de síndrome metabólica, virose e outras designações (ficaria mais contente se eles dissessem treco, troço ou xilique). É importante pra eles dar um nome bacana pra não falarem que não sabem.

Como o termo saúde deixou de ser discutido nas faculdades e foi simplificado para "ausência de doenças", o conforto e bem estar do paciente foi relegado a segundo plano. Sem a concepção de que a mente e o corpo são entidades inseparáveis não se pode conseguir saúde em seu amplo significado.

Morte, então, é de uma negação ímpar. Não sabemos morrer, e claro, negamos a morte. Mas essa parte é melhor deixar pra outro dia.

Mas ainda há esperança (se sobrar alguém vivo até lá).

A física, outrora apenas Newtoniana, que tornou-se a base do iluminismo (vou ter a pretensão de afirmar) e claro, do pensamento reducionista, agora também quântica (de Einstein, Bohr, Heisenberg, Bohm e companhia limitada), pode servir como base para uma nova era com novos valores nos próximos séculos (quem sabe décadas graças à internet?!). A chamada ciência da vida. Vou postar um pouco sobre isso em outra oportunidade.
Como pode ser entendido com Descartes: "Toda a filosofia é uma árvore. As raízes são a metafísica, o tronco é a física e os ramos são todas as outras ciências".

Pra finalizar, Descartes era um matemático antes de mais nada.
O termo "filosofia" até o século XIX era usado pra tudo incluindo o que conhecemos como "ciência".
Daí sempre digo que a filosofia está em tudo e é parte essencial de todas as ciências, mas isoladamente, é apenas uma ferramenta de educação.

Como disse o biólogo Richard Dawkins em "Deus, um delírio": "Os filósofos, especialmente os amadores, com um aprendizado filosófico limitado, e mais especialmente ainda aqueles contaminados pelo 'relativismo cultural', podem levantar nesse ponto mais uma cansativa bandeira: a crença nas evidências é por si só uma questão de fé fundamentalista. Todos nós acreditamos em evidências em nossas vidas, independente do que professemos quando vestimos nosso uniforme de filósofos amadores. Se sou acusado de assassinato, e o promotor pergunta, sério, se é verdade que eu estava em Chicago na noite do crime, não posso me safar com 'Depende do que você quer dizer com "verdade"'. Nem com uma alegação antropológica e relativista: 'Só no seu sentido científico e ocidental de "em" é que eu estava em Chicago. Os bongoleses tem um conceito completamente diferente de "em", segundo o qual só se está "em" um lugar se se é ancião ungido com direito de aspirar o pó de escroto de bode".

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

No país dos decibéis

Fim do carnaval.
Não passei incólume. Fui atormentado por todos os meios de comunicação, vizinhos, transeuntes, etc.
O massacre do dumdumbratecumdum anual.
O desfile dos silicones e das músicas medíocres.

Não tenho nada contra samba.
Confesso que sou um adorador do rock e do blues, mas cito facilmente Chico Buarque, Adoniran Barbosa e Pixinguinha como bons exemplos do samba de qualidade.
E apesar de que "gosto não se discute" (a frase feita preferida dos ignorantes de mal gosto), qualidades e virtudes podem ser discutidas sim.

Qualquer bípede com o mínimo de QI não pode afirmar que Cláudia Leitte, Ivete Sangalo, É o Tchan, Sandy e Jr., Fresno e mediocridades desse naipe tem qualquer coisa de bom. Pode até dançar ao som dessas anomalias musicais, mas escondido, pois deveriam ter vergonha.

Fora a debilidade mental institucionalizada, me vem em mente a bizarra associação entre barulho e felicidade.
Antes de mais nada que fique claro que ninguém "É" feliz, e sim "ESTÁ" feliz. Assim como qualquer outra emoção humana ela dança em iguais proporções com suas companheiras na psique humana..

Domenico Demasi, um filósofo italiano, disse que o rico do século XXI terá duas coisas: tempo e silêncio.
Entenda que o "rico" é aquele que tem mais do que a maioria de algo que está escasso, ou seja, por definição não necessariamente é dinheiro como o senso comum aponta.

Outro fator alarmante é o medo do silêncio. Por terem pavor do silêncio, não educam seus filhos para valorizá-lo.
Têm tanto medo de ouvir suas próprias vozes (aquelas internas, perigosas e assustadoras) que se submetem (e infelizmente me submetem) a tudo, afirmando até que não se incomodam, o que é a maior e mais descarada mentira, dados os efeitos físicos comprovados do barulho, como elevação da adrenalina, pressão arterial, estresse, insônia, aumento de 20% na probabilidade de infarto e obviamente os efeitos diretos sobre a audição.

Por quê essas mentes minúsculas confundem alegria com barulho?
Duvido que a Tati Quebra-Barraco seja mais "feliz" que o Dalai Lama...

Com a barulheira que nos rodeia, tornamo-nos surdos a nós mesmos. É mais uma das ditaduras modernas.

Como disse Cláudio de Moura Castro, colunista da Veja: "Eu vinha de uma Suíça onde em muitos edifícios é proibido tomar banho à noite e puxar a descarga depois das 22 horas. Os ônibus são silenciosos. Os cachorros não latem. As crianças não berram.
Nos restaurantes a barulheira não está no cardápio, mas é parte do serviço. É como se o objetivo de manter uma conversação relaxada e inteligente fosse coisa subversiva..."

Meu caro Cláudio, conversa inteligente nesse país?! Aonde?
E ainda procuram-se sinais de vida inteligente fora do planeta...

"Não quero que o silêncio só exista na calada da noite, no alto das montanhas, no ermo das matas. Quero-o no contato com as pessoas queridas, ricas e coloridas - meus semelhantes. Não quero ser misantropa, quero ruído normal que me permita falar, sentir e pensar." - Anna Verônica Mautner -
Psicanalista.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Brincadeira de gente grande

Meu último post passou pelos amigos "mortos" e por alto pelo casamento. De fato, independente de papel.

Em pleno século XXI acho interessante observar como as coisas retrocederam nos últimos anos no quesito sexualidade e machismo.
Não vou desatar a falar sobre Freud, Lacan ou Reich, mas vale lembrar que eles estão implícitos, quer vocês gostem ou não.

Na minha adolescência ouvi milhares de vezes a história: "mulher fácil é galinha". Bom, depois dos anos 60 fomos cada vez mais nos tornando mais caretas, apesar da banalização da nudez e das cenas de sexo. O sexo agora é de caráter mercantil, algo plástico. Não se desenvolveu a sexualidade em si, apesar dela estar em qualquer lugar.
Mas vamos deixar essa parte pra depois.

Creio que por ter sido criado por mulheres (avó, mãe e duas irmãs), desenvolvi certa admiração por estes seres esquisitos. Claro que algumas vezes tenho vontade de esganar minha esposa... rs e, no mais, como confiar num animal que sangra 5 dias e não morre?

Mas também sempre me surpreendeu o fato de que elas não tem noção do poder que tem.

Primeiro vamos deixar claro que homem é um bicho bundão.

Seu mundo gira em torno de como pode demonstrar sua força e da preocupação com o seu frágil "brinquedo que desmonta fácil".

Nenhum homem "ganha" uma mulher, apenas lhe é permitido por ela que ele o faça.

Não existe cantada ruim, mas sim, um cara que não interessa. Basicamente a diferença entre o Fábio Assunção dizer "você vem sempre aqui?" e o Bozó falar o mesmo.

Quem escolhe é sempre a mulher e ponto final.

O lado bom é que não somos responsáveis pelo prazer feminino se elas nem sequer sabem por onde começar e não conhecem o próprio corpo.

A crítica está na atribuição de criadora e educadora da mulher.

Elas educam o cafajeste pra ele ser aquilo que elas odeiam. Bizarro não?

Sempre achei que a paquera deveria ser algo como: "Haveria possibilidade de sexo?".

Se depois nos interessássemos mutuamente (se o sexo foi bom), trocaríamos telefone e iríamos para as banalidades.

Não adianta, o contato entre homem e mulher gera tensão sexual. Sempre!

Ops, falei que não iria entrar em discursos freudianos.

Sexo é brincadeira de adulto. Substitui o esconde-esconde, casinha, carrinho e futebol.

Meninas, se de fato vocês se preocupam se o sujeito vai ligar ou não no dia seguinte e se vai "pensar mal" de vocês, me poupem. É um erro grosseiro de lógica.

Se o cara "pensar mal" de você e não ligar mais, apenas significa que você se livrou de um babaca machista (ou você trepa mal pacas).

O machismo é uma espécie de comorbidade da covardia masculina.

O machinho medroso tem pavor de mulher que gosta de sexo. Sim, por mais paradoxal que pareça esse é o fato.

Uma mulher sexualmente ativa e bem resolvida põe em evidência o seu desempenho tão alardeado e ameaça o seu "brinquedo que desmonta fácil".

E afirmo, por experiência própria, que o bom romance —já que as meninas gostam dessa palavra, pode e talvez só apareça quando começamos pela via normal, que não é a que se vende nas revistas Capricho ou na qual vocês foram massacradas desde o nascimento.

Comigo?!
Ok.
Conheci a minha mulher na noite, e nos primeiros passos de dança (que dança? eu sou um saco de batatas!) ficamos mutuamente atraídos.

Nada de amor à primeira vista e babaquices que NÃO EXISTEM. Apenas tesão mesmo.
Queríamos nos comer e nada mais.
Depois dos amassos, telefone e tal.
Fim de semana seguinte fomos pra farra. Me armei de todas as estratégias do bom amante e tal.

Bobagem, ela me empurrou na cama e arrancou minhas calças! E olha que tenho quase 2 metros e 105 kg! (atenção ao senso comum novamente: não sou gordo, mas bodybuilder amador, hein?!)

Seis meses depois casamos. Juntamos os trapos como dizem.
Passaram-se 10 anos já.
E lembre-se do que eu já postei: "Ninguém faz amor, mas sim faz sexo. Amor se sente." - Flávio Gikovate.

Quem "faz amor" ou é burro, ou não sabe fazer sexo.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Relações biológicas

Falei sobre o Gikovate na última vez.
Li a primeira vez um artigo seu numa revista Claudia pasmem (cheio de mulheres em casa... é a vida...). Era sobre liberdade.
Também falei vagamente sobre a falta de alicerce nos relacionamentos humanos modernos com aqueles sujeitos que dizem "vamos marcar" ou "vamos ver".

Bom, vi um Café Filosófico com o Gikovate sobre amor e tal. Mais uma vez adorei seus pensamentos!

Sempre fui acusado de certa distância ou "pouco amor" por algumas namoradas e visto de modo estranho por casais amigos cuja independência se esvaiu na relação como uma simbiose às avessas, por exigir certa liberdade individual, e claro, a proporcionar também.

"São 3 os estados civis: mal casado, solteiro e bem casado. Estar sozinho é bom e não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa." - Flávio Gikovate

Pros solteiros só digo que morem sozinhos um tempo antes de casar...

Dos casados, conheço uns 99% que estão na categoria dos mal casados.
Isso ocorre quando os dois sujeitos viram um só, ou seja, na biologia seria um caso (inexistente) de "anti-simbiose": dois indivíduos vivem juntos fazendo mal a ambos e produzindo terceiros (ou quartos e quintos...) indivíduos já doentes. Da alma.

Apesar de não crer na babaquice do amor romântico burguês, eu creio no que o Gikovate chamou de "+ amor", acredito que por falta de definição melhor.
Ele descreve uma relação onde amor, amizade e tesão participam em condições de igualdade. Somo a isso a manutenção das liberdades individuais, mas isto está intrínseco na amizade.

"O primeiro passo para a felicidade sentimental consiste em aprendermos a ficar razoavelmente bem sozinhos. Trata-se de um aprendizado e requer treinamento, já que nossa cultura não nos estimula a isso. Temos que nos esforçar muito, já que os primeiros dias de solidão podem ser muito sofridos. Com o passar do tempo aprendemos a nos entreter com nossos pensamentos, com leituras, música, filmes, internet, etc. Aprendemos a nos aproximar de pessoas novas e até mesmo a comer sozinhos. Pessoas capazes de ficar bem consigo mesmas são menos ansiosas e podem esperar com mais sabedoria a chegada de amigos e parceiros sentimentais adequados." - Flávio Gikovate

Com isso você já entende o meu conselho aos solteiros...

Resumindo de modo simplório como identificar um mal casamento, chame seu amigo (aquele que antes de casar sempre saía com você) pra tomar uma cerveja. Se ele responder "vamos ver", "vamos marcar", "vou ver" ou qualquer coisa idiota do tipo, tenha pena dele... deles, pois ambos estão numa "anti-simbiose"!

No mesmo programa ainda discutiu-se amizade, paixão, felicidade democrática e felicidade aristocrática... mas vamos brincar com isso depois.

Há dez anos, meu estimado Flávio, vivo o + amor!

"Que ela nunca acontecerá de novo
É o que torna a vida tão bela."
Emily Dickinson

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Meu ouvido não é penico!

Hoje recebi mais um daqueles emails idiotas que alguém supôs que me interessaria...
Não, não me refiro a spam, pois desse inferno até que podemos nos livrar, ou pelo menos na maioria das vezes.
Me refiro aos amigos inconvenientes que te repassam toneladas de lixo absolutamente inútil, como correntes religiosas, planos de emagrecimento, textos de autoria duvidosa, piadas sem graça e, o pior, muita coisa fascistóide que me dá até nojo de ler (textos típicos de classe média reacionária e preconceituosa que nem vou me dar ao trabalho de explicar).

Você enviaria por sedex um saco de cimento a um amigo que nem reforma está fazendo?

Pois é a mesma coisa!
Correio, seja lá eletrônico ou ponny express, deve ser usado com sabedoria!

Então poupe seus amigos de idiotices que só a você interessa!

A propósito, não sou um avesso a tecnologia. Vivo dela, e sem falsa modéstia, contribuí mesmo que com uma ínfima parte para ela.
Aliás, quando fiz meu primeiro programa em assembler não existia o termo "informática".
Eramos apenas uns caras que se divertiam em juntar um monte de ci's e, em alguns casos, desenvolver alguns algoritmos para rirmos do resultado.

Era bem divertido... agora por outro lado... qualquer zé mané que instala placas e instala meia dúzia de programas se acha expert... sinto muito, seu filho, primo ou sobrinho não é um gênio. Um macaco bem treinado faz igual.

Bom, voltando às babaquices virtuais...
Essas comunidades também são lamentáveis. Saí de todas depois de receber absurdos como "passei por aqui pra te deixar um beijo" (ou um abraço, alô, whatever).
Ninguém acha tempo pra conviver com seus amigos. É um tal de "combina aí", "vamos marcar sim", "vou ver depois te falo" e por aí vai, e o filho da pu%$ ainda acha que meia dúzia de palavras num quadro público ainda valem algo?!

E faça-me um favor: ver em reuniões a cada ano não é conhecer pessoalmente.

A quantidade de gente "feliz" nesses lugares é incrível. A ditadura da felicidade foi levada ao mundo virtual claro. Tenho pena desses "felizes"... são como baratas que levam uma chinelada... tem algo incomodando mas não sabem o que, mas por uma questão de imagem tem que manter o mito da pessoa sorridente, um palhaço deprimido.

Ningém é feliz, apenas está feliz. Analogamente, como o Flávio Gikovate diz, não se faz amor, se sente amor, o que se faz é sexo.
Bom, essa parte vou deixar pra outro dia...

"A sociedade nunca progride. Recua tão rápido num lado quanto avança no outro. Passa por mudanças contínuas. É bárbara, civilizada, cristianizada, rica, científica, mas... para tudo o que é dado, algo é tirado." - Ralph Waldo Emerson , Self-Reliance, 1841.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Efeito Avestruz

Nessa época de enchentes começa o show de banalidades.
Concordo que chove mais do que em outras épocas, mas nada que uma cidade planejada com moradores íntegros não suportasse.

As famosas soluções pré-fabricadas e respostas fáceis reinam soberanas. "É o governo que não faz nada"; "É Deus"; "Nostradamus previu"; e por aí vai. Nínguém olha o próprio umbigo. Como sempre.

É óbvio que o poder público não costuma agir com muita competência e nem vou discutir isso, mas o povinho brasileiro de terceira categoria e seu habitual comodismo e individualismo tem grande parcela de culpa, ou melhor, toda ela.
Primeiro, obviamente, porque elegeu seus dirigentes, a partir daí não pode mais terceirizar a responsabilidade. Segundo (e mais relevante) porque nunca age com o mínimo de ética. Sim, vou colocar ética, e não cidadania.

Não respeita a lei do zoneamento. "Todo mundo faz, por que eu não?"
Ninguém deixa um centímetro quadrado de área permeável em seus terrenos. "As pranta suja tudo" (com esse bom português ou não).
Jogam lixo em tudo o que é local e, por favor, não são apenas os favelados, ops, moradores de comunidades carentes que fazem isso. Nossa elite é tão desprezível quanto, jogando lixo pela janela dos seus carrinhos polidos enquanto andam nas ruas ou contratando caçambas de entulho sem saber a destinação do seu conteúdo.

Essa gente desprezível só olha os problemas com o alcance da ponta de seu nariz (nesse quesito o Luciano Huck até tem alguma vantagem então!) e infelizmente, sem um espelho na frente.
Dessa maneira é fácil culpar a Deus e o mundo, e ainda por cima, esperar as soluções dos outros.

Joga-se bos$# no ventilador e enfia-se a cabeça no buraco.

"Quanto mais gosto da humanidade em geral, menos aprecio as pessoas em particular, como indivíduos." - Dostoievski