sábado, 20 de fevereiro de 2010

Preciso de um pagé!

Fui no ortopedista semana passada.
Contra a minha vontade, mas como todo bom véio marombeiro estou na idade do condor. Com dor em tudo o que é lugar.

Há uns anos fiz uma aposta com minha companheira. Eu sempre pedia os exames, dava o diagnóstico e receitava o remédio pra confrontar com a resposta dos incapacitados dos médicos tecnicistas.
Nham, nham, nham... nunca errei.

Por favor eu não sou tão pretensioso assim. Não sou bom ou sábio demais, são eles é que são uma catástrofe!
Tudo bem que esse país virou uma fábrica de diplomas, mas pelo que me consta, eles não são um atestado de sabedoria suprema.


"Por mais que estudes não saberás nada se não atuas.

Um asno carregado de livros não é um intelectual nem um homem sábio.
Vazio de essência, que conhecimento tem, leve sobre si livros ou lenha." - Saad Shafi (não consegui confirmar a autoria)


Professor Serrano, seu alquimista maluco, nunca me esqueci disso.
Aposto que uns amigos de escola provavelmente, e assim espero, nunca tenham esquecido também.

Opa, pra variar dei uma viajada...

Como ser um "engenheiro de corpo", ou mais conhecido atualmente como médico:

1) Atenda rispidamente, com superioridade, afinal você é Deus;
2) No máximo dê a mão. Mas evite olhar para o "conjunto de órgãos" conhecido por alguns como "pessoa";
3) Vá perguntando qualquer coisa pra fazer de conta que está interessado, mas não olhe na cara do "conjunto de órgãos", afinal ele é apenas um um conjunto de tecidos vivos em desarranjo;
4) Não esquecer de ir riscando um papel qualquer. Pode ser desenhando um calunguinha num rascunho.
5) Por fim, como um ilusionista, faça a encenação e dê o veredito previamente decorado conforme as especialidades:

- ortopedista: raio X (em alguns casos, para dar um tom mais científico, ultrassom ou ressonância), seguido invariavelmente de antinflamatório e fisioterapia. Cortisona também é um clássico. No meu caso o sujeito ainda teve o disparate de dizer que era preciso fortalecer a parte em questão... são como os meninos de Olinda, o discurso é tão preparado que, apesar do tamanho do "conjunto de órgãos" em questão (eu) o discurso foi mantido.

- gastro: endoscopia e algum inibidor de produção de ácido estomacal. Algumas vezes mandam um antibiótico se a origem for bacteriana.

- psiquiatra: antidepressivo, ansiolítico ou ambos. Eles ainda não se livraram dos conceitos biomédicos do século XIX.

- oftalmologista: teste de "vista" e pressão ocular, seguido da clássica cortisona em alguns casos.

- dermatologista: raspa umas pintas, manda usar filtro solar e,  qualquer mancha esquisita (surpresa!), dá-lhe cortisona.

A "maravilhosa" medicina iluminista é linda!

Conseguimos combater com eficiência as doenças infecto-contagiosas do século XIX e algumas emergências (devo concordar que os ortopedistas engessam muito bem uma perna), mas as trocamos pelas "doenças da civilização" (Fritjof Capra), como cardiopatias, câncer, diabetes, depressão, ansiedade generalizada e sociopatias, que fundamentalmente tem origem no stress, dieta, vida sedentária, poluição ambiental e demais características da vida moderna. Resignados por não conseguir combater esses males, os ditos profissionais da saúde (que saúde?) os chamam de síndrome metabólica, virose e outras designações (ficaria mais contente se eles dissessem treco, troço ou xilique). É importante pra eles dar um nome bacana pra não falarem que não sabem.

Como o termo saúde deixou de ser discutido nas faculdades e foi simplificado para "ausência de doenças", o conforto e bem estar do paciente foi relegado a segundo plano. Sem a concepção de que a mente e o corpo são entidades inseparáveis não se pode conseguir saúde em seu amplo significado.

Morte, então, é de uma negação ímpar. Não sabemos morrer, e claro, negamos a morte. Mas essa parte é melhor deixar pra outro dia.

Mas ainda há esperança (se sobrar alguém vivo até lá).

A física, outrora apenas Newtoniana, que tornou-se a base do iluminismo (vou ter a pretensão de afirmar) e claro, do pensamento reducionista, agora também quântica (de Einstein, Bohr, Heisenberg, Bohm e companhia limitada), pode servir como base para uma nova era com novos valores nos próximos séculos (quem sabe décadas graças à internet?!). A chamada ciência da vida. Vou postar um pouco sobre isso em outra oportunidade.
Como pode ser entendido com Descartes: "Toda a filosofia é uma árvore. As raízes são a metafísica, o tronco é a física e os ramos são todas as outras ciências".

Pra finalizar, Descartes era um matemático antes de mais nada.
O termo "filosofia" até o século XIX era usado pra tudo incluindo o que conhecemos como "ciência".
Daí sempre digo que a filosofia está em tudo e é parte essencial de todas as ciências, mas isoladamente, é apenas uma ferramenta de educação.

Como disse o biólogo Richard Dawkins em "Deus, um delírio": "Os filósofos, especialmente os amadores, com um aprendizado filosófico limitado, e mais especialmente ainda aqueles contaminados pelo 'relativismo cultural', podem levantar nesse ponto mais uma cansativa bandeira: a crença nas evidências é por si só uma questão de fé fundamentalista. Todos nós acreditamos em evidências em nossas vidas, independente do que professemos quando vestimos nosso uniforme de filósofos amadores. Se sou acusado de assassinato, e o promotor pergunta, sério, se é verdade que eu estava em Chicago na noite do crime, não posso me safar com 'Depende do que você quer dizer com "verdade"'. Nem com uma alegação antropológica e relativista: 'Só no seu sentido científico e ocidental de "em" é que eu estava em Chicago. Os bongoleses tem um conceito completamente diferente de "em", segundo o qual só se está "em" um lugar se se é ancião ungido com direito de aspirar o pó de escroto de bode".

4 comentários:

  1. Quanto à medicina, não tenho como discordar. Mas aqui vai uma provocaçãozinha do bem em relação à ciência: "A ciência, afinal de contas, é ingênua: ela supõe que esteja lidando com coisas em si mesmas, em sua plena realidade externa e incorrupta; a filosofia é um pouco mais sofisticada e percebe que toda matéria-prima da ciência consiste em sensações, percepções e concepções, e não em coisas". Durant, comentando Kant. :))
    Ai, ai... "isoladamente é apenas uma ferramenta da educação" já contradiz o que vc mesmo está fazendo no blog também seus questionamentos à medicina e à ciência. He, he...

    ResponderExcluir
  2. Sobre o Richard Dawkins, ele está misturando alhos com bugalhos ao mesclar relativismo cultural, linguagem e filosofia nesse trecho que vc colou. Ele está discursando sobre um discurso a respeito da evidência. É metalinguagem; é um recurso de retórica. Evidência é incontestável, mas ele apresenta apenas um discurso sobre ela, que é pura linguagem, e não prova. Veja só... O Dawkins está fazendo filosofia! rs...

    ResponderExcluir
  3. Discordo da ingenuidade da ciência, pelo menos a partir do início do século XX. O maior insight científico da história veio da mais pura criatividade, "do nada", da intuição. Já li sobre o impacto emocional da teoria geral da relatividade e da física quântica... é mole?!

    Eu entendi o que Dawkins coloca como "evidência", em algo que necessariamente deva ser simplificado a nossa suposta realidade.
    Eu sei (e tenho certeza que ele mais ainda) que a "evidência" incontestável é utópica.

    Mas compreendi a carga emocional da sua escrita. Algo como "vamos simplificar para massacrar". Enquanto não achamos "fé melhor" vamos tentar catequizar com a menos pior... rs

    O Coisa se contradizendo?! Sempre! hehe

    Preciso refinar minhas posturas.

    Crítico a ciência em sua forma tradicional e a enalteço em sua nova forma, que eu não sei se já está amplamente difundida e definida (ou sequer se existe de fato).
    Faço o mesmo com a filosofia, adoro-a de uma forma (acho que simplesmente nascemos com ela) e fico com os bagos na lua (expressão nada acadêmica hein?!) com aquela puramente acadêmica de contestação do inútil.

    Por isso coloquei no post sobre Deus, que de fato, eu não posso provar pro meu vizinho que a Lua não é feita de queijo.
    As provas, evidências e estatísticas referidas, são dentro de um universo de possibilidades para os quais nao se apresentou nada melhor.

    ResponderExcluir
  4. "O Dawkins está fazendo filosofia! rs"
    Como eu disse, eu já acho que ele é um filósofo. Com certeza ele quer refinar essa sua habilidade.

    Mas minha crítica é similar à que tenho com relação aos jornalistas, sem o mínimo de conhecimento como se contesta algo?

    ResponderExcluir