quarta-feira, 30 de junho de 2010

Muderrrnidade

Desenvolvo software há uns anos. Muitos pra falar a verdade.

Ainda me surpreendo com nível intelectual da macacada.
Apesar de atualmente a utilização de um computador ser considerada parte da alfabetização básica, ninguém é obrigado a saber utilizá-lo. Ainda.

Mas se você recebesse uma cadeira preta onde numa parte estivesse escrito em letras vermelhas garrafais "coloque a bunda aqui", você ligaria para o suporte do fabricante para saber onde por a sua digníssima área traseira?

Ao chegar em casa você liga o seu computador com um programa novo, e numa tela completamente preta aparece em letras brancas e imensas "Aperte ENTER para continuar...", então você:

a) sai correndo pelado e gritando.
b) se ajoelha e pede ajuda aos espiritos.
c) liga desesperado pro suporte perguntando o que fazer.
d) aciona o "tico e o teco" e pressiona a maldita tecla ENTER.

Ataque de pânico. Não quero saber a resposta.

Acho que vivemos numa era de ostentação da burrice.
Sacos plásticos com a inscrição de "não fechá-lo na cabeça".
Ração animal com a inscrição de "somente para uso animal".
Numa porta de elevador se lê "não entre se o elevador não estiver parado neste andar".

Daqui a pouco vão escrever "somente para uso externo" num vasilhame pet de 2 litros (ok, ok, cada um com seus fetiches) ou será sancionada uma lei que obriga que seja colocado um adesivo em todas as paredes com os dizeres "não bata sua cabeça aqui"!

Quando digo vagamente com o que trabalho, todo mundo sempre conhece ou tem um parente que sabe tudo "disso". Em "tudo disso" leia-se instalar o ruWindows e meia dúzia de programas, baixar umas porcarias e trocar umas pRacas.

Se está cheios de experts à minha volta por que então um jogo high end tem umas 100 pessoas trabalhando por um ou dois anos? Ou por que um grupo de engenheiros demora tanto para desenvolver um "simples" circuito integrado?

E o pior: por que absolutamente tudo o que é ligado na tomada, tem pilhas, faz bip ou pisca luzinhas sou eu que tenho que ser consultado???

Humpf.

Desabafo pós mercado e a lei de Murphi (se há um grupo imenso de retardados no supermercado eles estarão à sua frente na fila). Cuidado, pode haver um doido atrás de você na fila!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Brasilsilsilsil

Eu gosto de futebol.
Mas como bom hiperativo gosto de qualquer esporte.
Quando moleque, época em que muitos fogem da educação física, eu ia a clubes treinar basquete e volei para não ter nenhum dia sem alguma atividade física, e claro, ainda rolava um futebolzinho de rua nas horas vagas.

Depois de "ingressar na vida adulta" já somam-se uns 20 anos de puxação de ferro.

Ah! Automobilismo não é esporte ok?
É corrida de carro e não de pessoas. Aliás é uma coisa bem babaca mesmo, nem entrarei no lugar comum de discutir os problemas sexuais e de auto estima de caras que gostam tanto de carros... talvez por isso os campeões de spam são os vendedores de Viagra e extensores penianos...

Outro exemplo de não esporte é equitação e congêneres. "Corrida de cavalo" pode ser esporte para os cavalos...

Mas voltando ao futebol, não sou um torcedor de clubes regionais, mas gosto de copa do mundo e jogos da seleção, mas por favor histeria coletiva e patriotada sazonal é um porre!!!

Não bastam todos os barulhos dessa metrópole insuportável ainda tenho que aguentar essa gente abominável tendo surtos histéricos e disparando essas me%$# de cornetas e o cara#!*@& dessas carreatas ridículas sem motivo justificável (que acho que não existe nenhum).

Por que diabos essa gente estúpida acha que barulho é sinônimo de alegria?
Aliás, que vida mais pobre é essa onde a "alegria" vem de vtórias de cidadãos muito bem pagos (desmerecidamente) que não estão em aí com esse povinho bunda?

E por que essa combinação horrorosa de cores fica tão bem aceita de 4 em 4 anos?
Ninguém ostenta esse orgulho nunca e nem sequer faz uma porra de ação em prol da "nação".

O único jeito de assistir aos jogos sem as malditas vuvuzelas é com o mute ligado e quarto à prova de som... pelo menos com isso também me livro dos comentários imbecis e da anta do Galvão Bueno.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Física, o tempo, e aquela senhora de cetim

Perdi meu pai com 5 para 6 anos, antes de descrever algumas sensações que vagavam constantemente na minha mente durante a infância e a adolescência, passarei algumas semelhanças interessantes que descobri recentemente - claro que nunca me achei "especial" e muito menos tenho a pretensão de sequer esbarrar na grandiosidade dos citados.

O físico Marcelo Gleiser perdeu a mãe com 6 anos, e segundo ele mesmo, sua infância e adolescência foi marcada pela busca do significado do tempo, e por motivos óbvios, amadureceu já com boa noção de finitude.
A parada na Física foi consequência natural.

O físico Ronald Malley perdeu seu pai com 10 anos. Seu sonho de infância era construir uma máquina do tempo e salvar seu pai.
Hoje trabalha numa "máquina do tempo", nada cinematográfico ou fantasioso, mas, de início, tenta "desviar no tempo" alguns elétrons.

Os pais são o que mais próximo experimentamos do Criador.
Calma lá, sou ateu, é uma afirmação com base psicanalítica.

Mas enfim, quer queiramos ou não, por bem ou por mal, crescemos com base neles e querendo corresponder aos anseios dos "deuses", portanto, perder um deles é se confrontar com a mortalidade da divindade.

Pra mim, o tempo e a morte sempre foram coisas estranhas e interessantes. Nada mórbido ou suícida.
A noção de finitude cresceu comigo, e "perder tempo" sempre foi algo que me horrorizou.
Associado à hiperatividade foi o caos. 

Nunca gostei de ir no cinema pois achava que poderia estar perdendo algo, e assim foi (e ainda é, apesar de um controle mínimo da maturidade) com qualquer outra coisa. Imaginem a dificuldade de estar escrevendo...

Sempre quis viver cada segundo, e talvez por isso, tenha perdido muitos.

Cresci sabendo que a riqueza do tempo não pode ser comprada, ganha, doada ou alugada, talvez por isso o "sucesso" material nunca tenha me seduzido, e fico entristecido com amigos que jogam fora suas horas preciosas numa corporação, juntando porcarias para um futuro que não existe.

Na adolescência busquei freneticamente a minha herança. A que interessa de fato, o caráter.
Não quis ter apenas a minha imagem do meu pai, quis saber dos outros. Queria ter certeza de que, com todas as deficiências humanas, ele tenha sido, no seu âmago, um homem bom.

Bom?! Simplesmente gentil e preocupado com as pessoas queridas, e acima de tudo, generoso. Gostamos mais de comprar coisas para os outros do que para nós mesmos, aliás, nunca consegui responder à pergunta de um cliente meu: "Mas você não quer nada?".

Não entendeu a "senhora de cetim"?

Bom, um DDA famoso chamado Raul Seixas, assim descreveu a morte: "Vou te encontrar, vestida de cetim, pois em qualquer lugar, espera só por mim."

terça-feira, 8 de junho de 2010

De novo

Pronto, começa o frio e lá vem a campanha do cinismo 2010.

Pobre só come algumas vezes por ano e só precisa de uma ou outra peça de roupa puida de vez em quando.

Hipocrisia é uma merda mesmo.
As pessoas são solidariamente oportunistas no varejo e asquerosas no atacado.

"Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente." - Jiddu Krishnamurti

terça-feira, 1 de junho de 2010

Esse vale a pena transcrever

O que Carl Sagan me despertou de interesse em astronomia e física, Gikovate me despertou na psicanálise e psicologia.

Próximo ao dia dos namorados (não que me importe com datas) a homenagem à minha companheira - há 12 anos eterna namorada - foi procurar o texto original do Gikovate.
Consegui recuperar no cache do Google.

Nem o site do autor tinha mais...


UM ROTEIRO PARA SER FELIZ NO AMOR - Flávio Gikovate

1. O amor é um sentimento que faz parte da "felicidade democrática", aquela que é acessível a todos nós. É democrática a felicidade que deriva de nos sentirmos pessoas boas, corajosas, ousadas, etc. A "felicidade aristocrática"deriva de sensações de prazer possíveis apenas para poucos: riqueza material, fama, beleza extraordinária. Felicidade aristocrática tem a ver com a vaidade e é geradora inevitável de violência em virtude da inveja que a grande maioria sentirá da ínfima minoria.

2. É difícil definir felicidade: podemos, de modo simplificado, dizer que uma pessoa é feliz quando é capaz de usufruir sem grande culpa os momentos de prazer e de aceitar com serenidade as inevitáveis fases de sofrimento. É impossível nos sentirmos felizes o tempo todo, mas os períodos de felicidade correspondem à sensação de que nada nos falta, de que o tempo poderia parar naquele ponto do filme da vida.

3. Apesar de ser acessível a todos, o fato é que são muito raras as pessoas que são bem sucedidas no amor. Ou seja, devem existir um bom número de requisitos a serem preenchidos para que um bom encontro aconteça. Não tem sentido pensar que a felicidade sentimental se dê por acaso; não é bom subestimar as dificuldades que podemos encontrar para chegar ao que pretendemos; as simplificações fazem parte das estratégias de enganar pessoas crédulas.

4. O primeiro passo para a felicidade sentimental consiste em aprendermos a ficar razoavelmente bem sozinhos. Trata-se de um aprendizado e requer treinamento, já que nossa cultura não nos estimula a isso. Temos que nos esforçar muito, já que os primeiros dias de solidão podem ser muito sofridos. Com o passar do tempo aprendemos a nos entreter com nossos pensamentos, com leituras, música, filmes, internet, etc. Aprendemos a nos aproximar de pessoas novas e até mesmo a comer sozinhos. Pessoas capazes de ficar bem consigo mesmas são menos ansiosas e podem esperar com mais sabedoria a chegada de amigos e parceiros sentimentais adequados.

5. Temos que aprender a definir com precisão nossos sentimentos. Nós pensamos por meio das palavras e se as usarmos com mais de um sentido poderemos nos enganar com grande facilidade. Cito, a seguir, alguns dos conceitos que tenho usado e o sentido que a eles atribuo. Amor é o sentimento que temos por alguém cuja presença nos provoca a sensação de paz e aconchego. O aconchego representa a neutralização do vazio, da sensação de desamparo que vivenciamos desde o momento do nascimento. O aconchego é um "prazer negativo", ou seja, a neutralização de uma dor que existia - nos leva de uma condição negativa para a de neutralidade. Amizade é o sentimento que temos por alguém cuja presença nos provoca algum aconchego e cuja conversa e modo de ser nos encanta. Segundo essa definição, a amizade é sentimento mais rico do que o amor, já que a pessoa que nos provoca o aconchego - apesar de que menos intenso e, porisso mesmo, gerador de menor dependência - é muito especial e desperta nossa admiração pelo modo como se comporta moral e intelectualmente. Sexo é uma agradável sensação de excitação derivada da estimulação das zonas erógenas, de estímulos visuais e mesmo de devaneios envolvendo jogo de sedução e trocas de carícias tácteis. É evidente que a sexualidade envolve questões muito complexas, que não cabe aqui discutir. Quero apenas enfatizar que sexo e amor correspondem a fenômenos completamente diferentes, sendo que o amor está relacionado com o "prazer negativo" do aconchego e o sexo é "prazer positivo", já que nos excitamos e nos sentimos bem mesmo quando não estávamos mal; o amor nos leva do negativo para o zero, ao passo que o sexo nos leva do zero para o positivo. Amor, sexo e amizade podem existir separadamente e também podem coexistir. A mesma pessoa pode nos provocar aconchego e desejo sexual mesmo sem nos encantar intelectualmente; nesse caso, falamos de amor e de sexo. Podemos estabelecer um elo de amizade e sexo sem o envolvimento maior do amor. Podemos vivenciar o sexo em estado puro, assim como o amor - como é o caso do amor que podemos sentir por nossa mãe, que independe de suas peculiaridades intelectuais e não tem nada a ver com o sexo.

6. A escolha amorosa adequada se faz quando o outro nos desperta o amor, a amizade e o interesse sexual. A essa condição tenho chamado de +amor, mais do que amor. Amigos são escolhidos de modo sofisticado e de acordo com afinidades de caráter, temperamento, interesses e projetos de vida (falo dos poucos amigos íntimos e não dos inúmeros conhecidos que temos). A escolha amorosa deverá seguir os mesmos critérios, sendo que a escolha depende também de um ingrediente desconhecido e indecifrável - porque escolhemos esse e não aquele parceiro? Não é raro que no início do processo de intimidade a sexualidade não se manifeste em toda sua intensidade. Isso não deve ser motivo de preocupação, já que faz parte dos medos que todos temos quando estamos diante de alguém que nos encanta de modo especial.

7. O medo relacionado com o encantamento amoroso é que determina o estado que chamamos de paixão: paixão é amor mais medo! Temos medo de perder aquela pessoa tão especial e do sofrimento que, nessa condição, teríamos. Temos medo de nos aproximarmos muito dela e de nos diluirmos e nos perdermos de nós mesmos em virtude de seus encantos. Temos enorme medo da felicidade, já que em todos nós os momentos extraordinários se associam imediatamente à sensação de que alguma tragédia irá nos alcançar - o que, felizmente, corresponde a uma fobia, ou seja, um medo sem fundamento real. As fobias existem em função de condicionamentos passados e devem ser enfrentadas de modo respeitoso mas determinado.

8. Para ser feliz no amor é preciso ter coragem e enfrentar o medo que a ele se associa. Esse é um exemplo da utilidade prática do conhecimento: ao sabermos que o amor - aquele de boa qualidade, que determina a tendência para a fusão e provoca a enorme sensação de felicidade - sempre vem associado ao medo, não nos sentimos fracos e anormais por sentirmos assim. Ao mesmo tempo, adquirimos os meios para, aos poucos, ir ganhando terreno sobre os medos e agravando a intimidade com aquela pessoa que tanto nos encantou.

9. Quando o medo se atenua, desaparece a paixão. Isso não deve ser entendido como o enfraquecimento ou o fim do sentimento amoroso pleno. Sobrou "apenas" o amor. O que acaba é o tormento, o "filme de suspense". Fica claro que a coragem é requisito básico para a vitória sobre o medo e a realização do encontro amoroso. O encontro é menos ameaçador quando somos mais independentes e capazes para ficar sozinhos; nossa individualidade mais bem estabelecida nos faz menos disponíveis para a tendência à fusão que é usual no início dos relacionamentos mais intensos. Quando o medo se atenua costuma aumentar o desejo sexual. Se o parceiro escolhido for também um amigo não faltarão ingredientes para a perpetuação do encantamento. Desaparece o medo mas não desaparecerá o encantamento, a menos que a única coisa interessante fosse o "filme de suspense" - e se for esse o caso é melhor que o relacionamento termine aí. No +amor assim constituído, o encantamento só desaparecerá se desaparecer a admiração.

10. A admiração só desaparecerá se houverem abalos graves na confiança ou se tiver havido grave engano na avaliação do parceiro. É evidente que ao longo de um convívio íntimo com uma pessoa com a qual temos muita afinidade surgirão também diferenças de todo o tipo. Não existem "almas gêmeas", de modo que nem todos os pontos de vista serão afinados, nem todos os hábitos serão compatíveis, etc. É o momento em que surge uma certa decepção e dúvidas acerca do acerto da escolha. É nesse ponto que percebemos que a escolha amorosa se faz tanto com o coração como com a razão: a admiração deriva de uma avaliação racional do outro, ainda que o façamos de modo camuflado porque aprendemos que o amor é uma mágica determinada pelas flechas do Cupido. A avaliação da importância das diferenças que finalmente se revelaram determinará a evolução, ou não, do relacionamento. A serenidade na análise de situações dessa natureza só pode acontecer com pessoas portadoras de boa tolerância a frustrações e contrariedades. Assim, a maturidade emocional que se caracteriza pela capacidade de suportarmos bem as dores da vida é requisito indispensável para a felicidade amorosa.

11. É preciso muita atenção, pois o medo tende a se esconder atrás das dúvidas que derivam das diferenças no modo de ser do outro, do menor desejo sexual inicial e também das eventuais dificuldades práticas derivadas das circunstâncias da vida daqueles que se encontraram e se encantaram. O medo é sempre presente e se formos mais honestos conosco mesmos saberemos melhor separá-lo de seus disfarces. É porisso que o conhecimento, que determina crescimento e fortalecimento da razão, é tão útil para que possamos avançar até mesmo nas questões emocionais. A coragem é a força racional que pode se opor e vencer o medo. Ela cresce com o saber e as convicções e também com a maturidade emocional que nos faz mais competentes para corrermos riscos e eventualmente tolerarmos alguns fracassos.

12. A maturidade moral dos que se amam é indispensável para que se estabeleça a mágica da confiança, indispensável para que tenhamos coragem de enfrentar o medo de sermos traídos ou enganados, o que geraria um dos maiores sofrimentos a que nós humanos estamos sujeitos. Não podemos confiar a não ser em pessoas honestas, constantes e consistentes. Assim sendo, este é mais um requisito para que possamos ser felizes no amor. Temos que possuir esta virtude moral e valorizá-la como indispensável no amado. Não há como estabelecermos um elo sólido e verdadeiro com um parceiro não confiável a não ser que queiramos viver sobre uma corda bamba.

13. São tantos os requisitos básicos para que o +amor se estabeleça que não espanta que ele seja tão incomum mesmo sendo uma felicidade possível para todos. Temos que nos esenvolver emocionalmente até atingir a maturidade que nos permita competência para lidar com frustrações. Temos que avançar moralmente para nos tornarmos confiáveis. Temos que ganhar conhecimento mais sofisticado e útil sobre o amor para que possamos ter uma razão geradora da coragem necessária para ousarmos nessa aventura. Temos que ter competência para ficar sozinhos para que possamos desenvolver melhor nossa individualidade e não nos deixarmos seduzir pela tentação da fusão romântica e a excessiva dependência, além de podermos esperar com paciência a chegada de um parceiro adequado. As virtudes necessárias à felicidade sentimental são todas elas "virtudes democráticas", ou seja, acessíveis a todos e cuja presença em uns não impede que surjam nos outros - é sempre bom lembrar que o mesmo não acontece, por exemplo, com o dinheiro: para que uns tenham bastante é inevitável que muitos outros tenham pouco. As virtudes democráticas podem existir em todos aqueles que se empenharem no caminho do crescimento interior. Acontece que elas não são fáceis de serem conquistadas e nem se pode chegar a elas a não ser por meio de uma longa e persistente caminhada. Não existem atalhos e o trajeto pode demorar anos. O caminho é, por vezes, penoso mas ainda assim fascinante. Trata-se de uma densa viagem para dentro de nós mesmos, na direção do auto-conhecimento.

14. Quando estamos prontos, o parceiro adequado acaba se mostrando diante de nossos olhos. Não precisamos nos esforçar, sair de nossas rotinas de vida e buscar ativamente o encontro amoroso. Tudo irá acontecer quando for chegada a hora e sempre é bom ter paciência, já que esperar com serenidade é uma das condições mais difíceis de vivenciarmos.

15. Se tudo isso lhe pareceu muito racional, lógico e frio, engano seu. Todos esses passos vão nos acontecendo sob a forma de emoções e vivências que se dão espontaneamente, sendo que as reflexões deverão servir apenas de roteiro para que não nos sintamos tão perdidos. Desde a adolescência experimentamos vários tipos de relacionamentos e deveremos ir aprendendo a entender tudo o que está nos acontecendo e todas as nossas ações e reações. Primeiro vivenciamos e depois devemos refletir sobre o que aconteceu. Assim, não existe real antagonismo entre emoções e razão; uma complementa a outra. Reflexões adequadas e consistentes determinam avanços emocionais, que permitem reflexões mais sofisticadas, geradoras de avanços emocionais ainda maiores, e assim por diante. Estabelece-se um círculo virtuoso que deverá criar condições de felicidade sentimental para todos aqueles que seempenharem realmente na rota do crescimento emocional. A felicidade sentimental é a recompensa acessível a todos os que completarem o ciclo mínimo de evolução emocional.




Artigo original, escrito em 3 de agosto de 2002.


Flávio Gikovate.