terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ateu, graças a Deus!

Sempre fui ateu. Hoje tenho mais certeza do que nunca.
Em casa fomos educados para ter razoável opção de escolha. Quando havia aula de religião, que não era obrigatória, minha mãe dizia às diretoras: "Se ele não quiser ir ele não vai.".

Como diz o biólogo Richard Dawkins, "não existe criança judia, criança católica, criança heterossexual e outros, apenas criança". Aliás ele prega uma ausência de educação religiosa, pois alega que você deve escolher a sua religião quando tiver ferramentas intelectuais para tanto.
Mas como deixariam de massacrar as crianças?
Se esperarem as pobres coitadas terem discernimento para escolher, elas nunca escolheriam crer em Deus e muito menos ter religião.

Sempre "respeitei" as religiões, mas há alguns anos declarei guerra (a minha jihad - segundo o profeta Muhhamad, jihad é uma luta do indivíduo consigo mesmo, pelo domínio da alma) a elas.

Primeiro porque elas nunca me respeitaram. Constantemente fui obrigado a engolir calado as "reencarnações", "vai com Deus", "se Deus quiser", "ore muito" e por aí vai. Claro que muitas vezes são apenas expressões linguísticas, que aliás, são propositalmente mal interpretadas pelos teístas (ou jornalistas de quinta) quando um cientista as utiliza, ou a algum conceito qualquer quando se referem a Deus.

Segundo porque respeitar não significa engolir calado e não questionar.

Por fim, ser ateu é pior do que ser um tuberculoso (pelo menos a eles cabia algum charme durante o Romantismo), leproso ou junkie.
Temos a delegacia da mulher, estatuto da criança, estatuto do idoso, cotas raciais e por aí vai. Também quero o estatuto do ateu.
Nesse país, a discriminação e a segregação é institucionalizada por supostas leis de proteção.

Mr. Dawkins me estimulou a não engolir mais essas bobagens.
Seu livro "Deus, um delírio" é uma delícia de ler. Chega a ser cômico. Eu desafio qualquer teísta a lê-lo.
   
Menos agressivo mas tão bom quanto posso citar "Um mundo assolado pelos demônios" de Carl Sagan (um ateu convicto, apesar de sempre evitar atritos) e dele também "Variedades da Experiência Científica".
Ah! Apenas pra constar, ele e sua esposa Ann Druyan, escreveram vários manifestos em prol da não criminalização do aborto, mas isso fica pra outro dia.

A maior parte das pessoas teístas que conheço não me parecem de fato crédulas. Parece que sofrem de algum tipo de esquizofrenia religiosa, onde "Deus" é o grande big brother e eles dizem que crêem "por via das dúvidas".

No início do século XX, Freud "curava" cegos e fazia paraplégicos andarem em conferências médicas.
Não, ele não invocava milagres divinos. Ele apenas "eliminava" alguma neurose complexa (os gregos usavam a palavra histeria), ou seja, alterações na psique que se manifestam em alterações físicas.
A Igreja Universal faz igual, apenas troca uma psicose qualquer por uma outra chamada "Deus".

Quanto à religião, abomino todas.
Atualmente a que mais abomino é o espiritismo.
Os espíritas são uma espécie de "loucos mansos" que tentam "cientificar" essa abóbora colossal (provavelmente o Sr. Hippolyte Léon Denizard Rivail usou o pseudônimo de Alan Kardec quando quis escrever comédias).
Das pessoas de várias religiões que conheço são possivelmente os mais antiéticos e asquerosos.
Não vou entrar em discussões sobre a ética de Aristóteles pois não tenho cacife pra isso, mas vou ser mais popular: Gandhi e Krishnamurti diziam basicamente a mesma coisa: "Quem tem mais do que precisa é no fundo um ladrão".
Por favor, "o quanto" é "quanto se precisa"? Não sejamos idiotas. Não vou discutir sobre consumismo, signos etc. Quem sabe outro dia.

Voltando a Deus, alguns amigos mais esclarecidos às vezes dizem que não se pode provar que Deus não existe, ou então, que não acreditar em Deus é um ato de fé da mesma maneira.

Não sei aonde querem chegar.
Até a pouco tempo atrás não se podia provar que a Lua não era feita de queijo. Mas evidências e as possibilidades não apontavam isso, e hoje sabemos que elas estavam corretas. Já falei sobre evidências em outro post.
   
O fato do não se provar algo, não abre caminho para a parte contrária.
O ônus da prova cabe a quem afirma a sua existência e as evidências e a lógica apontam claramente para o contrário.

Bobagens filosóficas à parte, acho que a estatística e a lógica são menos condescendentes.
   
Perdoem-me amigos crédulos, vocês já sabem a minha opinião, crer em Deus é apenas uma dificuldade intelectual ou problema psiquiátrico.
Se eu estivesse ouvindo vozes, falando sozinho e vendo coisas, me dariam altas doses de Haldol e uma camisa de força.

Deus esteve sempre onde nossa ignorância permitiu.
A Terra já foi plana porque Deus criou assim. Foi redonda e o centro do universo porque Deus criou assim. Não era tão redonda assim e não era o centro do sistema solar, mas o sistema solar era o centro do universo, mas ops, Deus criou assim. Não era mais tão redonda, nosso sistema planetário estava na periferia da galáxia, mas nos enganamos das outras vezes, de fato, Deus criou assim.
Estamos num sistema planetário medíocre, rodeando uma estrela medíocre, nos confins de uma galáxia mais medíocre ainda e ultimamente, talvez o nosso universo seja um em muitos no multiverso.

Não precisamos de Deus e religiões para termos ética e moral adequada para uma vida decente em uma possível sociedade justa e cooperativa.
Mas talvez alguns precisem de Deus para ser seu cúmplice em ações, que apesar de legalmente aceitas, são eticamente questionáveis e moralmente decreptas, e assim, terem a quem os perdôe quando doam aquela ridícula cesta básica a sei lá quem.

Seja sincero, não é engraçado:

  • "No tempo dos ancestrais, um homem nasceu de uma mãe virgem, sem nenhum pai biológico envolvido.
  • O mesmo homem sem pai clamou a um amigo chamado Lázaro, que estava morto havia tempo bastante para cheirar mal, e Lázaro imediatamente voltou à vida.
  • O próprio homem sem pai voltou à vida depois de morto e enterrado.
  • Quarenta dias depois, o homem sem pai subiu ao topo de uma montanha e depois desapareceu no céu.
  • Se você murmurar coisas dentro de sua cabeça, o homem sem pai, e seu "pai" (que também é ele mesmo), ouvirá seus pensamentos e pode tomar providências em relação a elas. Ele é capaz de ouvir simultaneamente os pensamentos de todas as pessoas do mundo.
  • Se você faz alguma coisa ruim, ou alguma coisa boa, o mesmo homem sem pai tudo vê, mesmo que ninguém mais veja. Você pode ser recompensado ou punido, inclusive depois de sua morte.
  • A mãe virgem do homem sem pai nunca morreu, mas "foi transportada" corporeamente para o céu.
  • Pão e vinho, se abençoados por um padre (que precisa ter testículos), "transformam-se" no corpo e no sangue do homem sem pai." - Richard Dawkins - Biólogo Evolucionista
Por que o Curupira, a Fada dos Dentes e o Saci-Pererê são menos verdade que o seu Deus (seja lá qual dos trezentos mil existentes)?

Não rio mais disso. Me entristece e me deprime. Nunca criaria um filho num mundo onde a grande maioria se apoia nessa estupidez.

   
   

    "Se descobrirmos que Deus existe, não acho que ele seja mau. Mas a pior coisa que se pode dizer dele é que, basicamente, ele é um desperdício de potencial." - Woody Allen

9 comentários:

  1. Caixa de comentários, finalmente, graças a deus! :)) Brincadeirinha.
    Acho que a fé, desse modo que imagino que vc tenha colocado em questão, pode ser frequentemente triste, mas também é engraçada. E há o risco de se ser dogmático (religioso, mesmo) em relação à ciência. Muita gente faz isso.

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  2. Pô, sou novo na bagaça! Agora resta saber se na moderação existe uma maneira mais adequada de responder um comentário... hehe

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  3. te descobri por aí.

    sei la, cara. pelo menos os espíritas que eu conheço costumam ser, pelo contrario, pessoas muito mais tolerantes que as outras. se vc disser pra elas, por exemplo, que fulano é gay, elas não vão começar um discurso sobre pecado , doença , escolha ou higiene. vão, no maximo, a falar sobre resgate carmico e tentativa de evolução, e amor em vidas passdas. o que eu acho digno.

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  4. Rayssa, estamos todos "por aí"... rs

    Sim o espiritismo tem esse ar tolerante e cientificista.
    Possivelmente dirão que o sujeito é gay pois seu espírito ainda não evoluiu, o que é preconceituoso de qualquer modo.

    Esse utilitarismo "deles" é o pior. Nunca vi mais pessoas materialistas do que os espíritas (antagônico e engraçado). Me parece uma versão moderna do calvinismo...

    Mas ok, não posso generalizar.

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  5. Gostei muito de seu texto!

    Também não tenho religião,
    e fiz recentemente um curso em um centro espírita e até gostei.
    Gostei porque procuro Fé,
    não em dogmas,
    irracionalidades,
    religiões que dividem a Humanidade,
    criam guerras, benzem canhões, limitam...
    mas Fé no ser humano, manja?!
    Ali conheci pessoas idealistas,
    que pregam o Bem, a solidariedade,
    e a aceitação do diferente,
    claro que um punhado de bobagens junto,
    mas quem não as diz?
    Foram os melhores até aqui.
    Depois me levaram numa das muitas vertentes do budismo,
    e gostei também.
    Passei a aceitar que o ser humano precisa disso.
    E que se não se prova que Deus existe,
    não se prova que não existe.
    Abraços

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  6. Olá Lúcia e obrigado pela visita!

    Não creio que o ser humano precise disso, apenas é algo sedutor e reconfortante.

    Mas repito que cabe a quem afirma o ônus da prova.

    Sobre "precisar", se tiver oportunidade leia o último capítulo de "Billions and billions" de Carl Sagan. Postarei sobre ele qualquer dia.

    Abs

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  7. Há no youtube uns videos de um programa americano chamado "The Atheist Experience", tem até alguns legendados. Hilário. O programa é o seguinte: dois ateus recebem ligações de pessoas religiosas(tipo,99,9% de pessoas da fé cristã) em que estas tratam de provar que Deus existe. Se não conhece ainda, go check it out. É muuuuuuito bom. Até um paulista apareceu por lá, no grupo dos ateus, por telefone.Bye

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  8. belo post, muito bem escrito.

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