segunda-feira, 19 de maio de 2014

Ouvir é uma arte e um carinho

Há um tempo postei sobre ouvir na atualidade.
O Alex Castro postou hoje de maneira um pouco mais "romântica" sobre isso.

Minha companheira é deficiente auditiva.
Uma perda moderada que compromete a discriminação vocal.
Estávamos falando justamente sobre isso, ou seja, que ouvir é uma arte e um ato de carinho.
Eu sou surdo para um russo.
Eu tenho que querer entendê-lo antes de mais nada. Friso: querer entendê-lo.
O ato importante é que eu me importo em querer saber aquilo que ele quer dizer.

Num mundo impessoal, narcisista e repleto de "verdades", ouvir é uma qualidade rara.
Ouvir é colocar seu tempo - a única coisa que de fato não pode ser comprada, alugada, roubada, emprestada ou recuperada - à disposição do outro e acima de tudo dar atenção.

Para ouvir é necessário desejo mais do que bons ouvidos.
O cérebro, que é de fato o órgão que ouve, já que o ouvido é um transdutor ou interface entre as ondas mecânicas e a bioquímica neuro cognitiva, acumula funções culturais e emocionais relativas a audição, portanto, para ouvir temos que ter capacidade intelectual e boa vontade.

O normal atualmente é que a ansiedade em expôr a "própria verdade" acabe com essa troca, e aí, ficamos surdos.

Assim como queremos mostrar desesperadamente as fotos de família de comercial de margarina passeando na Disney nas toscas redes (anti)sociais, não ouvir permite que se exerça o marketing pessoal da propaganda do quão fina é a nossa nova TV, das maravilhas do novo tablet que faz 'plim', ou ainda o como somos letrados em determinado assunto.

Gostei de ler exatamente hoje de alguém mais 'letrado' na arte da poesia e do romance este tópico tão em voga por aqui, no meu buraco.
É sempre um bom sinal que alguém, ainda que poucos, se importa em ouvir com atenção, paciência e sem viés moral ou julgamentos desqualificados.

Se fosse há uns bons anos atrás eu diria que era sincronicidade.
Que importa.
O que importa é que existem ainda alguns poucos ouvintes no mundo.



segunda-feira, 12 de maio de 2014

Metal on the Wall Street

Estava prestes a compilar umas coisas sobre Heavy Metal, catarse e violência.
Violência ritualizada, controlada.

escrevi meu desabafo e depois de ler o que vem a seguir talvez não precise mais.

Meus amigos metaleiros quarentões, cinquentões e os moleques de bom gosto, estamos no Wall Street Journal!

Leiam o bom comentário/tradução na matéria "Heavy Metal pode ser uma coisa boa pra você".

Foto/ilustração retirada do wikimetal.
Gatófilos vejam mais aqui.

domingo, 4 de maio de 2014

Eu não tenho preguiça!

Ouço com frequência a expressão "eu não tenho preguiça".
Nada mais falacioso e hipócrita. A mais pura herança da educação cristã em ação.

Todos temos preguiça alguma vez ou para algumas coisas.
Mas essa doutrina do trabalho corporativo parece que fez mais um mal, o da 'hiperhipocrisia'.
Associada à eterna vergonha do brasileiro em trabalhar (pesquise que isso vem desde a colonização), juntou-se o inútil ao desagradável.

O trabalho corporativo é o único aceitável, pois dá uma sensação de engajamento num grupo, status e um local de desfile de sorrisos facebook (aquele mesmo que às vezes você faz ao seu vizinho).

Com isso ninguém faz mais nada, desde cozinhar até um garage work (como dizem os norte americanos). As desculpas são as mais variadas, mas no fundo é preguiça e a vergonha de qualquer atividade não corporativa (a que justificaria, com suposta dignidade, a ação de trabalhar).

O preço pago é mais alto que os das bugigangas inúteis e que você não precisa, comprados para compensar a frustração de uma vida que se perde por entre os dedos.

Come-se mal em casa, come-se mal fora de casa (ou page-se um absurdo por isso), fica-se cada vez mais sedentário, perde-se criatividade, perde-se prazer em realizar algo manualmente e perde-se a oportunidade de aprender mais alguma coisa.

A alegria das corporações.
Um sujeito cheio de dogmas, escravo, estúpido, inútil e consumista.
Inútil?! Na grandiosidade da palavra, para ser um bom empregado você precisa antes de mais nada ser mediano e cumprir estritamente o que te pedem. Balela essa de pró-ativo.

Ser mediano é não ser muito ruim e nem ser muito brilhante, ou seja, é ser medíocre, não ameaçar ninguém e ser polido.
Como disse Bruce Dickinson (Iron Maiden): "qualquer macaco pode ter MBA".
Ri muito com seu desabafo na Campus Parti pois sempre disse o mesmo com a área que trabalho: qualquer símio hoje faz um software.

Segundo recentes estudos sobre a plasticidade do cérebro, algumas partes do mesmo só se "exercitam" quando se faz trabalhos manuais, portanto, o dito 'trabalho intelectual' é mais uma bobagem para desvalorizar os artesãos e trabalhadores braçais, além do mais, serve como alerta pro seu filho gordo jogando videogame.

Estou com preguiça de desenvolver mais esse texto.
Einstein estava com preguiça em sua mesma no escritório de patentes quando pensou na relatividade.

Mas você meu caro e estimado trabalhador, você não tem preguiça.
A hipocrisia e o medo realmente são marcas registradas da sociedade atual.