Há um tempo postei sobre ouvir na atualidade.
O Alex Castro postou hoje de maneira um pouco mais "romântica" sobre isso.
Minha companheira é deficiente auditiva.
Uma perda moderada que compromete a discriminação vocal.
Estávamos falando justamente sobre isso, ou seja, que ouvir é uma arte e um ato de carinho.
Eu sou surdo para um russo.
Eu tenho que querer entendê-lo antes de mais nada. Friso: querer entendê-lo.
O ato importante é que eu me importo em querer saber aquilo que ele quer dizer.
Num mundo impessoal, narcisista e repleto de "verdades", ouvir é uma qualidade rara.
Ouvir é colocar seu tempo - a única coisa que de fato não pode ser comprada, alugada, roubada, emprestada ou recuperada - à disposição do outro e acima de tudo dar atenção.
Para ouvir é necessário desejo mais do que bons ouvidos.
O cérebro, que é de fato o órgão que ouve, já que o ouvido é um transdutor ou interface entre as ondas mecânicas e a bioquímica neuro cognitiva, acumula funções culturais e emocionais relativas a audição, portanto, para ouvir temos que ter capacidade intelectual e boa vontade.
O normal atualmente é que a ansiedade em expôr a "própria verdade" acabe com essa troca, e aí, ficamos surdos.
Assim como queremos mostrar desesperadamente as fotos de família de comercial de margarina passeando na Disney nas toscas redes (anti)sociais, não ouvir permite que se exerça o marketing pessoal da propaganda do quão fina é a nossa nova TV, das maravilhas do novo tablet que faz 'plim', ou ainda o como somos letrados em determinado assunto.
Gostei de ler exatamente hoje de alguém mais 'letrado' na arte da poesia e do romance este tópico tão em voga por aqui, no meu buraco.
É sempre um bom sinal que alguém, ainda que poucos, se importa em ouvir com atenção, paciência e sem viés moral ou julgamentos desqualificados.
Se fosse há uns bons anos atrás eu diria que era sincronicidade.
Que importa.
O que importa é que existem ainda alguns poucos ouvintes no mundo.
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