Há uns dias atrás junto com um velho amigo, relembrava nossa juventude nos anos 80, quando descobrimos o heavy metal.
Era 1983, 12 para 13 anos, quando ele chega com um EP (é um LP pequeno com menos músicas) desconcertantemente agressivo para a época, o Maden Japan do Iron Maiden.
As coisas chegavam por aqui com um ou dois anos de atraso mas fomos arrebatados pela música, estilo e claro, nessa mistura, o contestador e anárquico conteúdo.
Logo depois ele apareceu com o Piece of Mind, também do Iron Maiden, quando juntamos com o British Steel do Judas Priest de outro amigo, o Gratest Hits do Queen (ok, não é metal, mas como diz a música, "os metaleiros também amam" - e como podemos ver, tem senso de humor - além disso fazem parte da pré-história do metal) e o Crusader de Saxon meus e por fim, mas sendo só o começo, o Metal Health do Quiot Riot de um outro.
Devorávamos o que aparecia e juntávamos todas os parcos trocados para correr atrás de material novo e se possível importado (as prensagens de bolachão de rock no Brasil eram bastante precarias).
Iron Maiden, Judas Priest e Saxon foram os detonadores, e apartir daí Whitesnake, Van Halen, AC DC, Twisted Sister, Kiss e por aí vai.
Posteriormente esse caldo nos remeteu às origens e as variantes do bom rock e daí foram lotes de Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath, Pink Floyd, Rush, Who, Cream, Secos & Molhados, Jethro Tull, Mutantes, Hendrix, Plebe Rude e zilhões de outras coisas. Claro que jazz e blues mais tarde seriam inevitáveis.
Gravávamos algumas coisas em K7 e levávamos para dentro da sala de aula, mas os "anarquistas" que botavam fogo na lanchonete, roubavam pilhas nos mercados e saiam na porrada de vez em quando, no fim, respeitavam bastante os professores, não matavam os pais e nem uns aos outros.
No fim da história, ou melhor, do início pro meio dela, olhando nossos amigos, fomos nós que os professores e diretores mais gostavam e fomos os que, de um jeito ou de outro, criamos algo diferente do padrão pra vida.
O buraco musical dos anos 90 e início dos anos 2000 pareceu enterrar o heavy metal (glam metal e nu metal foram vertentes bastante amaldiçoadas por nós), mas os quarentões não se rendem tão facilmente e influenciando uma nova geração que não sucumbiu as mediocridades das divas e dos astros mauricinhos, resgataram seus heróis e junto com eles uma nova leva de grupos promissores aparecem nos últimos anos.
Como lembra o antropólogo Sam Dunn, a cultura heavy metal continua sendo a cultura dos excluídos.
Outro velho amigo brincou dizendo que somos velhos patéticos ouvindo música clássica.
De fato, nossos ídolos passaram para o "clássico", mas como não deixar de comparar duas ou três gerações que contestavam uma série de coisas para outras cujo máximo da rebeldia é comprar ipod's, usar anel de compromisso e fazer promessas de casamentos puros (sim, virgens!)?!
Fico feliz em ver que nossas escolhas foram boas o bastante para sobreviver à história. Fico feliz em ter sido um adolescente que descobriu isso bem naquela época.
O nascimento do heavy metal nos subúrbios industriais londrinos e sua adoção quase instantânea na região do ABC paulista, na época, um subúrbio metalúrgico de São Paulo.
É divertido ver em que irmandade se tornou o heavy metal e suas vertentes.
É gostoso ver os sessentões ou setentões cuspindo sangue e voando por cima da platéia ainda ou simplesmente vestindo um jeans e uma camiseta, fazerem uma música consistente e de qualidade, enchendo locais com gente de todas as idades.
Por outro, foi deprimente ver o que algumas bandas se tornaram ao entrar pro mundo dos contratos milionários. É difícil ver alguma dessas bandas manter o espírito do rock e principalmente do heavy.
Dee Snider do Twisted Sister reconheceu que é complicado fazer um som agressivo e de protesto quando se mora numa mansão, o que nos remete a Lacan que diz que a angústia é a única fonte de criação.
Seja como for, parodiando o pequeno-grande Ronnie James Dio (aliás o inventor do tal símbolo "manual" do heavy metal), "long live rock'n roll"!
E que meus amigos não fiquem surdos nem com cirrose para podermos celebrar etilicamente, mesmo que em cadeiras de rodas e com fraldões geriátricos, o bom e velho metal.
Up the irons!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário