quinta-feira, 15 de julho de 2010

Intelectuais, a elite do nada

Li um texto de um linguista e poeta (que eu supus ser o mesmo) chamado Carlos Vogt que me fez pensar na esquisitice desse mundo intelectual ultrapassado.

Ele crítica a ciência, em especial a Física moderna, que chama de física cântica (um trocadilho bem triste para um poeta).

Começa pela bobagem de dizer que a física nasceu com Aristóteles, com a obra Metafísica.
Se fosse o caso, poderíamos dizer que nasceu 3 séculos antes (de Aristóteles), na China, onde se estudava a "mecânica, matéria e suas interações".

E continuando as suas citações, bem fundadas eu admito, acaba na tradicional e vulgar análise que a física moderna quer "unificar tudo apesar da dualidade com que foi exposta pelas teorias quânticas e pela relatividade especial".

No meio do caminho cita Einsten e Infeld em The Evolution of Physics num provável equívoco de interpretação e uma demonstração clara de ignorância do assunto, onde a importância dos "campos" são superiores ao da matéria que a circunda.
Rebaixa ainda Capra e Hawkins a físicos que misturam mito e misticismo.

Capra não recorre ao misticismo nem ao mito, mas abre espaço para que se possa discutir a ciência de maneira não Iluminista, sabendo muito bem não misturar alhos com bugalhos.
O "campo" a que se refere (junto com outros físicos modernos) é a interação, o que assumidamente é tido como uma mudança de paradigma social e não só da ciência.

Se a ciência (como ainda a interpretam) é cartesiana, é enquadrada no mecanicismo cartesiano, e se ela discute filosofia oriental, por exemplo, é acusada de apelar ao misticismo.
Me parece faltar conhecimento (e divulgação, já que o jornalismo científico é uma catástrofe) sobre por onde andam as Novas Ciências da Vida (Capra) e até mesmo a matemática.

A própria matemática tem mecanismos de "solução" não determinista, ou não Euclidianos.

Também é importante dizer que não é unanimidade na física moderna a tal teoria da unificação e muito menos, de crer que uma teoria possa ser estendida a "todo o universo".

O texto é antigo (2001 - nem sei como fui achar) e bom, como é de se esperar em um expert em língua e literatura, mas se encaixa na minha idéia de como esse "regionalismo acadêmico" faz mal ao conhecimento (de fato a porcaria de site deixou de ser atualizado em 2005).

Mas texto ou interpretações à parte, desde o início do colegial acho patético esse maniqueísmo de exatas ou humanas, corpo e mente, etc. 
Esse "regionalismo" em que um "acadêmico" se afoga quando acha que a sua área é maravilhosa, vital, mais "complicada que outra" e é a origem de todo o conhecimento da humanidade.

Esses intelectuais sofrem do mesmo preconceito e dissociação que criticam no que acham que é a física moderna.

Com linguagem diferente, já ouvi o mesmo discurso de como a linguística é a coisa mais importante do mundo, ou a filosofia, ou o direito, a engenharia, etc, etc, etc.
Discursos desgastados, enfadonhos e improdutivos.

Claro, todos muito bem escritos, repletos de citações e parágrafos poéticos e lúdicos.
Desfilam toda a cultura acumulada... e não criadora.

Robert Johnson, um bluseiro fantástico do início do século XX, fazia uma música maravilhosa. Para ele era fácil, mas para os "outros", ele fez  acordo com o diabo para para tocar tão bem o violão.

Sou um "nativo de exatas", poderia desfilar a bobagem de como a matemática é fantástica ou o quanto posso usar a física para explicar a vibração de uma corda, mas nunca poderia ter a pretensão de explicar como alguém, principalmente um lavrador ignorante, semi-letrado e que não sabia nada de teoria musical, transmite tanto conhecimento e emoção.

Estou muito longe de ser um acadêmico ou intelectual, nem faço apologia à ignorância, mas não posso crer que tratar qualquer forma de conhecimento como algo que se possa acumular e segmentar seja algo muito "inteligente".

Já citei, mas adoro: 
 "Por mais que estudes não saberás nada se não atuas.
Um asno carregado de livros não é um intelectual nem um homem sábio.
Vazio de essência, que conhecimento tem, leve sobre si livros ou lenha." - Saad Shafi (nunca consegui confirmar a autoria)





2 comentários:

  1. Bem... Aqui eu teria muita coisa a dizer, mas acho que seria infrutífero. Tenho horror a essa coisa do senso comum que se formou, de dizer "intelectual" como se fosse palavrão. Acho uma apologia da ignorância, aliás.
    O que é ser intelectual? De que intelectual se está falando? De que circunstância? De que área? De que recorte/época/assunto?
    Em certa época, na Antiguidade grega, o ideal de homem era o filósofo. Na Roma antiga, o retórico (e, por extensão, o político). Na idade média, o trovador, talvez. No Renascimento, o poeta. No XVIII, o artista. No XIX e XX, o cientista. Todos intelectuais... Por que será que intelectual virou palavrão?!

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  2. Acho que intelectual (na minha opinião claro), em nossa época, diz respeito a um acadêmico especialista, que independente da área, tem o mesmo modo reducionita de ver as coisas dos físicos iluministas, e não estão dispostos a compartilhar/discutir o conhecimento com outras áreas, incluindo os "conhecedores práticos".

    Mas no fim, sou uma besta idealista que acha que as coisas deveriam convergir para alguma espécie de bem comum, seja lá o que isso possa significar em termos gerais.

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