segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dadas as circustâncias


Há alguns anos estamos vivendo há possibilidade de alterar nosso próprio destino genético, mesmo que ainda de forma sutil.

Em poucas décadas, ou talvez anos, estaremos aptos a alterar nossa curva evolutiva, modificando as capacidades de nossos filhos (os seus, eu tô fora!).
Como aconteceu com a cirurgia plástica, imagine uma geração de pessoas "pasteurizadas", "normalizadas", supostamente, melhoradas.

E o pior, a genética como forma de segregação.
Pessoas com capacicades físicas melhoradas, mais memória e sei lá mais o que, separadas pelo alcance enconômico de quem pode bancar tais modificações.

Quer queiram ou não, certas capacidades de "hardware" são inquestionáveis e poderão ser modificadas em futuro próximo.

Apenas não creio que isso seja necessariamente bom, e pelo contrário, me parece assustadoramente ruim.

Hoje é fácil encontrar GH contrabandeado, e muitos pais - não só os fisiculturistas - optam por essa forma de controlar a altura dos seus filhos. Se a biotecnologia for simplesmente proibida, adivinhem que espécie de contrabando teremos.

Acho que não estamos preparados culturalmente para tais poderes.
Não conseguimos nem sequer viver em grupo.

Os metamateriais podem ser outra coisa "estranha".
Atualmente se consegue curvar certas frequências de luz, ou seja, quando essa onda eletromagnética for "obstruida" por esse material, ela retorna à sua forma original após ultrapassá-lo, ou seja, como se nada a tivesse obstruido. Se essas ondas estivessem dentro do espectro visível, o que estivesse "vestindo" esse material seria invisível.

Essas possibilidades mexem com nossa moral, e põe em evidência qual o percentual de nós é genética, qual é cultura e qual é bioquímica.

Toda esse "sopa" do que sou "eu", não é muito bem definida, de qualquer modo, nem muito importante se os resultados são pavorosos.
Eu creio que somos como uma cebola, cheios de camadas com complexas interações e muitas vezes inacessíveis a nós mesmos.

Veja o computador que você usa.
A cada "boot" um nascimento.
Ele vem com uma carga "genética" pré-programada (o instruction set do processador), que ao ser ligado, vai buscar algumas informações na "primeira infância" (a BIOS), sua segunda camada. A seguir ele busca a terceira camada na sua "educação formal inicial" (as primeiras camadas do sistema operacional no HD) algumas formas de entender outras coisas por si mesmo.
A seguir, mais camadas são sucessivamente sobrepostas conforme o sistema operacional em questão e os demais softwares.

Não sou reducionista a ponto de achar que "evoluímos" da mesma forma, apenas acho um modo levemente análogo de tentar entender essa "sopa de eu".

Talvez a diferença entre nossa conciência e a dos sistemas lineares seja que nossas camadas são interligadas de multiplas formas, com dimensões dinâmicas no decorrer da vida, algumas escondidas, criadas por nós mesmos.
O inconsciente psicanálítico talvez apenas tenha uma deficiência linguística da palavra, já que ele faz parte desse "eu", mesmo que algumas vezes deliberadamente ocultado sobre algumas outras camadas.

Enfim, essas "maravilhas" modernas não resolverão alguns "probleminhas" de convívio que temos, e creio que até piorará nossa precária dinâmica social.
 
Um pouco assustador. 

4 comentários:

  1. lembre muito de Gataca lendo esse post. ja assistiu? trata justamente disso e é com a Uma Thruman. :)

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  2. Acho que nunca estaremos preparados, como humanidade, de modo geral, para coisa alguma. As mudanças vão ocorrendo e se estabelece uma relação dialógica entre homem e circunstância, que gera novas mudanças, que gera outras circunstâncias e por aí vai, sem tempo pra ensaio nem "lição de casa". Tudo vai ocorrendo simultaneamente, e assim as relações entre os homens e as coisas do mundo vão se construindo.
    É marromeno como dizia o jagunço Riobaldo, em Grande Sertao Veredas: "Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo".

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  3. Opa Malva, pode crer, mas algumas coisas não aprendemos ainda e elas me parecem necessárias para a vida em grupo.

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