segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Época esclarecedora

Não voto há um bom tempo.
Não é nenhuma forma de protesto, apenas não acredito que vivemos numa democracia (vivemos a ditadura do 'M'ercado, onde os candidatos devem ser aprovados por 'E'le e tê-'L'o como sua discussão principal) e, principalmente, que votar é talvez a menor das características das democracias participativas.

Lembremos que a democracia grega, a nossa fonte de inspiração, era altamente classista com relação a quem participava das decisões.

Mas a questão principal aqui é que nessa eleição finalmente paramos com a hipocrisia.
O 'brasileiro cordial' (quem acha que isso é um elogio deveria urgentemente ler Sérgio Buarque de Holanda) finalmente se decide aberta e descaradamente pelo sexista, truculento, preconceituoso, homofóbico, moralista... claro, poderia dizer que tudo decorrente da completa ignorância, mas entre Rousseau e Hobbes, já que nascemos todos amorais, fico com o último, pois afinal é aonde estamos agora, então parece que a ignorância não basta mais como perdão.



Em outras eleições (nesta também) havia certas 'nuances', 'disfarces' e desculpas (não que agora não exista o PT como boa desculpa para se optar pelo mal, no sentido mais clássico) para se votar nesse ou naquele, mas agora foi tudo bastante descarado.

 O "bons homens de pulso" que através da história sempre vem "contra tudo isso que está aí".

O Brasil vira um "experimento de Milgram" em grande escala, sem nenhuma sofisticação de Hannah Arendt na "Banalidade do mal". 

O grande eleitorado deixa de lado a hipocrisia tradicional e parte para reconhecer a si mesmo.

É o seu "bom" vizinho que lhe cumprimenta diariamente, seu "bom" amigo que te paga uma cerveja, seu "bom" primão que sempre te visita, etc, etc.

O mal é o sinistro elemento disfarçado do "bom elemento"; é a certeza ante à dúvida; é o "pulso" ante o diálogo; é a "boa energia" ou a "vibe" ecoando a antiga "boa aparência"; é o moralismo se passando por moral... enfim, agora ficou mais tranquilo em simplesmente não querer mais me relacionar com pessoas que, por questões de história afetiva, ainda mantinha algum vínculo mas tinha sérias preocupações a cerca da sua humanidade.

Sim, humanidade.
Não resta mais nada de defensável em boa parte dos brasileiros (não que seja nossa exclusividade, mas são desses "irmãos" a que esse desabafo se refere).

Eles simplesmente optaram sem o véu ou desculpa da ignorância (no pior aspecto do ignorar) pelas piores faces da (não) humanidade.

Mas como eu disse, épocas sinistras e deprimentes vem para alguma transformação, ainda que seja uma calamidade histórica e vergonhosa ao menos agora tenho certeza de quem me cerca.




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