sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ah se Deus existisse...

Cansado de deixar rodar as milhares de músicas no micro, fui caçar um DVD pra ver.
Sempre gostei de música como ouvinte e não como ruído de fundo, aquela coisa CCDB de ser.
E sempre preferi os originais, com encarte completo e tudo, mesmo porque, MP3 é uma técnica de compressão bem precária (qualquer dia explico melhor) e por algumas questões éticas.

Mas voltando ao DVD, peguei um show do mestre BB King. Se você quer 'sentir', aí tem que ser blues.

Em um post antigo já havia citado o filme Into the Night (dirigido por John Landis), e foi com ele que descobri o blues.
No auge da minha "metalice", lá por 1985 ou 86 com então 15 anos, fiquei perplexo com aquela música e aquela voz, precisava saber urgentemente quem era (e não tínhamos internet, no máximo BBS).

A partir daí todos os acordes do blues seriam minha companhia em vários momentos.

De Robert Johnson a Memphis Slim, de BB a Clapton, de Bo Diddley a Hendrix (sim meus caros jovens, o Sr James Marshall Hendrix antes de tudo era um blues man), de Bessie Smith a Etta James, e continuo a descobrir.

Pra quem começa eu sugiro ler o ótimo "B. B. King - Corpo e alma do blues" de David Ritz, que conviveu mais de um ano com BB para escrever esse livro. E também "Crossroads - A vida e a obra de Eric Clapton" de Michael Schumacher. Mais específico e completo consulte "Nothing but the blues" de Lawrence Cohn.

Alguns amigos achavam que o blues é "uma música triste" ou "depressiva" (essa é tosca), mas faço minhas as palavras do legendário John Lee Hooker: "Se você está triste, isso é o blues. Se você está alegre e quer dançar a noite toda isso também é o blues".

"É, sem dúvida, o gênero musical mais apaixonante e complexo, pois nasceu na África, mas começou a florescer na América, às margens do século XX.
É herança viva daqueles que nasceram na pobreza, perseguidos e fazendo trabalhos duros, experimentando a partir de então o amor e a traição, a santidade e o pecado, o prazer e o desprendimento do sexo, a tragédia, o regozijo, a embriaguez, o desespero e a pura alegria.
É o blues." - Carlos Tena.

Segundo Leroy Jones, narrador e poeta negro norte-americano, é no "shout" (o grito libertador dos cantores negros) e no "holler" (gritar ou maneira de cantar) que estão as raízes do blues, cuja algumas descrições datam de 1745 ("Collecion of Voyages").

Postar sobre o blues, apesar da minha limitação intelectual, mereceria no mínimo uns dois meses de posts...

Sendo o único estilo com o mesmo status da música erudita, pode-se medir com a sua popularidade o grau surgimento de novas formas expressivas de música. Não é à toa que desde o início da década de 90, quando perdeu-se Stevie Ray Voughan, o último grande divulgador do blues, praticamente nada com real qualidade tenha surgido.

Um fato que acho no mínimo curioso, é que o amor no blues, não é exatamente o amor romântico burguês. Em geral, descreve-se amores passageiros, finitos, mas intensos. Algo bastante moderno e mais realista.
O romance de uma noite ou o de muitos anos (de fato qual a diferença?) é vivido com a mesma intensidade e com a sexualidade exercida sem moralismos.

Ao abandonar os grandes shows de rock, fui me refugiar nos pequenos de blues. Uma delícia!
E assistir à última lenda viva de sua época, mestre BB, é algo absurdamente emocionante, aliás, ouvir seu vibrato simples, inconfundível e quase falado já o é. Fácil desmanchar-se em lágrimas num mix confuso de emoções. Pronto, minha fama de mau foi por água abaixo.


Se Deus existisse, ele seria negro, gordo, saberia colher algodão, não seria brasileiro e sua mágica seria feita com um instrumento chamado Lucille, mas infelizmente para o meu egoísmo, serial mortal.

Deixo pra vocês onde tudo começou, ou o que disparou um novo começo.




7 comentários:

  1. Mucho bom momento musical sensei, eu tava precisando mesmo de uma fonte pra me guiar pelos caminhos do blues, é um estilo musical que sempre quis conhecer, mas há tanta coisa pra se ver que acabo esquecendo de pesquisar, seu post vai me manter lembrado.
    Música triste? Adoro músicas melancólicas. Ou furiosas.Sabe, tenho minhas inclinações musicais, e uma coisa que tem sido um desafio pra mim é conseguir uma fórmula matemática que gere melodias por si mesma, a partir de um gatilho, que se feche em um circulo. Complicado?
    Por sorte ou azar, já há uns bons anos, assisti no Jô Soares uma banda que dizia compor sua música na base da pura matemática, e fiquei feliz de não ser um highlander na minha loucura. Só que acabou sendo uma musiquinha de merda em que o vocalista só repetia "Onde foi parar meu pau?" ou qualquer variação do gênero.
    Bem enquanto a matemática não me resolve o problema, vou buscar nas fontes divinamente inspiradas como o do mestre BB.

    ResponderExcluir
  2. Apesar de gostar de vários gêneros, acho o que o blues é tudo!

    Experimente se aventurar mais na música. Acho que é um bom (apesar de difícil) caminho para os TDAH.

    ResponderExcluir
  3. Eu "lovo" BBKing. Não tive a sorte de assisti-lo ao vivo, mas quem sabe... Afinal, ele vive batendo o ponto por essas bandas.

    ResponderExcluir
  4. Estou começando a me interessar pelo gênero blues também, e como disse o próprio Coisa, de triste não há nada.
    Pena que "Onde foi parar meu pau" e outros megasucessos do YouTube como "Vai tomar no cú" é que imperam nos tempos atuais.

    ResponderExcluir
  5. "Since i met you baby", por exemplo, foi interpretada de vários modos diferentes pelo próprio BB King, sarcástica, angustiada, romântica ou triste, porque não.

    Pode ainda ser enérgico e virtuoso como Buddy Guy, sério como John Lee Hooker ou leve como Magic Slim.

    A beleza é que o blues é o sentir e não existe nenhum sentimento que é ruim ou bom.
    E ainda por cima sempre foi um gênero acessível, despretencioso e simples.

    ResponderExcluir
  6. O problema não está na crença da existência ou não de Deus, pois se existimos é porque algo nos criou. O problema está na natureza do criador. O Universo é infinito, portanto, nada pode criar o Infinito, uma vez que nada pode ser maior que ele. Então só nos resta uma alternativa: O próprio Universo é o criador. Mas como o Universo seria o próprio criador? Sabemos que tudo no Universo é regido por uma linguagem matemática. Hoje, os cientistas já sabem queo universo todo é permeado por uma energia. Eles a chamam de Energia Escura, porque não a vêem. Ora, uma Energia infinita e regida por uma linguagem matemática é uma Energia Inteligente. Logo, o próprio Universo é um campo infinito de energia inteligente, mas não Consciente, pois não faz sentido a existência de um ser que não conhece sua própria dimensão, já que é infinito (pelo menos, segundo Huberto Rohden esta forma de consciência que conhecemos). Esta teoria se encaixa na filosofia taoista que diz: Tao (o Universo Imanifesto, Deus) gera Ki (uma energia secundária já pertencente ao universo relativo), pois se divide em Yang e Yin e gera tudo que existe. É daí, talvez, que surgiu a frase “Deus criou o universo” traduzindo como Tao (o Universo Infinito) criou Ki (o universo relativo), somente assim ela faz sentido. E isso me leva ao conceito de que estamos dentro de um CHIP INFINITO, o Universo com todo seu mecanismo interno seria, portanto, um COMPUTADOR INFINITO, não manobrado por alguém de fora como no filme Matrix, mas manobrado por nós mesmos. Qualquer coisa que quisermos fazer podemos, desde que obedeçamos suas leis (manifestadas na matemática, física e química). Para quem quer se aprofundar neste assunto escrevi o livro O MITO DO DEUS PAI publicado pela EDITORA BIBLIOTECA 24X7 e que pode ser adquirido diretamente no SITE DA EDITORA ou na LIVRARIA CULTURA. Ele discute o Universo Inteligente, senhor de sua própria criação. Entretanto, este não é um livro materialista, pois mostra que somos quantidades ínfimas de energia gerada pela vibração da Inteligência Infinita até adquirimos consciência através das sucessivas reencarnações em corpos materiais até evoluirmos para Seres Superiores (Espíritos de Luz).
    Infelizmente, este é um assunto sobre o qual as pessoas se recusam a falar e até a pensar. Elas têm medo, horror mesmo do desconhecido e isso leva ao comodismo de aceitar as explicações burlescas dos religiosos inclusive de que quando se sofre é por que o deus pai gosta muito de nós e está nos pondo a prova para ver nossa o grau de nossa fé. Esta é a desculpa que os religiosos têm par justificar a miséria humana. Como psicanalista posso assegurar que esta é uma atitude de transferência dos nossos pais biológicos que nos protege quando criança para um pai mais poderoso que nos protegerá quando adultos. Recebi um E-mail que trazia uma lenda cherokee da iniciação de um jovem ao estado adulto. Nela ele ficava de olhos vendados a noite toda a mercê de toda sorte de perigos, mas ao acordar e tirar a venda dos olhos viu que seu pai estava ao lado dele o tempo todo. Comparava a mensagem a Deus nos protegendo. Respondi então: Se Deus está ao nosso lado, por que então ele não protege seus "filhos" como o pai do índio e evita tanta desgraça, tanto assassinato no meio do mundo.
    Pedro Cabral Cavalcanti – pcabralcavalcanti@gmail.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Em geral, resumo ao senso comum da existência de um Deus com atribuições e valores morais. Se os valores e a moral são puramente culturais e humanos, já desqualifica qualquer outra discussão a respeito do "criador".

      Mais do que mitos, a necessidade da religião e a crença no "sobrenatural" foi uma condição social (controle e opressão) e também está na própria evolução humana (de um cérebro que necessita 'personificar coisas', como no HADD - do inglês aparelho hiperativo de detecção do agente), ou seja, parece que um gen que nos favoreceu no passado nos trancou num mundo assolado pelos demonios (parodiando Carl Sagan), como sugere Scott Atran, Jesse Bering, David Bjorklund.

      Importante: até o momento, todas as evidência apontam para um universo FINITO e a energia escura ainda é especulação (também FINITA, para explicar alguns pequenos desvios gravitacionais em grandes conglomerados de galáxias).

      Outro fato que também deve ser levado em consideração em qualquer discussão é que não há evidências que sustentem que a inteligência (no sentido de consciência) e nem sequer a vida tem qualquer atributo especial no universo.

      Excluir