quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

I Am - mais um documentário que vale a pena

"Do diretor de "O Mentiroso", "O Professor Aloprado", "O Todo-poderoso" e "Ace Ventura: Um Detetive Diferente", chega um surpreendentemente poderoso e inspirador filme. I AM é a história de Tom Shadyac, um diretor de sucesso em Hollywood, que após um perigoso ferimento na cabeça e experimenta uma jornada para tentar descobrir e responder duas questões bem básicas: "O que está errado no mundo?" e "Que podemos fazer sobre isso?" Com uma equipe de quatro pessoas, Tom visita algumas das grandes mentes dos dias de hoje, incluindo escritores, poetas, professores líderes religiosos e cientistas (Howard Zinn, Lynn McTaggart, Desmond Tutu, Thom Harmann, Coleman Barks), buscando descobrir o fundamental problema endêmico que causa todos os outros problemas, refletindo simultaneamente em suas próprias escolhas de excesso, ambição e possível cura. E se a solução para os problemas do mundo estivesse bem na nossa frente o tempo todo?"






sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Outra visita ao UPA (SUS)

Há poucos dias levei a patroa há um UPA aqui na minha cidade.
Temos convênio mas essa não é a primeira vez que nós ou alguém da família apelamos ao UPA do SUS.

Quer saber, em ambas as cidades utilizadas não tenho grandes reclamações.
Uma muvuca como todo pronto atendimento. De fato o do convênio é um pouco mais limpo e organizado, porém mais cheio.

Quanto aos médicos sinceramente preferi do SUS, incluindo aí os cubanos e peruanos que foram gentilíssimos e tecnicamente não decepcionaram.
Nenhuma surpresa, os convênios (tirando um ou outro dos top) pagam valores ridículos aos médicos e quando tem equipe própria é até pior.
A equipe própria muitas vezes são de recém formados que não tem especialização clínica (sim existem exigências também para a clínica geral) e às vezes nem sequer podem pedir determinados exames (quando são caros muitas vezes também por pressão da administradora).

Toda vez que "visito" esses lugares fico observando e algumas vezes ouvindo as pessoas.
Esses pronto atendimentos em geral são locais de amparo a histéricos e carentes.
Não que eles não mereçam cuidados também, mas provocam um tumulto no lugar e fazem dos tratamentos de "apoio" um padrão até para os casos mais graves.

Em geral, manda-se o chiliquento pro soro às vezes acrescido de alguma bobagem quase inócua como Plasil, paracetamol ou outras meia dúzias de "semi-placebos".
O soro é pro cidadão ficar um tempo quietinho pra "baixar a bola" e achar que está seguro.

O problema é que como o sistema de apoio psicológico acaba virando praxe, quem estiver tendo um infarte poderá ter problemas (ou nenhum se morrer, já que nesse caso acabam-se todos os problemas - humor negro).

Outra coisa que torna o julgamento meio nublado, é o fato de estarmos passando mal (histeria ou não), portanto, acharemos tudo ruim de qualquer forma.

É óbvio que a abismos a serem transpassados no SUS, mas deveríamos colocar os holofotes em cima das empresas que praticam uma medicina nada ética (lembremos sempre que o lucro é ABSOLUTAMENTE incompatível com o humano) e dos profissionais que se utilizam dos sistema público como salário fácil (muitas vezes não cumprem seus horários) e locais para gordas comissões (seria chamado de corrupção, mas como é entre entidades privadas costumamos ser mais benevolentes) - olha o lucro operando aí de novo.

Um historiador que não me recordo o nome disse sabiamente a respeito da mentalidade brasileira: Corrupção é quando terceiros fazem negociatas e não me convidam, caso contrário é "comissão", "negócio", etc..
Ele também lembrou bem da carta de Caminha ao imperador, que a fecha com um pedido de emprego a um parente.

Não lembro a fonte. Se não gostou me processe.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Ah o verão!

Morar em uma cidade litorânea pequena é muito bom.
Exceto no fim de ano.

Passado a histeria de um dia como outro qualquer marcado como último dia de um ano de um calendário humano sem sentido, fico com pena da ressaca mental desses desequilibrados: promessas vazias, o retorno a uma realidade cruel, 364 outros dias sendo massacrado e explorado, fotos de hienas sorridentes nas redes (in)sociais, dívidas das quinquilharias inúteis acumuladas e tudo regado a uma esperança desesperada digna dos tolos.

Sol.
Praia.
Gente suada e barulhenta aglomerada.

Nada como passar trepando e lendo um bom livro no meu quarto com ar condicionado.

Feliz Ano Velho - Contardo Calligaris
Da Folha de São Paulo (1/1/15)

É um clichê, mas continua valendo: os anos passam e pouco muda, salvo o fato de que envelhecemos.
Em geral, não acredito nas datas. E daí que é dia 1º de janeiro? É apenas outro dia, mais um, depois de ontem –que por acaso era 31 de dezembro. É por isso que nunca me lembro dos aniversários, nem mesmo dos meus.

Quanto ao ano que começa hoje, só sei que haverá uma mudança: durante um mês, ao preencher cheques, tenderei a errar a data.
Como sugere o lindo título do livro de Marcelo Rubens Paiva, o ano novo já está velho antes de nascer.

Apesar disso, faço votos e tenho propósitos para o ano novo, como todo o mundo.
Ou seja, pareço acreditar (e apostar) numa renovação que estaria implícita ou especialmente desejável na mudança de data.
Natal, para mim, é uma festa de família restrita, como Páscoa, e já passei o Natal sozinho –gostei. A noite do dia 31 de dezembro, ao contrário, prefiro passá-la em companhia, mesmo que seja a companhia de desconhecidos –numa festa de rua, num bar, numa bagunça qualquer ou (aconteceu comigo uma vez) num trem (à meia-noite, houve festa).

Por que será que, na última hora do ano, prefiro estar em companhia?
Minha hipótese é que, no balanço final do ano que termina, na hora de contar as dificuldades, os erros e as tragédias, a lista na qual penso é, talvez antes de tudo, a dos impasses da vida coletiva.
Certo, vou me lembrar que naquele ano a natureza não foi clemente nem comigo nem com os humanos (tsunamis, incêndios, doenças, seca"¦). Também vou me lembrar de que, no meu pequeno universo íntimo, várias coisas deram errado (sei lá, divorciei, briguei). Mas é na vida coletiva que encontro a maior marca do fracasso.

2014? O surgimento do Estado Islâmico, as decapitações, a intolerância, o ódio contra as mulheres, o racismo, os emigrantes africanos afogados a caminho da Sicília, o separatismo dos russos da Ucrânia, a corrupção endêmica aqui e alhures, os 43 estudantes mexicanos sequestrados e assassinados pelo narcotráfico, as 132 crianças paquistanesas assassinadas pelo Talibã"¦ É isso que me vem, nessa ordem ou em outra.

Na reunião de fim de ano, que seja uma festa ou não, talvez eu queira reafirmar que, contra as aparências, é possível conviver. Na rua, num bar, na casa de um amigo, é como se quisesse celebrar a obstinação com a qual continuamos apostando que a vida em sociedade é possível –apostando que a barbárie não é um destino inevitável. Ou que, se tivermos mesmo que ir à barbárie, será nos agarrando em todos os postes que encontraremos no caminho, resistindo à maré.

É isso, a festa de fim de ano, para mim, é um jeito de celebrar a possibilidade de conviver. Pode ser assistindo a uma peça ou a um filme, pode ser num pequeno clube de jazz, pode ser na confusão de Times Square ou da Paulista.
Pode ser também numa igreja: tanto faz que Deus escute ou não, a reza vai valer por juntar os fiéis na vigília.

A minha celebração de AnoNovo, além de uma festinha com amigos no dia 31, será no dia 3, sábado, a partir das 14 horas. Se alguém estiver em Nova York, que apareça.
Na Washington Square (lado sul), há uma igreja, a Judson Memorial Church. A Judson organiza uma leitura em voz alta, do começo ao fim, de "Mal Estar na Civilização", o texto de Freud de 1929.
Entre outros, lerão o texto Elizabeth Rubin (grande repórter de zonas de guerra, esteve no Afeganistão, Chechênia, Paquistão, Iraque, Israel, nos territórios palestinos e por dois anos em Sarajevo, etc.), Simon Critchley (filósofo da ética pósmoderna), Michael Cunningham (o autor de "As Horas") e o rabino Andy Bachman.

A ideia é que o livro de Freud, sombrio e sem ilusões, tentando entender as dificuldades insurmontáveis da vida dos humanos em sociedade, talvez seja o texto que mais possa nos ajudar a resistir contra o pior.
Não sei se Freud acreditava mesmo que fosse possível uma sociedade em que um superego menos intolerante nos deixasse viver com menos culpa, mais prazer e mais tolerância pelo prazer do vizinho.

De qualquer forma, não se trata de concordar com Freud ou discordar dele. O que importa é celebrar, com ele, nossa capacidade, humilde e desesperada, de entender quem somos e talvez de mudar um pouco o rumo de uma história cujo balanço anual não é (nunca) dos melhores.